O avião que protagonizou a aterragem de emergência no domingo, em Beja, pode não voltar a voar. A hipótese é admitida à Renascença pelo especialista Álvaro Neves, o perito português da Agência Europeia de Segurança na Aviação.

Está a decorrer a investigação para explicar o que se passou e, por isso, não se pode ainda falar de causas ligadas à manutenção de que o aparelho foi alvo na OGMA, em Alverca, mas Álvaro Neves não tem dúvidas de que esta é uma variável a ter em conta.

A partir da Alemanha, onde está a trabalhar, Álvaro Neves olha para o incidente que sobressaltou Portugal no domingo.

O avião, que saiu da manutenção, descolou em Alverca e seguia para Minsk, na Bielorrússia, mas algo correu mal. O avião ficou com os comandos descoordenados e será que foi da manutenção? O perito português diz que é preciso saber o caderno de encargos da manutenção, para verificar se foram abrangidos os comandos de voo.

O avião Embraer E190 acabou por aterrar em segurança em Beja. Por fora nada ficou danificado, no entanto, Álvaro Neves admite que o aparelho possa ter sofrido cargas demasiado elevadas quando perdeu altitude e pode mesmo não voltar a voar.

“Durante a hora e meia que a tripulação esteve a lutar para não perder o controlo da aeronave foi sujeita a cargas muitos intensas que, no meu ponto de vista, com toda a certeza, estruturalmente aquele avião está bem danificado. Se for verificado que, estruturalmente, esse avião excedeu as cargas que o fabricante indica, esse avião não voa mais.”

O impacto na estrutura do avião pode até ter comprometido as caixas negras, que registam a voz e os dados do voo, e estas são informações essenciais para a investigação.

Álvaro Neves sublinha, também, que não há muitos casos em que um avião sai da manutenção e tem um incidente grave como este.

Álvaro Neves foi diretor do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e está agora na Agência Europeia de Segurança na Aviação.

Questionado sobre se estará em causa o trabalho das OGMA – Oficinas, responde que não deve prestar opiniões pessoais sobre a “qualidade de um serviço prestado por uma entidade certificada”.

Sobre o incidente de domingo, a OGMA disse que está a colaborar com a investigação.