O Presidente brasileiro Jair Bolsonaro partiu este domingo de Brasília em direção a Washington, onde, durante três dias, terá a sua primeira visita bilateral ao exterior enquanto chefe de Estado – seguir-se-á Israel, no final de março, onde se encontrará com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Na comitiva de Bolsonaro seguem, igualmente, vários ministros, entre os quais Paulo Guedes, da Economia, Sergio Moro, da Justiça, Tereza Cristina, da Agricultura, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Esta quinta-feira, no Facebook, Bolsonaro anunciou a assinatura de vários acordos em Washington.

Mas, afinal, o que se pode esperar deste encontro (na terça-feira, os dois terão uma reunião privada) entre Donald Trump e Bolsonaro? Segundo o correspondente da Renascença nos EUA, José Alberto Lemos, é bem mais aquilo que aproxima os dois líderes ultraconservadores do que o que os separa.

“As afinidades entre Trump e Bolsonaro são óbvias. Aliás, Bolsonaro já foi denominado o ‘Trump dos trópicos’. Ele [Bolsonaro] tem uma clara admiração pelo Presidente americano e há muitas afinidades, por exemplo, no que toca à luta contra as chamadas ‘fake news’, há um discurso completamente contra as mulheres e os gays – Bolsonaro é contra o casamento homossexual –, ele usa o Twitter e as redes sociais abundantemente tal como Trump, tem um profundo desprezo pelos direitos humanos e prepara-se para liberalizar a possa de armas – o que já existe nos Estados Unidos. O secretário de Estado [dos EUA] Mike Pompeo foi à posse de Bolsonaro. E, antes mesmo de ele tomar posse, o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, esteve também no Brasil a apoiar Bolsonaro. O filho dele [o deputado Eduardo Bolsonaro] foi já à Casa Branca falar com o genro [e assessor] de Trump, Jared Kushner”, explica José Alberto Lemos.

Quanto à política externa, e o que se discutirá e negociará na política externa, também aqui Bolsonaro e Trump convergem em diversos ideais e vontades.

Entre os acordos que Bolsonaro anunciou já que ia assinar com o Presidente americano está a utilização da base de Alcântara, no estado do Maranhão, norte do Brasil, para o lançamento de satélites norte-americanos. Mas Donald Trump quererá do Brasil mais do que uma mera base para o lançar satélites.

“Aquilo que é mais delicado nesta visita de Bolsonaro à Casa Branca – e que pode ter desenvolvimentos futuros – é a questão da cooperação militar, a questão na área da Defesa. Há muito tempo que se fala na questão de haver, eventualmente, uma base militar americana no Brasil. Os Estados Unidos não possuem nenhuma base militar no Atlântico sul, isso é algo a que os países da América do Sul têm resistido sistematicamente, e neste momento, com esta conjuntura, fala-se nessa hipótese de uma base militar no Brasil. É provável que a administração Trump pressione Bolsonaro nesse sentido”, explica o correspondente da Renascença.

Segundo José Alberto Lemos, a delicada situação na Venezuelana – os EUA lideraram a campanha internacional para reconhecer o autoproclamado presidente Juan Guaidó, mas, ao contrário de Trump, Jair Bolsonaro descartou (por ora) uma intervenção militar no vizinho sul-americano – estará igualmente sobre a mesa. “Há uma preocupação clara, claríssima, dos dois Presidentes relativamente à Venezuela. Obviamente que a Venezuela vai ser um tópico fundamental deste encontro, assim como provavelmente vão ser abordadas as questões relacionadas com Nicarágua, também um regime que evoluiu para um totalitarismo, e a velha questão de Cuba”, lembra.

Bolsonaro quer também falar com Trump (que partilha com o Presidente brasileiro o ceticismo climático; Bolsonaro prometeu, por exemplo, “rasgar” o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas) da Amazónia. Segundo alguma impressa brasileira e americana, Bolsonaro quererá o apoio norte-americano para, autonomamente, o Governo brasileiro explorar a região – incluindo reservas minerais nas áreas indígenas – e diminuir a influência de Organizações Não-Governamentais (que defendem o Ambiente e denunciam a desflorestação e a violência contra as populações indígenas) na Amazónia, tornando-se os EUA seu parceiro primordial em exportação.

“Ainda do ponto de vista da política externa, que é o que mais interessa a toda a gente, o Brasil prepara-se para sair do Acordo de Paris, tal como fez Trump. É pelo menos um dos anúncios que Bolsonaro fez. Ele também recusou recentemente organizar uma conferência sobre o clima [no Brasil], os dignitários brasileiros têm feito afirmações contra a globalização, ameaçam começar a desflorestar a Amazónia, porque estão muito ligados aos negócios da agro-indústria, e também querem desmantelar as reservas índias. E, portanto, há aqui uma clara afinidade”, conclui José Alberto Lemos.

Antes mesmo de se hospedar na Casa Blair, a residência oficial dos convidados do Governo dos EUA, localizada na ala oeste da Casa Branca, este domingo Jair Bolsonaro vai participar num jantar na residência do embaixador brasileiro em Washington com várias personalidades, entre as quais, segundo relatos da imprensa americana, estará Steven Bannon, o polémico ex-conselheiro (e ideólogo) do Presidente Trump.

Na segunda-feira, o chefe de Estado participará num fórum de investimentos e noutro sobre "o futuro da economia brasileira", organizado pelo Comité Empresarial Brasil-Estados Unidos, além de se encontrar com o ex-secretário do Tesouro norte-americano Henry Merritt Paulson.