O concelho com mais desemprego no país

30 abr, 2013 • Olímpia Mairos

Cursos profissionais têm tentado colmatar os 27% de taxa de desemprego. Condição de acesso está a inflacionar negativamente as estatísticas no concelho.

O concelho com mais desemprego no país
Mesão Frio é um pequeno concelho duriense, marcadamente rural, a sua economia é dominada pela cultura da vinha e da produção de vinho, em constante declínio. Não há indústria, escasseiam os serviços e também não há grandes superfícies. O flagelo do desemprego, que não é de hoje, atinge sobretudo a população jovem e de meia idade essencialmente a feminina. Mesão Frio é recordista em termos de desemprego: 27% da população não tem qualquer ocupação remunerada.

Encravado geograficamente entre os distritos de Vila Real e Porto, Mesão Frio é, segundo as estatísticas, o concelho do país onde a taxa de desemprego é mais elevada: 27% dos habitantes não têm trabalho.

A falta de trabalho atinge, sobretudo, a população jovem e de meia idade, sobretudo feminina.

O pequeno concelho duriense com pouco mais de 25 mil metros quadrados, rodeados por socalcos entre o Douro e o Marão, não consegue fixar a população e também não é capaz de gerar emprego.

“A conjuntura nacional e internacional, o desinvestimento que foi feito na vinha, a situação da autarquia em saneamento financeiro” são as razões apontadas pelo presidente da Câmara, Alberto Pereira, para o flagelo.

O autarca é o primeiro a admitir que, “de há muitos anos a esta parte, Mesão Frio tem colmatado o desemprego com os cursos de formação”.

“As pessoas mal se sentem em dificuldades de emprego vão fazer a sua inscrição para frequentarem esses cursos”, refere à Renascença, salientando que não concorda com o número que é apresentado como desemprego efectivo no concelho.

“Acho que isso era um caso de estudo, porque, se existisse esta estratégia noutros concelhos, com certeza que Mesão Frio não estaria à frente desses números”, remata.


Um concelho rural
Mesão Frio é marcadamente rural. A sua economia é dominada pela cultura da vinha e da produção de vinho, em constante declínio. Não há indústria, escasseiam os serviços e também não há grandes superfícies. A oferta de trabalho quase não existe.

Rosa Maria tem 37 anos. Durante vários anos cuidou de crianças, mas há dois ficou sem trabalho. “Estou farta de bater a todas as portas, mas aqui não há nada”, lamenta, ao mesmo tempo que assegura que não vai desistir.

Maria Leonor tem 28 anos e também está à procura de trabalho. “Com quatro filhos, tem que se procurar emprego e por todo o lado”, afirma, não escondendo as dificuldades que atravessa: “É tudo tão complicado. É preciso cortar em tudo, deixar só o básico para os miúdos e para a casa”.


Perda de População
Nos últimos 10 anos, Mesão Frio perdeu mais de 10% da população. Neste momento, tem pouco mais de 4.400 habitantes. Muitos filhos da terra emigraram à procura de melhores condições de vida, refere à Renascença o autarca local, Alberto Pereira.

Enquanto a tão desejada oportunidade de emprego não surge, os cursos de formação profissional, oferecidos pelo Centro de Emprego local, são preenchidos essencialmente por mulheres, que ali encontram uma maneira de ocupar o tempo, adquirir competências e ganhar algum – pouco! – dinheiro com o subsídio de alimentação.

“O dinheiro que nos dão é o dinheiro da marmita. São 4,27 euros que ganhamos por dia, não é muito, mas onde chegar tapa”, confessa Isilda Pinto, de 54 anos e a frequentar um curso de informática.

Bruno Pereira é o formador. Na sua turma só há mulheres, mas serão elas que têm mais dificuldade em encontrar trabalho?

“Não é bem por aí”, responde. E explica: “Aqui ainda se usa o modo tradicional de antigamente, em que só o homem trabalhava e a mulher ficava em casa, como doméstica”.

Hoje, as mulheres procuram emprego como os homens, mas, porque não encontram trabalho, vão frequentando os cursos profissionais. De resto, há quem diga por aqui que são precisamente os cursos, alguns remunerados, que fazem disparar a taxa de desemprego.