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O antigo ministro Armando Vara e o empresário Carlos Santos Silva já anunciaram que vão pedir a abertura da instrução do processo judicial. Resta saber se os restantes arguidos, entre os quais José Sócrates, também o irão fazer. O prazo termina esta quinta-feira, já com multa (sem multa era até segunda-feira).

Trata-se de uma nova fase de um processo que já vai longo – seja qual for o ponto de vista de que é analisado: duração, número de arguidos, de crimes, de testemunhas, de buscas…

O inquérito culminou com a acusação a 28 arguidos – 19 pessoas e nove empresas – e está relacionado com a prática de quase duas centenas de crimes de natureza económico-financeira, descritos numa acusação com mais de quatro mil páginas.

José Sócrates é o principal arguido. O antigo primeiro-ministro está acusado de 31 crimes de corrupção passiva, falsificação de documentos, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais. Chegou a estar preso preventivamente durante dez meses, na cadeia de Évora e em prisão domiciliária.

O processo judicial começou em 2014 e envolveu mais de duas centenas de buscas e a audição de outras tantas testemunhas. Foram recolhidos dados em cerca de meio milhar de contas bancárias.

Ao longo destes anos, correu muita tinta e os protagonistas do caso fizeram muitas declarações. Aqui ficam algumas frases inesquecíveis dos atores mais mediáticos deste caso.

  • "O Ministério Público está sob suspeita de não cumprir prazos legais, de ter abusado dos seus poderes e de não ter dirigido a investigação a um crime, mas ter posto todos os seus poderes ao serviço de uma perseguição a alguém." – José Sócrates, a 9 de abril de 2016, numa conferência em Barcelos.
  • "Eu vou lutar até ao fim, até à exaustão. Eles estão a perceber isso" – Ricardo Salgado, antigo presidente do BES, na primeira entrevista que deu, três anos depois do colapso do banco; “Dinheiro Vivo” (22/07/2017).
  • “Nunca me lembro de ter chamado chefe àquela pessoa em quem está a pensar” - Armando Vara, antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos, no interrogatório da Operação Marquês sobre se se estava a referir a José Sócrates quando falava do “chefe” nas conversas telefónicas escutadas.
  • “Queria deixar muito claro que eu nunca fiz nada, lícito ou ilícito, a troco de qualquer favor, financeiro ou o que quer que seja. Claro! Nunca fiz! Nunca fiz! Ponto final!” - Zeinal Bava, antigo administrador da PT, no interrogatório da Operação Marquês.
  • “Sabe que, isto… o senhor é muito novo e eu posso escandalizar com isso, mas naquela altura era… era… era chique ter uma conta na Suíça. (…) Mas de qualquer modo, achei que esse pagamento, dos seis milhões, foi generoso.” – Henrique Granadeiro, antigo administrador da PT, no interrogatório da Operação Marquês sobre a origem da sua conta na Suíça.
  • “Era mesmo por amizade e porque achava que ele tinha um estatuto; queria proporcionar-lhe as condições para continuar a fazer a sua vida de diplomata, que ele pudesse fazer uma vida para honrar alguns compromissos que tinha. Ele tem que sustentar a mãe.” – Carlos Santos Silva, empresário e amigo de José Sócrates, no interrogatório da Operação Marquês sobre os pagamentos das contas de José Sócrates.
  • “Foi o Dr. Ricardo Salgado… hmmm… que, numa das minhas vindas a Portugal, pediu p’a eu passar lá no banco [BES]. (…) E pediu-me se eu podia fazer… tinha uns compromissos… e tinha a pagar cerca de 12 milhões de dólares [que seriam afinal 12 milhões de euros] (…). Se conhecia (…) o Carlos Santos Silva, eu disse que sim… se tinha conta no… na UBS, eu também disse que sim. Eeeeee… e se… eu podia fazer esses… pagamentos, não é? E eu disse: ‘Sim, Ricardo, se precisas, eu faço, não tenho problema nenhum.’” – Helder Bataglia, empresário luso-angolano e antigo homem forte do Grupo ESCOM, no interrogatório da Operação Marquês sobre o seu papel como intermediário em pagamentos a Carlos Santos Silva.
  • “Oh Carlos, olha também eu gostava de ter uma conta na Suíça, porque se eu um dia tivesse um ‘pé-de-meia’ era lá que gostava de ter.” – Joaquim Barroca, antigo administrador do Grupo Lena, no interrogatório da Operação Marquês sobre a abertura, por parte de Carlos Santos Silva, de uma conta em seu nome na Suíça.