Comunicação Social

Igreja já usa novas tecnologias, mas quer fazer melhor

29 set, 2011 • Ângela Roque

Não basta ter uma presença na internet, é preciso estar com qualidade, diz padre Américo Aguiar.

A importância das novas tecnologias tem sido um tema recorrente das intervenções do Papa, que já comparou a era digital à revolução industrial, pelas transformações sociais e culturais que causou.

Com a Internet abriram-se novas formas de comunicar a que a Igreja tem estado atenta, como sublinha o cónego António Rego, director do secretariado nacional das comunicações sociais: “A Igreja sabe e desde o princípio que tenta usar esta nova linguagem, recordo que foi João Paulo II, em 1990, o primeiro a falar da importância da evangelização pela internet e nós em Portugal também nunca mais perdemos de vista esta realidade. Não podemos deixar de reflectir e intervir nesta área, estou a referir-me à Igreja em geral. Todas as dioceses, todas as paróquias, todos os movimentos, todos os meios de comunicação, todos os jornais que têm nestes meios uma capacidade nova de intervir e anunciar o Evangelho”.

Também para os meios de comunicação social da Igreja foi todo um novo mundo que se abriu, mas nem todos acompanham esta evolução à mesma velocidade: “Não se tem aproveitado tudo ao mesmo nível, com a mesma qualidade e com a mesma intensidade. Se falarmos da quantidade de informação escrita que existe, nos jornais, diocesanos e regionais, só cerca de 40% está a usar a internet, e está a usá-la muitas vezes como mera reprodução do que aparece em papel, quando cabe ali uma imensa linha de presença que não pode ser esquecida. Não temos suficiente atenção a tudo isto na Igreja”.

As novas tecnologias mudaram a forma de comunicar e a própria comunicação. Pedro Gil, do gabinete de imprensa da Opus Dei, é um observador atento da forma como a Igreja tem aproveitado esta Era Digital e reconhece que há bons exemplos: “O Evangelho Quotidiano, o Passo a Rezar, já não é só veicular conteúdos, é fazer com que as pessoas experimentem falar com Deus por si mesmas. Há pouco tempo foi lançado o projecto Bíblia Comigo, para ter acesso à Bíblia nos smart phones. Mas depois há essa enorme facilidade de acesso à informação. O pensamento e as notícias da Igreja antes estavam em sítios praticamente inacessíveis, e hoje basta ir ao portal da Agência Ecclesia, Rádio Renascença, ACEGE, Família Cristã, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, etc. Mesmo as dioceses abriram sites muito interessantes”.

Mas não basta ter um site é preciso saber usá-lo, explica Pedro Gil: “Se entrar num site da Igreja e a primeira coisa que encontro são as informações sobre como se organiza, os horários da secretaria, então podemos dizer que não está ainda espelhada a prioridade. Vamos à procura da Igreja para saber como podemos rezar bem, como nos podemos libertar dos nossos pecados, como é que se reza? Qualquer site da Igreja devia ter logo à disposição essas informações. Devemos pensar as informações que damos não consoante aquilo que pensamos ser importante, mas consoante aquilo que as pessoas procuram”.

Para o director do Gabinete de Comunicação da Diocese do Porto, padre Américo Aguiar, a dificuldade está em encontrar o justo equilíbrio entre as diferentes velocidades da Igreja e do jornalismo: “Estamos num tempo em que se pede à Igreja uma reacção imediata a acontecimentos imediatos. Os novos meios de comunicação extinguiram o tempo e o espaço. Tudo acontece imediatamente, e o já, às vezes não permite que se reflicta uma resposta, não permite que se recolham as informações, e por isso acreditamos que as novas tecnologias vieram melhorar muito a relação da Igreja com a Comunicação Social, mas temos de encontrar um equilíbrio, entre o desejo imediato de uma resposta e a ponderação da Igreja nas suas respostas”.

O site da diocese do Porto é considerado um dos bons exemplos do bom uso das novas tecnologias, disponibilizando todas as informações que interessam a quem o procura: “Chegámos a um ponto em que não temos de nos preocupar em dizer que as coisas estão no site, porque as pessoas já sabem. Queremos alargar esse comportamento das pessoas à realidade das suas comunidades, mas isso implica que sejamos capazes de trabalhar em rede, porque se é fácil trabalhar na rede digital, nem sempre é fácil trabalhar na rede humana. Não podemos esquecer que a presença no mundo digital, além de verdadeira tem de ser de qualidade. É o rosto de Cristo que queremos testemunhar”.

Nas Jornadas da Comunicação Social vai estar em debate esta evolução ou “revolução” que a era digital já causou nos Media em geral e na própria Igreja.