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150 anos

O quadro que Gulbenkian nunca conseguiu comprar e toda uma vida para explorar

23 mar, 2019 - 09:28 • Maria João Costa

Se fosse vivo, o colecionador e filantropo arménio completaria este sábado 150 anos. Fundação marca a data com mostra dedicada a Calouste, que pode ser visitada até ao final do ano.

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Como fazer uma exposição sobre a vida de alguém que não queria expor-se? Foi esta a questão com que Paulo Pires do Vale se debateu enquanto curador da mostra que inaugura este sábado, dedicada à vida de Calouste Gulbenkian.

150 anos depois do nascimento deste arménio que se apaixonou por Portugal, no edifício da Fundação que criou em Lisboa, são revelados detalhes da vida de um homem que queria viver até aos 100 anos.

Em entrevista à Renascença, o curador explica que “Calouste: uma vida, não uma exposição” propõe que o visitante seja “uma espécie de investigador e detetive” à medida que percorre uma mostra que começa pelo fim, ou seja, com a vida da Fundação Gulbenkian hoje em dia.

“A exposição começa com testemunhos de pessoas que foram, por múltiplos motivos, influenciadas pela vida de Calouste.” São histórias de bolseiros ou de um simples espectador de um concerto que se sentiu impelido a estudar música, adianta Paulo Pires do Vale.

Depois de descobrir “as marcas que Calouste Gulbenkian deixou na vida de outros”, o visitante mergulha então na vida e obra do arménio. Pires do Vale, que é também presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte, lembra que “não há biografias definitivas”, e que o passado de Gulbenkian é mostrado “juntando pistas”.

O título da exposição usa o nome próprio deste homem de negócios, Calouste, para “desviar o peso Gulbenkian, com o mito que tem por detrás”, explica.

O curador fala numa figura “complexa” e revela que a exposição mostra “facetas menos conhecidas” do filantropo e colecionador. Ao público são mostrados objetos, fotografias, diários deste arménio que deixou a sua marca em Portugal.

Entre os dados curiosos, na exposição explica o curador o visitante fica por exemplo, a conhecer “um lado mais cómico de encontrar livros na biblioteca de Gulbenkian sobre galinheiros e galinhas porque sempre teve o sonho de construir galinheiros no jardim que teve em França”. A biblioteca privada de Calouste Gulbenkian revela também outros interesses inumerados por Pires do Vale: “há catálogos de exposições, de museus, de leilões e também o interesse que ele tinha pelo petróleo, ou jardins de rosas, ou pela saúde e como se manter saudável até aos 100 anos ou que exercícios fazer para que isso fosse possível.”

Nesta mostra, que pode ser visitada até 31 de dezembro na Galeria do Piso inferior do Edifício Sede, há também outros dados reveladores. O grande colecionador que foi Calouste Gulbenkian, o homem de negócios que se apaixonou por Portugal, nem sempre conseguiu comprar para o seu espólio todas as obras com que sonhava.

É o caso de um quadro que por várias vezes “desejou” e “tentou adquirir”, mas que nunca conseguiu, indica Paulo Pires do Vale.

Em causa está uma obra que, “para ele, era muito importante e que tentou por múltiplas vezes comprar a uma família espanhola: uma pintura de Goya, o Retrato da Condessa de Chinchón”, revela o curador da exposição.

Foi um “desejo nunca concretizado” por um homem com uma coleção de mais de 6 mil peças, um sonho que está também nesta mostra, através de uma “moldura que tem a exata medida dessa obra de Goya”.

O quadro que Calouste Gulbenkian nunca conseguiu e está no espólio do Museu do Prado, em Madrid.

A assinalar os 150 anos de Gulbenkian, este sábado há um concerto ao final da tarde com o Coro e Orquestra Gulbenkian. Será também lançado um selo comemorativo e atribuídos prémios a jovens com idades entre os 15 e os 25 anos que melhor respondam à pergunta “Quem é Calouste?”, expressando-se através de artes visuais, música, texto e cinema.
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