19 mai, 2020 - 13:45 • Pedro Azevedo
A Estónia é o terceiro país da Europa a retomar o campeonato de futebol, depois da Alemanha e das Ilhas Faroé.
Estão marcados, para esta terça-feira, três jogos do principal escalão daquele país báltico. Para já, os jogos serão à porta fechada, mas a partir do dia 1 de julho poderá haver um número limitado de adeptos nas bancadas. A Estónia regista poucos casos de Covid-19: perto de 1800 e 64 óbitos desde o início da pandemia.
O escasso número de casos e a possibilidade de, nesta altura, a Estónia poder vender direitos dos jogos a outros países são as razões para a retoma imediata, como explica, em entrevista a Bola Branca, Victor Silva, treinador do Harju da Estónia.
“Nas últimas semanas o número de novos casos ronda os cinco a dez casos por dia, mas a Estónia é um país pequeno com cerca de um milhão de habitantes. De qualquer modo, o país está numa fase de retorno à normalidade e o futebol conseguiu o apoio e a confiança do governo para avançar. O impacto que o futebol tem na sociedade é menor que em Portugal, movimentando menos gente o que ajudou na decisão da luz verde para o regresso do futebol. Outro facto poderá ser a oportunidade que poderá surgir na transmissão de jogos para outros mercados. A I Liga inicia-se com três jogos e não é por acaso. Há aqui uma oportunidade de direitos televisivos que a Federação está a tentar explorar”, justifica o treinador português.
O futebol regressa na Estónia com muitas restrições. A porta fechada está prevista pelo menos até 1 de julho e haverá regras de distanciamento entre os intervenientes:
“Todos os elementos terão de manter o distanciamento de dois metros antes e depois dos jogos. As equipas que viajam de autocarro não podem ter os jogadores dentados lado a lado. Terá de ficar um assento livre para distância de segurança. No estádio todos os elementos terão de controlar a temperatura e não serão permitidos os apertos de mão e os abraços."
A Federação da Estónia contou com o apoio do governo, em cima da hora, para retomar os treinos e voltar à competição.
Victor Silva fala de escasso tempo de treino para preparar as equipas, depois da pausa competitiva provocada pela pandemia.
“A Federação Estoniana deu autorização para recomeçar os treinos no início de maio. Treinos sem contacto com grupos até 10 elementos, em meio campo, respeitando sempre a distância de dois metros. Estivemos neste registo de treino durante duas semanas. Ontem tivemos o nosso primeiro treino de equipa com contacto, um treino normal. No entanto, a competição para nós inicia-se no próximo fim de semana o que será um grande desafio não só na prevenção de lesões porque neste momento os jogadores não estão preparados para a competição, como na preparação mental. Recordo que os jogadores passam de um registo de não contacto para a competição no espaço de uma semana. Será certamente um grande desafio”, considera.
Ao contrário de muitos treinadores portugueses espalhados pelo mundo, Victor Silva optou por não regressar a casa durante a interrupção do futebol e período de isolamento, permanecendo na Estónia:
“Optei por ficar cá uma vez que sabia que a autorização para retomar os treinos poderia ocorrer de uma semana para a outra. Não corri riscos e acabou por ser uma decisão acertada porque tivemos a confirmação do regresso aos treinos numa sexta-feira e no dia seguinte há equipas que recomeçaram a treinar."
Natural de São João da Madeira e com uma experiência anterior no futebol japonês, Victor Silva, de 31 anos, está na Estónia desde 2018.
O treinador do Harju, da Estónia, foi campeão nos escalões secundários e continua a comandar um projeto que visa continuar a subir degraus no futebol do país báltico. A equipa está na quarta divisão.
“A oportunidade surgiu através do José da Paz que era cá treinador. Neste momento objetivo do clube passa por colocar a equipa sénior no top 30 da Estónia. Na época passada fomos campeões e subimos de divisão estando agora a um degrau de colocar o clube no top 30. Subir não é um objetivo assumido, mas queremos andar na luta e atingir essa meta no final”, declara.