A retoma do turismo, só deverá acontecer em 2023, admite o ministro da Economia, que anuncia para breve um pacote “ambicioso” de estímulos. Na equação do turismo entra também a TAP nesse assunto Siza Vieira manifesta preocupação, lembrando que a insolvência ainda não está afastada.

A pandemia veio demonstrar a excessiva dependência de Portugal do turismo? E quando é que iremos voltar a níveis de turismo pré-pandemia?

O país não tem uma dependência excessiva do turismo. O turismo teve um crescimento muito significativo nos últimos anos e isso é bom. Temos que saber valer tudo aquilo que são as nossas vantagens comparativas internacionalmente. Se temos um grande potencial de atracão de visitantes que nos procuram para lazer ou para fazer eventos empresariais, devemos valorizar isso e aproveitar bem. O turismo cresceu mais nos últimos anos do que o resto da economia. Gostava que o resto da economia crescesse a esse ritmo. Por outro lado, é verdade que no turismo a pandemia foi mais impactante pelas restrições à circulação do que outras atividades que podem trabalhar à distância. Estimamos que vamos retomar o nível que tínhamos em 2019 em 2023. Mas não queremos só regressar a 2019. A nossa estratégia era crescer até 27 mil milhões de euros em receita turística até 2027. Em 2019, tivemos 18 mil milhões de euros. Isso significa que sendo assim em 2027 estaremos muito abaixo das nossas projeções. É preciso fazer um investimento adicional no sector turístico.

De que forma? Em campanhas?
Em várias coisas e espero anunciar dentro em breve um plano plurianual de apoio ao turismo que ajude, por um lado, a digerir as dificuldades destes anos, mas também como promover internacionalmente mais Portugal. E ajudar as empresas e os destinos turísticos a reposicionar-se através de investimentos na sustentabilidade dos destinos e das empresas, na digitalização do sector ou na melhoria de alguns produtos turísticos.

Não pode concretizar melhor esse plano?
Poderei, dentro de algumas semanas.

Não, nesta entrevista.
Quero destacar a dimensão e a ambição do plano. O sector merece. Nos últimos cinco anos os apoios públicos ao turismo foram de cinco mil milhões de euros. Demonstramos que o investimento neste sector é virtuoso e com grande retorno para o país. Precisamos de um plano à altura da dimensão do desafio. Digo-lhe só três coisas. Queremos crescer no turismo não em quantidade, temos condições para continuar a crescer em valor. A nossa ideia é crescer ao longo do ano, reduzir a sazonalidade. Segundo, crescer em mais destinos, crescer em todo o país e sobretudo no interior. A terceira é ir buscar outros mercados, além dos tradicionais. Queremos continuar a fazer essa diversificação como vimos com o mercado norte-americano.

As regras C não se aplicam, por exemplo, à TAP, que já não era uma empresa saudável antes da covid. Como é que se resolve o caso da TAP?
Há várias vertentes para essa pergunta. Tal como todas as empresas de transporte aéreo, ficou com a sua atividade profundamente afetada e tal como em todo o mundo o Estado tem estado a apoiar as companhias dentro da lógica de que não se pode destruir a capacidade produtiva por uma questão que é temporária. Qual é a diferença entre a TAP e outras empresas? A TAP, que segundo as regras europeias era considerada uma empresa e dificuldades em 2019, a UE diz que o apoio público à recapitalização tem que pressupor um plano de reestruturação que a CE avalie como assegurando a viabilidade da empresa a longo prazo. É muito importante que o plano de reestruturação da TAP que está neste momento a ser avaliado pela CE seja capaz de demonstrar que as verbas públicas que estão a ser investidas não sejam para manter uma empresa inviável em funcionamento mas são verbas que acompanhadas de uma reestruturação profunda da empresa permitam que esta seja viável a logo prazo. Se a CE não considerar demonstrável a viabilidade da TAP, então não autoriza mais injeções de capital e a empresa provavelmente fica insolvente.

Está otimista?
Não acompanho o processo diretamente.

Como avalia a gestão do dossiê TAP pelo seu colega de Governo, Pedro Nuno Santos?
A situação é muito difícil como é em todas as companhias aéreas. A crise está a impactar mais a atividade de transporte aéreo do que era inicialmente pensado. A dificuldade de acompanhar e gerir estes processos é muito grande.