O especialista em marketing desportivo Daniel Sá não tem dúvidas de que "a constante nuvem cinzenta" da suspeição sobre o futebol português "impacta negativamente o seu valor económico".

Em entrevista à Renascença, o diretor-executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) explica que este cenário "afasta patrocinadores e afasta espetadores, que são, basicamente, as duas entidades que pagam o futebol em Portugal".

Numa altura em que, por exemplo, é divulgado o acórdão do caso E-Toupeira e são conhecidas as alegações finais do chamado "processo dos e-mails", este especialista sublinha que "as marcas não querem estar envolvidas em processos judiciais", enquanto que os adeptos "deixam de acreditar na verdade desportiva e na forma como o desporto é gerido e também acabam por se afastar dos estádios".

Daniel Sá acredita que o impacto negativo é significativo, embora seja muito difícil contabilizá-lo, uma vez que para ele contribui a morosidade da Justiça. "Infelizmente, temos muitas vezes condenações públicas e só muitos anos depois é que temos o desfecho jurídico que, muitas vezes é de absolvição", quando o dano já está feito "e é muito difícil recuperar".

O especialista em marketing desportivo lembra que, atualmente, as marcas tentam defender-se destes casos, pelo que, "qualquer contrato, hoje em dia, entre uma empresa e um clube tem cláusulas relacionadas com este tipo de situações".

"Quando uma marca decide patrocinar ou estar associada ao futebol procura duas coisas: visibilidade, e isso o futebol consegue garantir de uma forma explosiva, e uma associação de conceitos. Uma marca junta-se ao futebol para estar ligada às coisas boas que este desporto tem, mas não quer estar associada às coisas negativas. Não quer violência nos estádios, não quer doping e não quer processos judiciais de coisas estranhas, porque, senão, acaba por ser contaminada em termos de imagem".

Um quadro que começa a ser invertido

Para Daniel Sá, é urgente reverter esta situação e esse trabalho já está a ser feito pela Federação Portuguesa de Futebol e pela Liga Portugal, no sentido da credibilização do futebol português, num esforço em que os vários agentes desportivos "deviam lutar como um todo, como uma indústria".

"Eu acho que esse quadro" de suspeição "está a ser invertido", diz Daniel Sá. "Para que isto funcione, é preciso que todos os 'players', começando naturalmente pelos clubes, entendam que esta indústria só pode funcionar e só pode ter resultados como um todo, jogando de uma forma limpa", remata o diretor-executivo do IPAM.