06 set, 2017 - 17:51 • Filipe d'Avillez
Tendo em conta que a Síria nunca participou numa fase final de um campeonato do mundo, e que o país está mergulhado numa terrível guerra civil há seis anos, nada indicaria que haveria a menor possibilidade de conseguir apurar-se para o mundial de 2018.
Mas contra todas as expectativas, apenas 180 minutos separam os adeptos sírios do seu maior sonho.
A campanha da Síria estava a correr previsivelmente mal até há alguns meses. Em Novembro de 2016 a selecção tinha apenas uma vitória em cinco jogos, contra a China, mas tinha conseguido dois empates, incluindo contra o Irão, num jogo disputado na Malásia, onde os sírios jogam “em casa” devido à guerra que assola o seu país.
A 23 de Março uma vitória por 1-0 sobre o Uzbequistão, com golo de penalti nos descontos, permitiu aos sírios começar a sonhar, não obstante a derrota por 1-0 na Coreia do Sul dias depois.
Foi então que dois dos filhos pródigos do futebol sírio fizeram as pazes com a federação e decidiram voltar a jogar pela selecção. Omar al-Somah e Firas al-Khatib tinham abandonado a equipa por serem contra o regime de Bashar al-Assad e considerarem que o futebol na Síria estava ao serviço do país. As imagens da equipa técnica com t-shirts com a cara do ditador pareciam dar-lhes razão.
A 13 de Junho um golo marcado novamente nos descontos permitiu arrancar a ferros um empate na China, treinada por Marcelo Lippi e no final de Agosto o país celebrou uma vitória por 3-1 sobre o Qatar. Para não variar o último golo, embora neste caso não fosse crucial, foi marcado nos descontos.
A vitória sobre o Qatar deixou a Síria com fortes esperanças de assegurar o terceiro lugar do grupo, que dá direito a disputar um play-off com a Austrália. Mas o último jogo da Síria disputava-se no Irão, treinado por Carlos Queiróz, que ainda não tinha perdido um único jogo e tinha o primeiro lugar do grupo garantido. O Uzbequistão recebia a Coreia do Sul e não podia pontuar mais do que os Sírios.
O jogo em Teerão, com casa cheia e um bom contingente de adeptos sírios, começou bem para os árabes, que marcaram 1-0 na ressaca de um livre directo, mas os persas deram a volta ao resultado e aos 90 minutos falharam, à boca da baliza, o 3-1 do descanso. Mas foi então que um dos filhos pródigos, Omar al-Somah, recebeu a bola dentro da grande área do Irão e finalizou a jogada de contra-ataque com um remate tranquilo que passou por baixo do corpo do guarda-redes.
Jogadores e equipa técnica explodiram de alegria e nas bancadas só se ouvia os sírios a festejar. A selecção, uma das únicas instituições que consegue unir a maioria dos sírios, continua a permitir ao país sonhar com uma presença na Rússia.
Os jogos contra a Austrália disputam-se a 5 e 10 de Outubro, mas o vencedor desses encontros terá ainda de defrontar o quarto classificado do grupo da América Central e do Norte para conseguir chegar ao mundial.