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Legislativas 2024

PCP acredita que cenário político está mais favorável e afasta-se da “Rússia capitalista”

04 mar, 2024 - 23:00 • Cristina Nascimento

No arranque da segunda semana de campanha e em vésperas do aniversário do partido, Paulo Raimundo dá uma entrevista à Renascença, na qual aborda também a influência do Chega.

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O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, acredita que o cenário político para as eleições legislativas do próximo domingo é mais favorável à coligação CDU do que há dois anos.

A opinião do dirigente máximo dos comunistas foi expressa em declarações à Renascença, numa entrevista no arranque da segunda semana de campanha e em vésperas do 103.º aniversário do partido.

Paulo Raimundo faz um balanço positivo da primeira semana e mostra-se convicto de que a bancada parlamentar não vai sequer emagrecer, muito menos desaparecer.

Nestas declarações, Paulo Raimundo foi questionado sobre se o eleitorado não se terá afastado por causa das posições relativamente à guerra na Ucrânia, um cenário que rejeita, assim como rejeita a teoria de transferência de votos para o Chega.

Sobre a segunda semana de campanha, o líder comunista revela que vai haver uma intensificação dos contactos de rua, um papel que tem gostado de desempenhar, mais até do que esperava.

Que balanço faz desta primeira semana de campanha?

É um balanço muito positivo, um contato muito diverso, com realidades muito diversas, contactos na rua, nas empresas, com comícios, mobilizações nossas... Estamos a contribuir para que os problemas centrais do país não passem ao lado da campanha. Pelo menos, é esse o esforço que tenho procurado fazer.

Tem dito que as sondagens acertam pouco, mas às vezes também acertam e, portanto, é possível que o PCP possa ter um resultado ainda mais baixo do que teve em 2022. O PCP está preparado para ter uma bancada mais pequena ou até mesmo desaparecer?

Não, acho que isso não se vai colocar. Quando digo que as sondagens, geralmente, não acertam é porque elas, geralmente, não acertam. Nos últimos dois atos eleitorais que tivemos, quer na Madeira quer nos Açores, a CDU cresceu. Portanto, acho que esse cenário não se vai colocar. Quando digo que nós estamos a alargar e a crescer todos os dias, cada vez que há mais um dia de campanha e a construir o resultado, estou convicto disso.

Mas não receia que possa estar, de alguma forma, a ter uma visão enviesada? Porque quando se acaba de sair de um comício, é impossível não se sentir galvanizado...

Eu não me deixo baralhar por esta realidade. Isto é uma mobilização nossa, de grande determinação, de grande mobilização não é propriamente uma coisinha, não é. Não é só o número de pessoas, é a forma como as pessoas estão nas iniciativas com confiança, com terminação. Mas não é isso que me dá confiança.

O que me dá confiança é o contacto que estamos a ter na rua. Esta ideia de que é preciso conversar, conversa a conversa, esclarecimento a esclarecimento, mobilização a mobilização O ponto de partida é esse que as sondagens dão. Cá estaremos no dia 10 para ver quem tem razão, se é o meu otimismo irritante ou o pessimismo irritante de outros que nos querem pôr para baixo, mas eu acho que não vão conseguir.

"O que é que nós temos que ver com a Rússia capitalista?"

A questão da guerra na Ucrânia teve um grande impacto na opinião pública. A posição do PCP nem sempre foi bem acolhida. Sente que isso pode estar na origem de algum afastamento do eleitorado?

A opinião do PCP foi bem acolhida. O que foi mal acolhida foi a opinião que fizeram da opinião do PCP. Andámos meses a discutir uma opinião que não é opinião do PCP e acho que a esta distância é uma questão que não se coloca. Mas percebo aqueles que, volta não volta, querem ativar isso na mente das pessoas.

O problema da Ucrânia são 10 anos de guerra, dois dos quais da forma como nós estamos a ver. O que é preciso é acabar com a guerra. Eu não quero crer que o partido que exige desde sempre, desde a primeira hora, a paz seja prejudicado, do ponto de vista eleitoral, contra aqueles que a única coisa que querem é mais guerra, com mais mortos, com mais destruição. Não quero crer nisso.

Mas sente que existe uma parte do eleitorado que continua a associar o PCP à Rússia?

Isso é daquelas coisas completamente caricatas, até me custa ouvir isso. O que é que nós temos que ver com a Rússia capitalista? As nossas opções de fundo são completamente contrárias às opções da Rússia capitalista. Nós pomos em causa as opções de fundo da Rússia capitalista.

Nós tivemos uma posição de paz, pela paz, sempre. Nós andámos oito anos a alertar sozinhos, mais ninguém nos quis ouvir, se calhar alguns nem sabiam onde é que era a Ucrânia, já nós estávamos a identificar um problema que estava ali instalado de uma guerra que começou há 10 anos. A nossa posição sempre foi uma posição de paz, fizeram uma caricatura da nossa posição. Eu percebo porquê, porque acharam que era uma oportunidade para nos dar a machadada final, mas enganam-se.

Ainda relativamente a votos, há também a teoria de uma eventual transferência de votos do PCP para o Chega, uma teoria na qual o Paulo Raimundo já disse que não acredita. Mas não admite que, à parte de questões ideológicas, pode haver uma parte do eleitorado que procura aquele partido que tem o poder mais reivindicativo e que tenha sentido que o PCP o tenha perdido?

Primeira questão: não há nada que demonstre essa teoria. Isso foi uma narrativa criada pelo PSD para se desviar as suas próprias responsabilidades. Faça-se a leitura dos votos e da expressão de votos aqui no Alentejo há dois anos atrás e veja-se como é que são as dinâmicas de voto para perceber que isso não tem cabimento. Isso foi ganhando uma dimensão, foi criando uma ideia e pronto, a partir daí começou a ser verdade. Mas a mentira muitas vezes dita não se torna verdade.

Quanto à outra questão, uma vez, por causa das ações das forças de segurança, perguntaram-me se eu não achava que o Chega tinha tomado a rua. E eu disse: “as forças de segurança e o Chega, mas porquê?”. Há quantos anos as forças de segurança, os polícias, os GNR, justamente, manifestam-se e expressam-se na rua? Ainda não havia Chega, já aqueles homens e mulheres se manifestavam. Qual é a ligação entre uma coisa e a outra?

Cada um tem a sua influência, neste ou naquele setor. Isso é uma coisa. Outra coisa é começar a extrapolar, como se, agora, todas as ações de rua que existem fosse essa força que as desenvolve. Isso não é verdade, está muito longe de ser a realidade. Eu acho que há uma parte significativa da sociedade que tem uma grande responsabilidade pelo monstro que está a criar e, peço desculpa, mas a comunicação social também tem uma responsabilidade muito grande nesse problema.

Então, se não é a Ucrânia, se não é o Chega, se há recetividade e calor por onde passam, onde é que falha a simpatia transformar-se em votos?

Mas qual é o elemento que a senhora tem para me dizer que a simpatia não se vai transformar em votos? Nenhum, a não ser as sondagens.

Estou a basear-me nos resultados dos anos anteriores...

Mas a situação que nós enfrentamos hoje, do ponto de vista do debate político, não tem nada a ver com o que se passou há dois anos. Há dois anos, fomos acusados de ter traído o Partido Socialista, de termos chumbado o Orçamento mais à esquerda de sempre. Ora, dois anos depois, toda essa teoria foi por água abaixo, porque isso não tem nenhuma sustentação. Nós identificamos três problemas gravíssimos a que era preciso dar resposta: saúde, habitação e salários. Dois anos depois, aquilo que identificámos está à vista que era preciso ser atacado e não foi atacado, por opção do Partido Socialista.

Enfrentámos uma outra coisa: até ao limite da possibilidade das sondagens, as sondagens davam empate técnico entre o PS e o PSD. E depois, o que é que aconteceu? A maioria absoluta do Partido Socialista (está a ver? Ainda não foi dessa vez que as sondagens acertaram).

Ora, isto foi um quadro do ponto de vista do embate político muito mais exigente do que aquele que é hoje. Hoje, mesmo aquelas pessoas que votaram com medo da direita, do PSD ou que foram iludidas, arrastadas por aquela narrativa do PS, hoje já perceberam que foram iludidas e, portanto, algumas, uma parte delas vai necessariamente regressar à força que lhe dá duas garantias fundamentais: a garantia de obrigar o PS a ir às respostas necessárias e a garantia da força mais coerente, mais combativa e mais capaz de dar resposta à direita. E, claro, nós estamos muito confiantes também, isso é. Porque achamos que temos razão (risos) e isso é um elemento determinante para a confiança.

"Estamos a contribuir para que os problemas centrais do país não passem ao lado da campanha"

Vamos entrar na segunda metade da campanha. O que é que podemos esperar? Uma continuidade da primeira ou vai haver assim alguma intensificação, por exemplo, de contactos de rua, vai haver alguma mudança de estratégia?

A estratégia é a mesma diria, uma componente de rua, de contacto direto muito, muito significativo. Eu tenho um gosto particular por essa forma de estar, por essa forma de campanha, portanto, isso também vai acontecer. Eu diria assim um misto de contato direto, em várias realidades, e grandes mobilizações de afirmação também de força da CDU. Estava aqui a fazer um exercício de cabeça, mas penso que não faltará nenhum dia sem ações dessas de contato com as pessoas, na rua enfrentando, as críticas, enfrentando os apoios, enfrentando o que for preciso enfrentar.

Tem-se sentido bem nesse papel?

Muito bem, muito bem, muito à vontade, até diria se calhar um bocadinho mais do que aquilo que eu pensava assim, sinceramente.

Que pensava de si próprio?

Sim, que pensava de mim próprio. Não que eu me considere uma pessoa com dificuldades de relacionamento, mas uma coisa é uma ou outra experiência, outra coisa é todos os dias. E não só me tenho sentido bem, como gosto.

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