A Cisjordânia foi dividida em três áreas pelos Acordos de Oslo, em 1993, numa solução que deveria ser temporária, até um acordo de paz final ser alcançado.
Hoje, 30 anos depois, cerca de 2,8 milhões de palestinianos vivem acantonados em enclaves entre as áreas A e B (controladas, total ou parcialmente, pela Autoridade Palestiniana). A área C (mais de 60% do território) é inteiramente controlada por Israel. É onde se localizam os colonatos, que têm já mais de meio milhão de habitantes.
De acordo com várias resoluções das Nações Unidas (ONU) – a última das quais aprovada em 2016, com abstenção dos Estados Unidos – e a interpretação internacional mais comum da IV Convenção de Genebra, todos os colonatos israelitas nos territórios palestinianos ocupados em 1967, incluindo na zona oriental de Jerusalém, são ilegais. São vistos como um dos maiores entraves a uma solução de paz para a região, por ocuparem território que deveria estar destinado a um futuro estado palestiniano. Expandindo-se cada vez mais e fraturando as ligações entre cidades palestinianas podem sabotar a hipótese de esse intento alguma vez se concretizar.
Israel discorda da interpretação: defende que a IV Convenção não se aplica aos territórios palestinianos ocupados e considera a maioria dos colonatos legais. Benjy Myers acusa “o mundo" de injustiça: “Tanto quanto entendo da lei internacional, estes são territórios disputados, o que significa que são disputados por todos. Todos os lados envolvidos dizem que esta é a sua terra. A solução para isso é por via da negociação, da diplomacia, mas é uma disputa”, defende.
Pela lógica do rabi, não faz sentido enfrentar restrições de construção e passar por uma cadeia burocrática que vai “de gabinetes relevantes do governo” até “ao presidente dos Estados Unidos” caso queira fazer “uma pequena extensão de um metro quadrado” na sua casa.
"É uma disputa. É algo que pode ser resolvido. Mas quando alguém está a disparar contra ti, não é o momento para lhes oferecer uma chávena de chá."
Desde 2012, ano em que Myers fixou residência no colonato de Migdal Oz, 6622 infraestruturas palestinianas foram demolidas na área C, resultando em mais de 7900 deslocados. Os dados são do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla inglesa).
Estes números dizem respeito a infraestruturas como casas, abrigos de animais, cisternas ou edifícios comunitários. Mais de 6500 destas construções foram demolidas com o argumento de que não tinham licenças de construção – o que pode acontecer, como o rabi refere, por ter sido feito algum melhoramento no edifício. Algo que está extremamente limitado em toda a área C.
Em teoria, estas limitações aplicam-se a palestinianos e israelitas, mas o constante crescimento de colonatos na Cisjordânia torna evidente que as regras não são aplicadas de igual forma entre os dois lados. Estima-se que pelo menos meio milhão de colonos vivam hoje na Cisjordânia, espalhados pela área C, e mais de 200 mil na zona oriental de Jerusalém. Eram perto de 100 mil em 1993, quando os Acordos de Oslo foram assinados.
Questionado sobre as constantes denúncias de palestinianos e de organizações humanitárias sobre demolições e apropriações de terras, Myers retoma a mesma argumentação, mas recentra-a no cenário de guerra atual: “Claro. É uma disputa. É um debate. É algo que pode ser resolvido. Mas neste momento eles estão a disparar – balas e rockets. E quando alguém está a disparar contra ti, não é o momento para lhes oferecer uma chávena de chá.”
“Não tenho outra escolha se não suspeitar”
Antes de 7 de outubro, era comum ver trabalhadores palestinianos nos colonatos e Migdal Oz não era exceção. “Quando é possível, queremos ter relações amigáveis – e temos – com palestinianos à nossa volta. Temos palestinianos que vêm trabalhar no kibutz, conseguem ter um meio de sustento por trabalharem aqui. Apoio totalmente isso”, garante o rabi.