28 jul, 2023 - 23:30 • Liliana Carona
Chegaram as peregrinas ou "filhas", assim considera Idalina Duarte, de 90 anos, uma portuguesa que recebe, por estes dias, duas peregrinas de França, devido à Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
“São filhas mesmo…estou feliz que elas estejam felizes. Fiz as camas de forma especial com os lençóis bordados à mão”, mostra num dos quartos, da moradia localizada em Mangualde da Serra, concelho de Gouveia.
Está feliz? “Mas de que maneira, mesmo não sabendo a língua, são bem-vindas, gosto de acolher o outro, seja lá onde for”, sublinha Idalina, que foi catequista durante vários anos, apenas lamentando não dominar o idioma das convidadas: “Só tenho pena delas não falarem inglês. Eu gosto de falar, não gosto de estar calada, mas não sei francês”.
As "filha", peregrinas de Tours que entram em casa sem perceber português, rapidamente são apresentadas à cultura portuguesa. Fala-se de fado e de queijo da serra.
Voluntária para acolher peregrinos, Idalina, que foi emigrante na América durante 25 anos, chamou o irmão Cândido Agra, 75 anos, professor universitário, para ajudar nas traduções de francês.
“Vim para visitar a minha irmã e colaborar. Já organizei a minha vida na Universidade do Porto para estar aqui. É a humanidade do Homem que está aqui em causa, que se manifesta em gestos como estes”, refere.
Idalina "não imagina" que tem 90 anos e é junto dos jovens que se sente como peixe na água.
“Às vezes falam nos velhos e é que me lembro”, sorri, enquanto recebe das mãos das peregrinas champanhe e mel. E além dos produtos parisienses e do queijo da Serra da Estrela, a mesa vai sendo composta com rolo de carne e arroz de cenoura, semifrio de pêssego e leite creme para a sobremesa. Tudo feito pela Idalina.
As peregrinas Laëtitia de Commines, 20 anos, estudante de Direito e Agathe Duveau, de 19, aluna de Terapia da Fala, agradecem.
"Estou super feliz e muito bem acolhida, ainda não liguei à minha família, eles confiam, pas de nouvelles, bonnes nouvelles”, refere Laëtitia.
"É a primeira vez em Portugal, um país muito acolhedor, caloroso, a montanha é soberba. Estou a adorar os queijos”, destaca Agathe que espera viver momentos de espiritualidade e reencontro na JMJ.
Estudantes do ensino superior em França, as peregrinas mostram curiosidade pela cultura portuguesa que conhecem pela primeira vez. Nunca tinham ouvido falar em fado. Saudade é também uma palavra nova para estas peregrinas que com certeza desta casa portuguesa vão sentir falta.
“Temos vários ministros da comunhão que são orientadores das celebrações dominicais na ausência do presbítero e vão decorrer essas celebrações generalizadas em todas as paróquias. Celebração da palavra com distribuição da comunhão, mas não é eucaristia”, explica o pároco de Mangualde da Serra, o padre Rafael Neves, 37 anos, que não esconde a satisfação por ver tantas famílias a acolherem peregrinos.
“Desde o primeiro momento quando comecei a anunciar, que as pessoas se foram alistando para acolher os jovens, cerca de 40 jovens, por 20 famílias. Foram quase naturalmente dizendo que iam acolhendo, independentemente das condições em casa”, elogia o pároco de Mangualde da Serra, São Martinho/Santa Marinha, Paços da Serra, Moimenta da Serra, Aldeias e Vinhó.
Na passagem pelos concelhos de Gouveia e Seia, os peregrinos vão realizar visitas a IPSS, caminhadas pela natureza, banhos nas praias fluviais, e contacto com as famílias de acolhimento, partilhando a vida.