É tudo novo: a cidade, as pessoas, a língua e até os sonhos. Até há poucos dias, Kateryna Ostrovka, de 56 anos, e o marido, Ilhor Ostrovski, de 57, eram professores universitários em Lviv, no oeste da Ucrânia. Tinham uma vida estável, uma família unida, um emprego de que gostavam, uma casa e dois carros. Esperavam ver os filhos crescer no país e passar ali a reforma.
Agora, moram numa casa emprestada, não sabem durante quanto tempo; contam com o apoio gratuito de um advogado, para se legalizarem em Portugal; e com a solidariedade de uma organização que se disponibilizou a pagar os medicamentos do filho mais velho, de 27 anos, com deficiência profunda.
Não têm trabalho, nem sabem se poderão exercer aqui as suas competências profissionais. “Somos como crianças perante uma nova realidade”, constata a professora. “Morremos e agora temos de renascer.”
Kateryna e Ilhor chegaram a Portugal há pouco mais de uma semana. Viajaram de carrinha com os dois filhos, e com os pais dele, já idosos, a mãe de 81 anos, o pai de 86. “Assim que passámos a fronteira, sentimo-nos em segurança”, recorda Kateryna. “Sabíamos que ali não iriam cair bombas”, acrescenta a ucraniana, contando que tomaram a decisão de sair do país, pouco depois da invasão russa. “Assim que começaram a soar as sirenes, percebemos que não havia outra escolha. Era preciso ir para um sítio seguro.”