24 out, 2018 - 10:26
Matteo Salvini, líder da extrema-direita italiana e ministro do Interior, disse esta quarta-feira que o governo de Roma vai manter o Orçamento do Estado para 2019 mesmo que a Comissão Europeia “mande 12 cartas”.
Na terça-feira, Bruxelas "chumbou" o orçamento italiano provocando de imediato críticas por parte do governo de Roma. Foi a primeira vez na história da União Europeia que um orçamento nacional foi mandado para trás. Itália tem três semanas para propôr um novo documento.
“De Bruxelas até podem mandar 12 cartas até ao Natal, os orçamentos não vão mudar”, disse Salvini à estação de rádio RTL. “Estamos aqui para melhorar a vida dos italianos, a mim parece-me um ataque com preconceitos. É um ataque à economia italiana porque alguém quer comprar as nossas ações a baixo custo”, acrescentou.
“Todos os orçamentos que passaram por Bruxelas nos últimos anos aumentaram a dívida italiana em 300 mil milhões de euros”, afirmou Salvini na mesma entrevista em que defendeu a estratégia do governo sobre o aumento dos gastos no setor público como forma de promover o crescimento.
A Itália elaborou objetivos para 2019 que preveem um défice de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), uma dívida de 130% e um crescimento de 1,5%. Os números preocupam a Comissão Europeia, que considera que os números sobre o crescimento são demasiado otimistas o que pode provocar o “risco” de aumento do défice da dívida. Pierre Moscovici, comissário europeu dos Assuntos Económicos, já tinha avisado na quinta-feira passada que o projeto orçamental italiano contemplava uma derrapagem orçamental “sem precedentes na história do Pacto de Estabilidade e Crescimento”.
Salvini afirmou que “segundo as previsões de Bruxelas” a Itália vai crescer 0,9%, mas, de acordo com o ministro, o governo italiano vai conseguir um crescimento maior. “Como se paga a dívida com um crescimento de 0,9%? Nós propomos uma receita diferente porque apostamos no crescimento de Itália”, sublinhou.
Horas antes do chumbo do orçamento italiano, o primeiro-ministro Giuseppe Conte disse ao site noticioso Bloomberg que "não há plano B" e reafirmou que a meta do défice não vai ser alterada. Conte avisou que qualquer mudança "será muito difícil para mim porque não consigo aceita-la". Mas também deixou claro que Itália não dará as mesmas dores de cabeça que o Reino Unido e o Brexit dão. "Não há qualquer hipótese de um 'Italexit'. Sentimo-nos confortáveis, muito confortáveis, sentimo-nos em casa na Europa e acho que o euro é a nossa moeda e será a nossa moeda, a moeda do meu filho, que tem onze anos, e a moeda dos meus netos", disse Conte.