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​Visto de Bruxelas

Como fechar a porta aos britânicos?

20 jul, 2018 - 14:23

A União Europeia vai preparando mais do que um plano para o Brexit e analisamos as várias hipóteses. Na edição de hoje, destaque ainda para uma entrevista à Comissária para a Economia e a Sociedade Digitais, com declarações importantes sobre segurança informática, protecção dados e da concorrência, neste domínio, à escala global.

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Visto de Bruxelas (20/07/2018)

No Brexit, uma porta pode ser fechada com delicadeza ou com estrondo. E a verdade é que, se todos desejam que a saída do Reino Unido da União Europeia aconteça de forma suave, a verdade é que tanto Londres como Bruxelas/Berlim não deixam de se precaver para o cenário, com planos B. Com a ajuda de Francisco Sarsfield Cabral, tentamos perceber se é sensato desenhar planos de contingência para o caso de um “Hard Brexit”, de uma despedida mais dura. Importa também perceber até que ponto é que a turbulência política em Londres pode levar a um "no deal", a uma saída dura do Reino Unido e com que consequências.

Num outro plano, a semana fica marcada por um importante acordo comercial entre Bruxelas e Tóquio. No programa de hoje, analisamos se é (ou não) sensata a busca de um acordo como este, o primeiro com esta dimensão, a nível bilateral entre a União Europeia e o Japão perante o percurso de Donald Trump.

Gabriel explica o futuro da UE nas novas tecnologias

Nesta última semana, foi convidada nos estúdios da Euranet em Bruxelas a comissária europeia para a Economia e a Sociedade Digitais, que falou sobre aquilo que a União Europeia pode fazer para lutar - com armas desiguais - contra os Estados Unidos e a China na área das novas tecnologias. Mariya Gabriel reconhece que os americanos e os chineses estão “noutro campeonato”, uma vez que representam 90% do mercado digital, mas que a União Europeia pode funcionar como uma espécie de “terceira via”: “Nós não somos a China, não somos os Estados Unidos, eles investem maciçamente. Mas, a nível europeu, queremos investir pela primeira vez em capacidades estratégicas, incluindo a inteligência artificial. Isso vai permitir-nos, através de uma abordagem europeia baseada em valores e em princípios democráticos, fazer a diferença”.

A Comissão Europeia quer apostar, então, na ética, na protecção de dados e na coordenação ao nível da cibersegurança. Diz a comissária que esse é o preço a pagar para garantir a confiança dos cidadãos europeus: “A ideia é identificar uma base de valores e princípios que nos permita ver pontos fortes baseados nos valores europeus. E acho que haverá debates acalorados, mas é a única maneira de ganhar a confiança dos cidadãos nessas novas tecnologias. Para mim, o grande desafio é de facto essa confiança. Não existe ainda, ainda não o conseguimos. E, se falharmos, nunca conseguiremos alcançar os resultados positivos que esperamos da digitalização”.

E numa altura em que há cada vez mais informação e dados disponíveis para investigação, a comissária lembra que a União Europeia é muito mais rigorosa que os restantes blocos no que toca à protecção de dados… e a aposta tem de ser forte nessa área: “A proteção de dados pessoais é um desses valores que, para nós, não são negociáveis. Esta é uma vantagem da União Europeia, porque temos de ter a coragem de dizer que a nossa abordagem se baseia em valores como a protecção de dados, a transparência, a dignidade humana e a solidariedade. Vai levar o seu tempo, mas acredito que a Europa pode liderar na protecção de dados”.

Mas a verdade é que todo o mundo parece estar cada vez mais vulnerável a ataques informáticos. Ainda este ano, em Fevereiro, foi divulgado um relatório que alertava para os riscos associados ao uso indevido da inteligência artificial. Mas, segundo a comissária, a União Europeia tem reforçado as suas capacidades de segurança cibernética para permitir uma resposta rápida a ataques informáticos e tem planos para estar ainda mais “na linha da frente”: “Estou a insistir noutra ideia, que passa por ter uma rede de centros de competência em cibersegurança e excelência em cada Estado-membro. É através destes centros, com um centro de excelência em Bruxelas, que vejo uma forma concreta de construir a resiliência necessária; isto é, investir não apenas em tecnologia, mas também em conhecimento humano para que, juntos, possamos reagir a esse tipo de ataque”.

Entretanto, vivem-se tempos de incerteza quanto ao que a chamada “inteligência artificial” pode vir a trazer de novo ao mercado de trabalho. Parece estar em curso uma revolução que pode resultar na diminuição de postos de trabalho, sobretudo nas áreas de menor qualificação, mas há novos empregos que requerem novos conhecimentos e Mariya Gabriel não tem dúvidas… nisso a Europa está muito atrasada e tem rapidamente de acelerar: “Apenas uma em cada cinco empresas europeias é digitalizada hoje em dia. Mas, até 2020, gostávamos de ter polos de inovação digital em todas as regiões da Europa que permitam às empresas desenvolver novos produtos, testar modelos de negócios antes do lançamento e ter acesso a formação. Um dos desafios passa por dar formação a quem já tenha idade para trabalhar, para prepará-los para a transformação digital em trabalhos futuros. Mas os números ainda são preocupantes: só 35% da nossa força de trabalho tem habilitações digitais básicas e sabemos que, depois de 2020, 90% dos empregos vão exigir essas habilidades digitais básicas ”.

Para a comissária búlgara, os Estados-membros não podem abordar este desafio digital sozinhos. É preciso que haja uma enorme coordenação entre todos e Bruxelas espera que sejam gastos nesse esforço 20 mil milhões de euros por ano já a partir de 2020.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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