Durante meses, Alaa Al-Daly treinou seis horas por dia, para poder competir na prova de ciclismo nos Jogos Asiáticos, que este ano se realizam na Indonésia. A motivação: cumprir o sonho de representar a Palestina na competição.

Uma bala, durante um protesto que se pretendia pacífico, pôs fim a esse sonho. A 30 de março, Daly e três amigos foram de bicicleta até à fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel para se juntarem à multidão que reivindicava o regresso dos refugiados palestinianos às terras de onde foram expulsos ou fugiram após a criação do Estado de Israel, em 1948.

“Só fui porque era uma manifestação pacífica, não esperava que pudesse sofrer algum dano”, contou Daly à agência Reuters. Contudo, alguns manifestantes envolveram-se em confrontos com soldados israelitas, que responderam com disparos.

Daly relata que estava a cerca de 200 metros da barreira de segurança e que não se envolveu nos confrontos, mas uma bala israelita acabou por atingir a sua perna direita.

A família de Daly pediu que o ciclista fosse retirado de Gaza para que pudesse receber tratamento médico mais completo na Cisjordânia ou em Israel. Contudo, as autoridades israelitas não autorizaram a saída.

Aos 21 anos, Daly teve de ser amputado e está a aprender a caminhar com a ajuda de muletas. A recuperação da mobilidade ainda é longa, mas o ciclista não perdeu a vontade de competir, agora como amputado.

A história de Daly não é caso único na Faixa de Gaza, onde os cuidados médicos são escassos. Só em casos excepcionais os habitantes de Gaza são autorizados a sair para receber tratamento.

À agência Reuters, um comandante israelita afirma que, salvo “casos humanitários excecionais”, os participantes nos protestos na fronteira não recebem tratamento médico.

De acordo com ministro da saúde de Gaza, 17 jovens palestinianos, feridos durante os protestos da chamada Marcha do Retorno, tiveram de amputar membros superiores ou inferiores, por falta de tratamento na Faixa de Gaza.