Turquia procura apoio da NATO para atacar Estado Islâmico e curdos

27 jul, 2015 • Anabela Góis e Filipe d’Avillez

As milícias curdas que actuam no terreno na Síria e no Iraque manifestam-se contra qualquer agressão turca aos curdos na região e dizem-se dispostos a defender o território contra Ancara.  

Turquia procura apoio da NATO para atacar Estado Islâmico e curdos
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia reiterou esta segunda-feira, em Lisboa, que “não existem diferenças” entre os dois grupos. "Por que é que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) está a lutar contra o Estado Islâmico (EI)? Pelo território, integridade da Síria ou paz na Síria? Não, é porque eles querem furar certas partes da Síria, eles querem controlar certas áreas, eles lutam entre si por poder", afirmou Mevlüt Çavuşoğlu durante uma visita oficial a Portugal para um encon
A Turquia espera o apoio da NATO aos ataques que tem lançado contra os curdos do PKK no norte do Iraque e contra o Estado Islâmico na Síria, diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros.

De visita a Portugal, na véspera da reunião extraordinária dos 28 membros da NATO, Mevlut Çavasoglu sublinha que é a segurança de toda a região que está em causa.

“Vamos, naturalmente, informar os nossos aliados sobre as ameaças à segurança e sobre as acções da Turquia. O que esperamos? Claro que esperamos solidariedade e apoio da parte dos nossos aliados da NATO, tendo em conta as ameaças à segurança na região”, afirmou, em declarações aos jornalistas.

O ministro sublinhou a ameaça que o Estado Islâmico coloca. “O Estado Islâmico é o nosso inimigo comum, como o ministro Rui Machete enfatizou”, disse Çavasoglu. “Precisamos de combater todos os tipos de terrorismo e de terroristas, seja na nossa vizinhança seja em qualquer parte do mundo“.

O ministro turco dos Negócios Estrangeiros falava numa conferência de imprensa conjunta com Rui Machete. Os dois ministros inauguraram esta segunda-feira um memorial de homenagem às vítimas do atentado terrorista em Lisboa em Julho de 1983, que foi levado a cabo por um grupo armado de arménios que tomaram de assalto a embaixada da Turquia, que culminou na morte de sete pessoas.

Cristãos contra intervenção turca
A posição da Turquia no conflito que começou na Síria e se espalhou ao Iraque tem sido alvo de muitas críticas ao longo dos últimos anos.

Ancara foi fortemente criticada pela comunidade internacional durante o cerco de Kobani, uma cidade curda que fica junto à fronteira com a Turquia, por parte do Estado Islâmico. O cerco durou vários meses e os militares curdos acabaram por conseguir manter a cidade livre, em grande parte graças ao apoio da coligação internacional que deu apoio aéreo. A Turquia manteve sempre um contingente militar forte e a postos do seu lado da fronteira, mas nunca interveio.

Agora que a Turquia decidiu começar a agir militarmente contra os terroristas do Estado Islâmico, o facto de ter começado também a atacar os soldados curdos - dos únicos que no terreno têm feito frente ao Estado Islâmico - é condenado entre outros pelas milícias cristãs daquela região que têm lutado ao lado dos curdos com quem partilham o território.

“Juntamente com os curdos, os árabes e outros vizinhos, criámos a Administração Própria Democrática que agora fornece liberdade, democracia, segurança e estabilidade para todos os povos do Norte da Síria que resistiram ao Estado Islâmico ou que foram recentemente libertados destes terroristas”, pode ler-se no comunicado da autoria de uma organização que representa na Europa os cristãos da Síria e do Iraque, conhecidos como assírios ou siríacos.

“Criámos a nossa própria força de autodefesa, o Conselho Militar Siríaco, que tem crescido a olhos vistos e juntamente com o YPG (curdos), o Sanadid (árabes) e o Exército Livre da Síria temos combatido contra o Estado Islâmico. Até agora temos sido a força mais bem-sucedida contra estes terroristas”, diz ainda o comunicado do Conselho Siríaco Europeu.

“Pedimos à NATO que não ceda nem exija da Turquia um ataque aos curdos na Síria. Qualquer ataque à nossa Administração Própria Democrática será inevitavelmente um ataque a todos os nossos povos e levantar-nos-emos para nos defendermos de um ataque turco, uma vez que os nossos povos vivem misturados e lado-a-lado”, termina a nota.