Politécnicos sugerem que ingresso passe a ser feito pela disciplina exigida

25 fev, 2015

As alterações propostas ao Governo no regime de acesso, serão facultativas.

O conselho coordenador dos politécnicos esclarece que as alterações ao regime de acesso ao ensino superior prevêem que a prova de ingresso possa deixar de ser o exame nacional, para ser a nota final à disciplina exigida.

Em declarações à Lusa, o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos (CCISP), Joaquim Mourato, explicou que as alterações propostas ao Governo, por estas instituições, no regime de acesso, serão facultativas, podendo manter-se a situação vigente para os institutos que assim o entendam, nomeadamente os politécnicos que votaram contra a proposta.

O CCISP propôs ao Governo uma alteração das regras de acesso ao ensino superior para estas instituições, eliminando a obrigatoriedade de aprovação nos exames de acesso, revelou na terça-feira o Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), considerando que a proposta cria "uma grave diferenciação entre o sub-sistema universitário e o subsistema politécnico".

"Esta diferenciação consiste na desvalorização das condições de acesso ao ensino superior politécnico, deixando de ser obrigatória a aprovação dos alunos do ensino secundário nos exames às disciplinas de ingresso, bastando para tal a aprovação na avaliação interna de frequência a essas disciplinas", explicava o comunicado do sindicato.

Os institutos politécnicos de Lisboa, Porto, Coimbra e Leiria votaram contra esta proposta apresentada ao CCISP por três presidentes de três institutos, disse à Lusa o presidente do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), Luís Vicente Ferreira.

"Nós entendemos que não é aceitável essa condição de acesso diferenciada do subsistema universitário", declarou o presidente do IPL, que considerou ainda que a aprovação destas alterações poderia representar "uma via de acesso mais fácil" ao ensino politécnico, algo que os quatro institutos que votaram contra a proposta recusam.

Hoje, Joaquim Mourato, sublinhando o seu carácter de aplicação facultativa, disse que com a alteração proposta se pretende transformar a nota final do ensino secundário às disciplinas específicas exigidas no ingresso - variáveis consoante os cursos - na prova de ingresso no ensino superior.

Contabilizar a nota final da disciplina implica ter em conta, não só a nota do exame nacional na disciplina em questão, mas também a classificação interna, que avalia o trabalho desenvolvido pelos alunos no percurso escolar, o que significa que um aluno que não atinja a positiva no exame nacional, mas consiga aprovação na disciplina não fica excluído de se candidatar a um curso que a exija como prova de ingresso.

Esta medida pode ter nos cursos mais técnicos e científicos, que exigem Matemática e Física e Química como provas de acesso, e que são as disciplinas em que geralmente os alunos do ensino secundário obtém resultados mais baixos nos exames nacionais, ainda que consigam classificações finais positivas.

"Efectivamente, não é um exame que define o que um aluno sabe ou não, não é numa hora e meia de exame que se determina o percurso de anos", declarou Mourato, que justificou a proposta com a necessidade de atrair mais alunos para o ensino superior, sobretudo para áreas com "escassez de quadros qualificados", como as engenharias.

Joaquim Mourato disse que não receia o impacto que a alteração proposta possa ter na qualidade da aprendizagem e conhecimentos dos alunos que ingressem nos politécnicos, frisando que "são casos residuais" aqueles em que há um grande desfasamento entre a nota final do secundário e a nota do exame nacional, e citando estudos que, afirmou, demonstram que "o nível que o aluno traz do secundário se mantém no ensino superior".

"Acho mais grave o caso dos jovens que não conseguem alcançar 9,5 valores (limiar da positiva) no exame e que por causa disso ficam excluídos de se candidatar a um curso superior que requeira aquela disciplina, optando por matricular-se num que não é nem a sua vocação, nem aquilo de que o país precisa", declarou o presidente do CCISP.