A inesperada maioria absoluta de António Costa, para a qual não contribuí com o meu voto, retirou drama e tensão à política portuguesa. Para muitos, essa maioria trouxe um alívio. Já não teremos complexas e por vezes penosas negociações entre partidos para encontrar uma base parlamentar capaz de apoiar o novo executivo. É um descanso.

Ganhou a estabilidade; durante quatro anos, em princípio, não haverá crises políticas. Mas será que ganhou também o imobilismo? Não se conhecem tendências reformadoras em A. Costa. Por isso, poderá prevalecer nele a tentação de não fazer ondas com mudanças que sempre incomodam quem está acomodado.

Muito vai depender da marca que o primeiro-ministro quer deixar para a história. Se ele se contentar com que a história apenas registe um político hábil ou, sobretudo, habilidoso, então serão escassas as hipóteses de os próximos quatro anos marcarem um impulso reformista e modernizador na vida nacional.

Esta é, também, uma questão de ambição pessoal. O próximo governo dará uma primeira resposta à pergunta: teremos mera evolução na continuidade, como Marcelo Caetano quando sucedeu a Salazar? Ou, ao invés, A. Costa, que sucede a si próprio mas agora tem condições excepcionais para governar, irá marcar a diferença e revelar-se um estadista? Veremos quem convidará o primeiro-ministro para o executivo – “yes men” ou personalidades fortes?

Provavelmente, muitos daqueles que votaram no PS e, sem o saberem, ofereceram uma maioria absoluta a António Costa, não apreciarão que o primeiro-ministro aproveite essa maioria para tentar ultrapassar problemas estruturais do país. Uma agenda reformista implica recusar o imobilismo e combater o aproveitamento, para benefício pessoal, do facto de o PS dominar, como nunca antes, o aparelho de Estado.

Assim, se a maioria absoluta dá condições a A. Costa para fazer sair o país da relativa estagnação das ultimas duas décadas, o primeiro-ministro não terá da parte do seu partido uma significativa ajuda nesse sentido. Mas A. Costa conseguiu uma maioria absoluta após um degaste de seis anos de governo minoritário; por isso, ganhou o direito de exigir ao seu partido uma atitude reformista. Se assim o quiser. Será que A. Costa quer?