Siga-nos no Whatsapp

“Que Deus converta o coração dos soldados do Estado Islâmico”

22 mai, 2015

O arcebispo de Mossul teve de fugir de Qaraqosh apenas com o seu passaporte e diz que se não for possível voltar, os cristãos terão de procurar um “canto do mundo” para viver, “talvez na Europa”.

Monsenhor Petros Mouche, o arcebispo siro-católico de Mossul, diz que está disposto a perdoar os militantes do Estado Islâmico que o obrigaram a fugir da sua terra, e reza a Deus para converta os seus corações.

Em declarações reproduzidas pelo jornal italiano “Avvenire”, o arcebispo lamentou a tragédia que se tem abatido sobre os cristãos do Iraque e da Síria mas diz que não sente ódio. “Não os odeio. Peço a Deus que converta os seus corações, os corações dos militantes do Estado Islâmico”.

Mas a conversão dos seus inimigos não é o único objectivo das orações deste líder religioso. “Rezo também para que os cristãos iraquianos consigam perdoar, possam reencontrar a paz, mas também para que possam voltar a rezar e a viver nas suas terras”.

Antes do começo da guerra no Iraque, em 2003, havia mais de cinco mil cristãos em Mossul, membros de uma comunidade que existe desde a aurora do cristianismo. Em 2014 já eram apenas três mil, tendo muitos emigrado por causa da guerra, mas neste momento, com a cidade ocupada pelo Estado Islâmico, não há um único.

Os cristãos que foram obrigados a fugir de Mossul, Qaraqosh e dezenas de vilas e aldeias da região da planície de Nínive, encontraram refúgio no Curdistão iraquiano e vivem agora em campos de refugiados. Alguns, sobretudo os mais novos, pegaram em armas para tentar retomar as suas terras, algo que o arcebispo não critica.

“A fé não nos impede de nos defendermos. Atacar não, mas defendermo-nos sim. Se voltarmos, os rapazes agora treinados pelos curdos podem defender as nossas aldeias”, explica Petros Mouche, que em Fevereiro do ano passado visitou um destes campos de treino e abençoou os jovens cristãos que lá estavam.

A esperança de um eventual regresso ainda não morreu, mas os recentes avanços do Estado Islâmico veio refrear os sonhos de libertar Mossul ainda este verão. O arcebispo é muito claro quanto ao futuro, usando o exemplo de Qaraqosh, a sua terra natal e a maior cidade cristã do Iraque até ao dia em que foi ocupada, levando monsenhor Mouche a fugir apenas munido do seu passaporte.

“Sem uma Qaraqosh cristã, o Iraque não tem qualquer valor para mim ou para os meus fiéis. Aí, poderemos procurar um canto do mundo para poder viver livremente a nossa fé e recuperar a nossa dignidade, talvez na Europa”, conclui.