Entrevista

Bem Gil e Moreno Veloso estão em Portugal e precisam de uma bicicleta

12 abr, 2024 - 22:08 • Filipa Ribeiro

Filhos de Gilberto Gil e Caetano Veloso dão início esta sexta-feira a seis espetáculos em Portugal. Concertos intimistas em que no palco estão acompanhados apenas por uma bicicleta. Fruto da amizade dos pais sempre se conheceram e inspiraram-se na música um do outro.

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Entevista Bem Gil e Moreno Veloso
Ouça a entrevista a Bem Gil e Moreno Veloso. Foto: Andre Hawk

Conhecem-se desde que Bem Gil nasceu, há 39 anos, mas só em 2019 subiram a palco juntos para o espetáculo que chega agora a Portugal. Passaram por várias cidades brasileiras e decidiram rumar a Portugal para seis espetáculos.

À Renascença, Bem Gil e Moreno Veloso recordam o percurso dos dois e falam do espetáculo que chega a ser um ensaio para o lançamento de novos discos, e que recebeu, de forma indireta, a aprovação dos pais.

Sabemos da ligação entre os pais dos dois - Caetano Veloso e Gilberto Gil – mas como é que começou a vossa?

Moreno Veloso: Eu conheço o Bem Gil desde que ele nasceu. Eu sou um pouco mais velho do que ele, então eu fui visitá-lo ainda recém-nascido. Gostei muito de o ver crescer e desenvolver na música. E hoje em dia somos parceiros, temos composição juntos e este espetáculo juntos que me alegra muito.

Mas há um dia em que o Moreno Veloso vai a casa de Gilberto Gil apresentar o primeiro disco. E foi aí que despertou a vontade de Bem Gil ser compositor. Verdade?

Bem Gil: Eu tinha 15 anos quando o Moreno lançou o primeiro disco, uma fase importante na formação. A minha relação com a música era até lá só familiar, frequentava muitos ambientes musicais por causa do meu pai. E a partir daquele momento eu passei a ter um desejo de atuar a tocar algum instrumento, a compor.

Quando é que vão os dois para o palco? Qual é a primeira vez em que experimentaram espetáculos juntos?

Moreno Veloso: É difícil dizer, porque estivemos juntos em muitas situações diferentes. Por exemplo, dividimos o palco no projeto do “Refavela 40 anos”, que era a comemoração de 40 anos do disco "Refavela" do Gil. Foi um projeto muito importante, muito grande com que fico feliz por o Bem o ter construído e me ter convidado.

Também tivemos juntos nos estúdios de gravação a produzir discos juntos. Admiro muito o trabalho dele e estivemos juntos em discos do pai dele. E ainda trabalhamos os dois no disco da esposa dele.

Mas a primeira vez com o Bem a cantar só aconteceu em 2019.

Bem Gil: Sim, com a ideia deste espetáculo. Em 2019 recebi um convite para fazer um espetáculo no Rio de Janeiro, que é onde o Moreno mora e onde eu morava a época. Era um projeto que tinha como proposta incentivar espetáculos novos. A ideia foi montar um concerto inédito para apresentar no teatro em Ipanema, no Rio de Janeiro. E eu tinha assistido a um concerto de dois artistas que se resolveram juntar e eu pensei também nessa possibilidade e a primeira pessoa que me veio à cabeça foi o Moreno. Porque pensei em tocar as minhas composições e é uma coisa em que tenho pouca experiência no palco, e chamei o Moreno porque, além de uma referência, ele é uma pessoa muito generosa, seja no ambiente profissional ou familiar. Além da inspiração que é.

Correu bem no Rio de Janeiro e no restante Brasil e pensaram então trazer essa experiência para a Europa, para Portugal.

Moreno Veloso: Ficámos felizes com o resultado. Ajudou-nos muito a desenvolver os nossos trabalhos. O meu próximo disco está praticamente pronto e eu ganhei a fazer estes espetáculos ao lado do Bem. O meu próximo disco está praticamente pronto e tem muito da experiência que eu ganhei a fazer estes concertos ao lado do Bem. E com ele a mesma coisa. O Bem também tem o disco dele, primeiro, praticamente pronto que também nasceu desta experiência que fizemos juntos e que estamos a trazer para a Europa pela primeira vez.

O que é que podemos esperar? Músicas dos dois, algumas músicas dos vossos pais, como é que será o reportório?

Bem Gil: Quando convidei o Moreno a prerrogativa era justamente que fosse um concerto de autor, não necessariamente metades iguais, parte do espetáculo tem canções minhas e outra parte canções do Moreno.

Cumprimos durante muito tempo este conceito, mas uma coisa curiosa que aconteceu é que o Moreno regravou uma música do bloco Oludum - um bloco afro de Salvador - e a versão do Moreno é uma versão de autor e pela primeira vez não era tocada e então abrimos uma exceção porque o público esperava sempre por ela. E agora não vai ser diferente. Vamos abrir exceções, mas 85% do reportório vai ser composto por canções nossas.

No caso do Moreno, algumas já são músicas conhecidas porque foram já gravadas por outros artistas e, no meu caso, há uma que resulta de uma parceria com o meu pai, que já saiu no último disco dele, mas a maioria das minhas músicas são inéditas, porque eu estou para lançar o meu primeiro disco.

Vão desvendar os vossos próximos discos, mas nunca pensaram fazer um em conjunto?

Claro que pensamos, mas antes disso acontecer temos de honrar a nossa proposta e dar força aos nosso discos a solo.

São concertos mais intimistas, porque estão só os dois em palco. Não é assim?

Bem Gil: Somos só nós os dois e, geralmente, há uma bicicleta atrás de nós. A pensar no espetáculo pensamos também na parte cénica.

Porquê a bicicleta?

Bem Gil: Porque o Moreno é um grande ciclista. Nos primeiros espetáculos, inclusive, ele ia para o teatro de bicicleta e é essa que utilizávamos. O que é bom porque nos sentimos sempre acompanhados por ela e quando estamos longe de casa o Moreno não tem a bicicleta dele, mas pedimos sempre uma emprestada. Estamos só nós os dois, uma viola, um prato e a minha guitarra.

Moreno Veloso: E contámos também com a participação da esposa do Bem, uma das melhores recentes cantoras do Brasil, que está aqui conosco também em Portugal, com uma participação especial em Coimbra.

Em Coimbra e também nos próximos?

Sim, nas cidades portuguesas e vai depois até Paris.

Sabemos, portanto, agora desta participação de alguém da família, pediram também a opinião aos restantes familiares ligados à música?

Não pedimos opinião a eles e não precisávamos. Eles foram assistir e disseram que gostaram.

Em Portugal têm seis datas marcadas. É a prova do que o público português vos quer receber mais vezes e bem.

Bem Gil: Ficamos muito felizes. O Moreno já trouxe o espetáculo dele a Portugal muitas vezes e eu já tive a oportunidade de vir com meu pai. Poder estar aqui outra vez é uma alegria muito grande, ficamos felizes e esperamos que os portugueses estejam sempre abertos para nos receber.

Torna-se mais fácil quando estamos perante um público que a mesma língua?

Sem dúvida, as nossas canções são em português e este é também um espetáculo onde falamos e contamos um pouco da nossa história, da nossa admiração mútua, e isso é bem mais direto quando é feito em português.

A vossa passagem acontece em vésperas de uma data importante em Portugal. Os 50 anos deo 25 de Abril - dia da Liberdade em Portugal. Será esse também um tema no vosso espetáculo?

É um tema importante da atualidade e da nossas vidas. Eu nasci ainda na ditadura brasileira e ainda pequeno comemorei a liberdade de Portugal. No dia 25 de Abril já estive nas ruas em Lisboa a comemorar algumas vezes.

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