O comentador d’As Três da Manhã considera que faz sentido discutir uma possível reparação às ex-colónias, como defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, justificando que “é uma discussão que todo o Ocidente está a ter e que nós não podemos ficar de fora. Até porque fomos o primeiro Império a ir e o último a sair”.

Raposo sublinha, no entanto, que em causa estão várias camadas e que “umas fazem sentido e outras não”.

“Pagar milhões, dinheiro, acho que não faz sentido, porque isso era isolar um vilão. E a História não tem só um vilão. Não foi só um homem branco que explorou a escravatura. Aliás, quando nós chegámos à África, os negros exploravam outros negros, tribos de negros capturavam outros negros e vendiam-nos quer aos europeus, quer aos mouros a Norte”, diz.

Na visão do comentador, “isto é uma caixa de Pandora”, porque, “se há reparação histórica, países africanos tinham que pagar a outros países africanos”.

“E, depois, há outra caixa de Pandora: os franceses tinham que pagar aquilo que fizeram aqui em Portugal, durante as invasões francesas. Perdemos 300.000 pessoas, um país que tinha três milhões. Fora o roubo épico do ouro que os franceses levaram. Portanto, se vamos por aí, nunca mais saímos desse buraco. A política é olhar para a frente e não para trás”, adverte.

Questionado sobre que tipo de reparação deveria ser feita, Raposo diz que seria “interessante devolvermos peças de arte altamente simbólicas”.

“Devolvermos a Angola, Moçambique, Guiné, seja onde for, peças de arte que fazem parte do património desses países, que, ainda para mais agora, já chegaram a um ponto de estabilidade política, de segurança”, exemplifica.

O comentador assinala ainda que, quando se “isola o campo da arte”, entra-se “num terreno altamente simbólico e não é sanguinário”.

No seu espaço de comentário na Renascença, Raposo observa ainda que “o nosso colonialismo foi tão mau como os outros” e que “aquela ideia do lusotropicalismo, que fomos fofinhos, é mentira”.

“Temos, obviamente, 700.000 retornados que têm uma visão complicada sobre esse passado e, portanto, dificulta fazermos esse debate”, conclui.