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Papa em Portugal

Vida na Serafina. Tráfico de droga, mel e um centro paroquial com “obra feita”

25 jul, 2023 - 06:30 • Cristina Nascimento , Ricardo Fortunato (fotos)

Papa vai ao Alto da Serafina, em Campolide, na sombra do Aqueduto das Águas Livres. Moradores preparam visita de Francisco a uma zona dividida em duas: de um lado o bairro da Serafina, construído no Estado Novo, do outro, o bairro da Liberdade, marcado por casas degradadas e tráfico de droga.

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Podia ser uma manhã de julho como outra qualquer, mas no Alto da Serafina vai-se fazendo uma contagem decrescente para a visita do Papa. A 4 de agosto, Francisco vai ao Centro Social e Paroquial São Vicente de Paulo.

“Dia 28 já vai estar fechado para prepararmos as últimas coisas”, conta à Renascença Maria Idalina Pinto, 66 anos, moradora na zona há meio século.

De bata, cabelo arranjado e delicada no trato, Maria Idalina explica que faz parte do Apostolado da Oração e que nas últimas semanas desdobram-se em afazeres.

“Uma senhora está a fazer uma toalha para pôr no altar e também estão a ser feitos alguns arranjos cá fora”, descreve.

Francisco vai encontrar-se com representantes de alguns centros de assistência sócio caritativa, instituições que pretendem fazer a diferença na vida das pessoas. Leonor Diamantino, da Associação de Moradores do Alto da Serafina, reconhece que é o caso do Centro Social e Paroquial São Vicente de Paulo.

“Percebemos a vinda do Papa porque sabemos a obra feita pelo Padre Crespo, o responsável da Paróquia. Quando ele aqui chegou, a igreja era um barracão, uma coisa improvisada”, descreve. Com a vinda do Padre Crespo começaram a surgir respostas para as necessidades das populações: “o trabalho está feito. Construiu uma igreja de raiz, o centro de dia, o lar, o ATL para as crianças, está ali uma obra que é meritória e que deve ser reconhecida”.

Leonor e a António são os rostos da associação. Guiam a Renascença pelas ruas, partilhando memórias e recantos. São dois filhos do bairro, ali nasceram, cresceram e casaram. No início da vida adulta ainda saíram da Serafina, mas depressa voltaram. “Gostamos de viver aqui, é muito central, mas, ao mesmo tempo afastado da confusão”, explicam.

António Diamantino apresenta a geografia do bairro, num desdobrável da Câmara sobre a requalificação do pavimento. “Toda esta zona, a encosta em si, é a encosta do Alto da Serafina” e compreende dois bairros: o da Serafina e o da Liberdade.

Nascido no tempo do Estado Novo e pensado para residência de trabalhadores do Estado, “o bairro da Serafina está perfeitamente consolidado”, assegura. Já o bairro da Liberdade “nem tanto”, diz, acrescentando que é um bairro de "construção clandestina", as casas com poucas condições de habitabilidade e uma zona com problemas de tráfico de droga.

A diferença entre os bairros é visível no exterior das casas e mais ainda no interior.

António e Leonor levam-nos por uma rua, para irmos visitar uma senhora do tempo das suas mães. Vista por fora a porta que transpomos parece a porta de uma casa, mas não. Dá acesso a um pátio que é a zona de entrada comum a uma dezena de casas, pequeninas, muitas sem casa de banho.

É aqui que encontramos Maria Idalina. Gosta de viver na Serafina, mas reconhece que “mudou muito” neste meio século.

“Há certas coisas que a gente não gosta de ver”, diz. Maria Idalina referindo-se, sem mencionar, ao tráfico de estupefacientes.

Leonor Diamantino, da Associação de Moradores, explica que o que lhes foi dito é que “com a demolição do Casal Ventoso houve uma deslocação do tráfico de droga” para aquela zona.

Vai valendo a intervenção da PSP que tem uma esquadra com 48 elementos ali na zona. “Ainda ontem estava aqui a polícia”, relata Maria Idalina.

António Diamantino também se mostra preocupado com o problema do tráfico de droga. “Acredito que muitas pessoas, idosos, por exemplo, evitem determinadas zonas do bairro, sobretudo à noite”. Maria Idalina não parece ser uma das pessoas que se deixa amedrontar. "Fazem disparates, mas respeitam-nos", diz.

Quem não quer falar muito sobre este assunto é Manuel Martins. Tem 70 anos e há 40 que frequenta o bairro onde chegou a ter um estabelecimento comercial. Reconhece que muito mudou no bairro, mas prefere não “falar nisso”.

“Havia muita coisa para falar, mas eu não quero entrar nesses pormenores”, diz.

De porta aberta, quem passa na rua vê o que tem na garagem e somos surpreendidos com uma produção de mel.

“Tenho uma colmeia ali em baixo, em Monsanto, este ano consegui 50 litros, é bom para a quantidade abelhas que tenho é bom”, mostra orgulhoso. Na rua aproxima-se uma vizinha a passear dois cães: “é ótimo, ainda ontem provei”.

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