À primeira vista, a estratégia está a resultar: a Aliança Sahra Wagenknecht cresce nas intenções de voto enquanto a AfD perde pontos, embora não seja possível ver nas sondagens se uma coisa está relacionada com a outra.
"Acredito que Wagenknecht possa ter sucesso, conquistando parte do eleitorado da AfD e possivelmente eleitores de esquerda", comenta o politólogo Frank Decker.
"Há, por exemplo, eleitores de centro-esquerda que não partilham algumas posições mais 'humanitárias' sobre o tema migração. Há também questões como o subsídio de desemprego, que o SPD [o partido do chanceler Olaf Scholz] subestimou, porque o subsídio não difere muito de um salário normal". A este propósito, os críticos chegaram até a perguntar se vale a pena trabalhar.
Uma fórmula contra o populismo
O SPD venceu as eleições federais em 2021 com 25,7% dos votos, mas nas últimas sondagens não vai além dos 16%. Os parceiros de coligação têm piores resultados: os Verdes oscilam entre os 12% e os 15%; os liberais (FDP) não conseguem mais do que 6%. Será possível a estes partidos combater o populismo? Ou até mesmo aos conservadores da CDU/CSU, que lideram as sondagens com 30%?
Há cinco anos, o politólogo alemão Timo Lochocki publicou um livro intitulado "A fórmula da confiança: Como a nossa democracia pode recuperar os seus eleitores". Lochocki escreveu que os "partidos tradicionais" são confrontados com um grande obstáculo: "encontrar respostas adequadas para desafios internacionais e comunicá-las de forma atraente para eleitores que sejam tanto contra como a favor da globalização", sem desconsiderar a cultura e a identidade nacionais.
Os "partidos tradicionais" não se podem dar ao luxo de ignorar estas questões, refere o professor Frank Decker, da Universidade de Bona. Ele deixa três conselhos:
1. Ouvir os eleitores. Se há problemas por resolver, é preciso reconhecer isso, sem filtros nem subterfúgios. O politólogo exemplifica: "É, de facto, um problema quando os refugiados são alojados em ginásios e esses ginásios deixam de estar disponíveis para aulas escolares. Isso não pode acontecer, e os partidos têm de sinalizar à população que têm isso sob controlo".
2. Copiar estratégias dos populistas não funciona. Estudos indicam que, "quando o discurso dos partidos tradicionais entra em 'território' dos populistas de direita, os populistas são quem sai mais beneficiado", menciona Decker. Sendo assim, cada partido teria de encontrar soluções "à medida" dos seus princípios e valores: "Os partidos de esquerda podem focar tópicos sociais. Na migração, por exemplo. Esta é uma questão que não tem a ver com migrantes contra nativos. Isto é algo que, no fundo, está relacionado com o fosso entre os mais ricos e os mais pobres".
3. Melhorar a comunicação. Apostar mais nas redes sociais, como faz a Alternativa para a Alemanha, que até tem um canal online de TV, além de centenas de milhares de seguidores na plataforma TikTok. Além disso, seria preciso perceber que, no discurso político, emoções não se "combatem" com lógica; emoções "combatem-se" com emoções, notam Timo Lochocki e Frank Decker. O foco dos populistas, explica Decker, tem sido uma "emocionalização" negativa que alimenta medos e inseguranças. Porém, os chamados "partidos tradicionais" podem ripostar com mensagens positivas e mostrar que não vem aí o fim do mundo. "Nós ficamos com a impressão de que está tudo a ficar pior, mas não é verdade. Em diversos aspetos, vivemos num mundo melhor do que antigamente, com mais prosperidade", apesar de se manterem injustiças na distribuição da riqueza, conclui o professor.
Em junho, há eleições para o Parlamento Europeu. Acredita-se que os populistas de direita, eurocéticos, como a AfD, deem um salto significativo, a avaliar pelo crescimento destes movimentos em países como a Alemanha, França, Itália, Espanha ou Portugal. Os "partidos tradicionais" seriam empurrados para posições bastante menos cómodas.
O Conselho Europeu sobre Relações Internacionais, um centro de pesquisa, avisou no início do ano que "esta forte guinada à direita pode ter consequências significativas nas políticas europeias, que afetarão as escolhas na política externa", particularmente no combate às alterações climáticas. Por outro lado, a guerra na Europa persiste, tal como a incerteza socioeconómica.