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Reportagem Renascença

Cascade 2019. O dia em que Viana do Alentejo foi zona de ação

31 mai, 2019 - 21:30 • Rosário Silva

Chegam assustados, desorientados, alguns agitados, outros mais calmos, outros à procura de familiares e amigos. Todos na busca de um apoio, um gesto, uma palavra, um tratamento. São deslocados ou desalojados na sequência de um abalo sísmico que atingiu a Grande Lisboa e que não poupou o distrito de Évora. Atenção que é apenas um treino, mas levado muito a sério por quem nele participou.

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Foto: Rosário Silva/RR
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Em Viana do Alentejo, considerado, pelas autoridades, o concelho mais seguro do distrito, foi instalada a ZCAP – Zona de Concentração e Apoio à População. “As pessoas que têm necessidade de ser deslocadas das suas habitações vão aqui permanecer até que haja condições para retornar aos seus lares, considerando que os seus lares estão em condições de ser novamente habitados”. É a explicação dada à Renascença por Rui Ângelo, psicólogo e o coordenador das equipas de apoio psicossocial da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

Graciete estava sozinha em casa e foi levada para a ZCAP pela Guarda Nacional Republicana (GNR). “Estou muito assustada, tenho a minha filha em Lisboa, mas não sei dar o contacto”, contou à nossa reportagem a senhora de 70 anos.

Ao lado, Beatriz também se confessa “perdida e preocupada”. Não sabe da neta e, com a pressa, esqueceu-se dos medicamentos.

São cerca de quatro dezenas, as pessoas que, levadas por alguém ou pelos seus próprios meios, chegaram ao pavilhão municipal de Viana do Alentejo onde as autoridades se instalaram o seu “quartel-general”.

“Aqui, as pessoas vão ser registadas e toda a informação recolhida é passada para o posto de comando distrital e posto de comando nacional, e assim ficaremos com uma noção de quem são, mesmo que não residam aqui e estejam a muitos quilómetros de casa. Depois é-lhes dado todo o apoio psicossocial possível numa situação de emergência”, avança Rui Ângelo, da ANEPC.

Que tipo de apoio, perguntamos ao responsável: “Desde apoio alimentar, hidratação, apoio psicológico, ou até mesmo a possibilidade de pernoitarem aqui se existir essa necessidade”. O coordenador da operação explica que é “feita uma avaliação das necessidades especificas”, pois, cada caso é um caso. “Há pessoas que procuram um familiar, outras não trazem consigo a medicação, por exemplo, por isso temos que analisar cada caso.”

Casos e histórias em Viana do Alentejo

E casa caso, uma história. O João, chegou com sarampo e, imediatamente, foi isolado da Ana, a namorada, que o veio acompanhar mesmo contra vontade dele.

A Emily (Emília) e a irmã foram surpreendidas pelo abalo sísmico quando procuravam, no Alentejo as suas origens. Vieram de Inglaterra e a sua preocupação junto das autoridades, era fazerem-se perceber, tendo em conta que não falavam português.

Uma infinidade de histórias às quais as equipas, no local, tiveram que dar resposta. “Para além do Instituto da Segurança Social e do município de Viana do Alentejo, temos outras entidades nesta resposta psicossocial, como a Cruz Vermelha, bombeiros, a Marinha com a logística e os seus psicólogos, e tendo em conta que é um treino, também o SEF, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e os colegas da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, já que muitas pessoas trazem os seus animais de estimação”, acrescenta Rui Ângelo.

O apoio ao cidadão e a promoção do seu bem-estar, foi, no fim de contas, a componente que os operacionais testaram num dia particularmente quente no Alentejo. “Perante a ocorrência de um sismo ou outra, há uma primeira fase que é a emergência pré-hospitalar para quem necessite de cuidados médicos. Aqui, o que temos são pessoas deslocadas de suas casas e o que treinamos é precisamente todo o apoio que lhes damos, na sequência de uma ocorrência, seja um sismo, um incêndio ou de outra natureza”, salienta.

Lições aprendidas com Pedrógão Grande

Rui Ângelo esteve na resposta aos incêndios de Pedrogão Grande, ainda que com características diferentes e, no ano passado, rumou a sul, na sequência do incêndio de Monchique, com a necessidade de instalar uma Zona de Concentração e Apoio à População. “Aí, tivemos uma aprendizagem real e estamos aqui hoje, para que essa aprendizagem possa não ser apenas local, mas disseminada a nível nacional.”

“O objetivo não é que corra tudo bem, mas sim identificar aquilo que pode ser melhorado. Vamos estar atentos a erros e falhas para que possamos aprender, juntos, para que não aconteçam numa situação real”, alude.

Uma opinião partilhada pelo vice-presidente da câmara municipal de Viana do Alentejo que atribui à sensibilização um papel determinante. “Não é o trabalho que se faça num dia, é o trabalho de todos os dias e que nós, município, já fazemos junto da população e com a população”, observa João Pereira.

O exercício de Viana do Alentejo foi um, entre muitos, a decorrer por estes dias, no âmbito do exercício europeu de Proteção Civil CASCADE’19, o maior de sempre em território nacional. Vinte localidades dos distritos de Aveiro, Évora, Lisboa e Setúbal receberam cerca de seis dezenas de cenários distintos. Uma iniciativa da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil que mobiliza mais de 600 operacionais, alguns dos quais de 5 países da Europa: Alemanha, Bélgica, Croácia, Espanha e França.

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