Há mais um lapso de memória no caso dos "swaps"

02 ago, 2013 • José Carlos Silva

Primeiro caso envolveu o novo secretário de Estado do Tesouro, que disse não poder garantir se esteve ou não na apresentação de uma proposta de produtos financeiros ao Governo de José Sócrates, numa reunião que decorreu em 2005. Há agora um novo caso.

Há mais um lapso de memória no caso dos "swaps"
Há mais um lapso de memória relacionado com o caso dos contratos "swap" que o banco Citigroup terá proposto ao Governo de José Sócrates com o objectivo de mascarar as contas públicas. O antigo director de mercados do Citigroup, Paulo Gray, aceitou responder por escrito às perguntas da Renascença e garante que não se lembra do caso.

Questionado se confirma ou não que propôs em 2005 ao Governo de José Sócrates a contratação de "swaps", Paulo Gray diz não poder precisar se esteve ou não presente nessa reunião em particular. Na resposta escrita que enviou à Renascença, diz ainda que participou em muitos contactos com clientes durante a sua actividade no Citigroup.

Por outro lado, garante que as propostas eram elaboradas em Londres por equipas especializadas, que depois as apresentavam acompanhadas de elementos da área de mercados do Citi Portugal. Paulo Gray assegura que estas propostas cumpriam estritamente todas as obrigações contabilísticas e de "report", quer ao Eurostat, quer às agências de "rating".

Paulo Gray afirma que é claramente subjectivo o que a imprensa escreve relativamente ao facto de estas propostas visarem baixar artificialmente a dívida e o défice. O antigo director de mercados do Citigroup sustenta que o certo é dizer que as propostas tinham uma componente de financiamento da República e outra de cobertura de risco de taxa de juro.

Entretanto, Paulo Gray tornou-se um dos responsáveis da Stormharbour, consultora financeira que no ano passado foi contratada para dar apoio especializado à gestão dos "swaps" de alto risco das empresas públicas portuguesas.

Questionado se se sente confortável com a contratação da Stormharbour pelo Estado em 2012 para dar apoio aos contratos tóxicos de "swaps", Paulo Gray garante que a empresa de aconselhamento financeiro estava ciente da complexidade e dimensão da tarefa. Refere ainda que o propósito foi assistir o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) e o Estado com total rigor e transparência.

Paulo Gray argumenta ainda que o trabalho da Stormharbour é "independente e defensor dos interesses do seu cliente" e precisa que o trabalho da empresa com o Estado português ficou terminado em Maio com a conclusão das negociações com as instituições financeiras.

O primeiro lapso de memória
Esta sexta-feira, o novo secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, disse que não pode garantir se esteve ou não na apresentação "swaps" ao Governo de José Sócrates, numa reunião que decorreu em 2005. Segundo a revista "Visão", o objectivo da proposta era disfarçar os números do défice por via da contratação de "swaps". 

"Em concreto, em relação ao Governo, ao gabinete do senhor primeiro-ministro, não [me lembro]. Participava em dezenas de reuniões, em muitas era-me pedida a colaboração em cima da hora e não consigo precisar todas as apresentações em que estive presente, mas foram sempre elaboradas por equipas de especialistas e não tiveram o meu contributo ou participação", afirmou Joaquim Pais Jorge durante a fase de perguntas e respostas do "briefing" diário do Governo, em resposta a uma questão da Renascença.

Num esclarecimento prestado a outro jornalista, o secretário de Estado sublinhou não poder evidenciar "que tenha estado sequer nessa apresentação". "Não me lembro se estive. Não posso confirmar. Admito que [a reunião] existiu, uma vez que consta nos documentos do IGCP [Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público], mas repito não ter responsabilidade [na elaboração desses produtos financeiros ou na elaboração da sua apresentação]", acrescentou.