Bloco de Esquerda

​Catarina Martins fala em "contas certas", críticos querem "informação clara" sobre saúde financeira do partido

15 set, 2022 - 19:31 • Susana Madureira Martins

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Catarina Martins garante que o Bloco de Esquerda "não tem dívida", que as contas do partido são as "mais certas e mais transparentes", mas os críticos da direção da coordenadora bloquista mantêm as dúvidas sobre o estado financeiro do partido. Há renovadas acusações internas à direção da cúpula bloquista de que não há "informação clara" sobre a reestruturação de funcionários.

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"Isso já foi noticiado". É com esta frase que Catarina Martins despacha a questão sobre quantos funcionários é que já saíram do Bloco de Esquerda (BE) e quantas sedes já fecharam pelo país desde o desaire eleitoral nas legislativas. Mas, a verdade, é que os críticos internos da direção nacional mantêm dúvidas sobre a situação financeira do partido.

Segundo disseram à Renascença alguns desses críticos de Catarina Martins, na última reunião da Mesa Nacional, que se realizou no fim-de-semana, a própria cúpula bloquista fez circular um documento em que se pedia "um maior esforço dos militantes para a caixa" do partido "devido à diminuição da subvenção estatal".

A direção bloquista terá justificado a necessidade de aumentar a quota dos aderentes (militantes) de 15 euros para 25 euros com o argumento da "auto-suficiência" do partido. A proposta foi votada e contestada pelos críticos internos que não entendem o pedido, tendo em conta que o BE "continua a ter subvenção estatal". Subvenção entretanto cortada para metade, tendo em conta o resultado eleitoral nas legislativas de janeiro.

Os desalinhados questionaram ainda a proposta por surgir numa "situação de crise" e que "implica menor participação das pessoas por não terem dinheiro", acusando ainda a direção nacional de não divulgar "informação clara" à Mesa Nacional sobre a reestruturação de funcionários do partido, tendo em conta que "já estão a mandar pessoas embora".

Na entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Catarina Martins justifica que houve "um resultado eleitoral pior, o BE tem menos recursos financeiros e, portanto, reduz a sua estrutura porque não vai trabalhar em dívida". A líder bloquista admite que a situação do partido "é difícil, sim, mas estamos todos de acordo que esse é o caminho". Todos de acordo, menos os que não concordam.

Das acusações de "afunilamento da democracia interna" à garantia de Catarina que existe "activismo militante"

No movimento Convergência, que agrega diversos críticos da direção nacional do Bloco de Esquerda, espera-se "outro rasgo" do estado-maior de Catarina Martins na abordagem à actual situação económica e política do país.

À Renascença, um elemento desta tendência não formal do partido explica que até "há uma coincidência" sobre a análise da situação política, sobre os efeitos da inflação, a mesma ideia de que "o que o Governo deu é insuficiente", mas "o que suscita mais dúvidas é sobre como enfrentar isto".

O problema é sempre o mesmo: o desaire eleitoral provocou um rombo financeiro ao partido, uma diminuição da representação parlamentar, menos oportunidade de ocupação do espaço público dentro e fora de um Parlamento onde há uma maioria absoluta.

Os elementos da Convergência exigem que os dirigentes nacionais levem "a politica para o espaço público", abram o debate na rua e pedem mobilização social, "desde as questões laborais, à situação que se está a viver entre trabalho e capital". No fundo, que se use mais a rua e se aqueça a tensão social.

Ao Hora da Verdade, Catarina Martins desfaz a ideia de que o Bloco de Esquerda se resuma aos cinco deputados actuais e garante com um "claro que sim" que existe mobilização fora de São Bento. "Nunca se resumiu ao Parlamento", atalha a líder bloquista, que garante existir "um activismo militante" em diversos sectores do partido "e que não têm a ver com a representação institucional".

Apesar das críticas internas, Catarina Martins diz que "o Bloco foi criado assim e ainda bem. É aí que estamos e continuaremos a estar", completando que a direção sabe "toda a responsabilidade" que tem, rematando com um "e trabalhamos".

O BE nasceu de um pluralismo ideológico, mas os críticos que foram à Mesa Nacional no fim-de-semana mantêm que "há um cordão sanitário" à volta do debate sobre as consequências do resultado eleitoral do partido nas legislativas de janeiro", lamentando ainda "a concentração de poder na direção".

De forma sibilina, um membro do movimento Convergência defende que a direção bloquista "aproxima-se, neste momento, ao comportamento do PCP". É dito à Renascença que "mantém-se o quadro de falta de cooperação interna", evitando "chamar-se as outras sensiblidades a este debate".

Ora, as consequências disso "estão à vista", para os críticos. "Objectivamente o BE perdeu influência". Em jeito de resposta, na entrevista à Renascença e ao Público, Catarina Martins admite essa perda de influência política, justificando que "a relação com o Governo, como se sabe, nos últimos dois anos já não existia. O PS achava que ou aceitam os nossos truques ou não aceitam".

Perante a insistência nesta questão, Catarina Martins admite que "os partidos têm a representação que lhes é dada pelo voto", ressalvando que "têm, sobretudo, de ter a coerência política e a responsabilidade política de construir projectos".

Estas são explicações que os membros da Convergência garantem que nunca têm da parte da direção nacional quando se sentam à Mesa Nacional. Há um "comportamento de afunilamento da democracia interna", atira um desses elementos, desabafando que "é estranho porque o BE surgiu de várias tendências", referindo como "um problema para a esquerda, o monolitismo".

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