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Educação

Professores na rua. "Estamos sobrecarregados", ministro deve ir para "outras paragens"

22 set, 2023 - 19:14 • Filipa Ribeiro

Centenas de professores passaram esta sexta-feira pelas ruas de Lisboa. Muitos fazem mais de 600 quilómetros num dia, por amor à escola pública. Primeira semana de aulas acaba com docentes e não docentes a gritar em frente à Assembleia da República: “Ministro já para a rua, a culpa é tua!”.

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Professores na rua. "Estamos sobrecarregados" - Reportagem de Filipa Ribeiro
Ouça a reportagem da jornalista Filipa Ribeiro

Chegaram de todos os cantos do país, desde Chaves até ao Algarve. Os professores vieram fazer barulho para Lisboa. A maioria vestida de negro faz-se acompanhar por cartazes que satirizam o primeiro-ministro e o ministro da Educação.

Ao centro do desfile balões que pedem a demissão do ministro João Costa. Por estarem cansados pelos impasses nas negociações decidiram desfilar esta sexta-feira entre a sede da Presidência do Conselho de Ministros e a Assembleia da República, passando pela residência oficial do primeiro-ministro em São Bento. No copo de água, que já tinha transbordado no ano letivo passado, caiu este ano uma nova gota: a falta de professores.

Uma das professoras que segura a faixa da frente da manifestação é Maria de Fátima Carvalho, que vem de Estarreja. Depois de cinco anos no Algarve, a mais de 500 quilómetros de casa, conseguiu este ano ficar a menos de 20 quilómetros de casa. “É a primeira vez em 23 anos de carreira”, afirma.

Maria de Fátima é uma das que grita mais alto quando se diz “demissão”. Para ela, o ministro João Costa já devia ter deixado o cargo há muito. “Muito sinceramente, desde dia 17 de dezembro de 2022 que o ministro da Educação devia estar cá fora”, defende. Diz que só vai descansar quando “a progressão na carreira for digna e houver concurso pela graduação”, Maria de Fátima lamenta que os “sucessivos ministros tenham tirado a autoridade das escolas”.

Neste quase Carnaval, com gritos, cantorias, apitos e manequins do primeiro-ministro e do ministro da Educação improvisados, segue também Dulce Salgueiro que é professora de português em Chaves. Durante todo o desfile carregou um cartaz que diz: “O que há em mim é sobretudo cansaço um supremíssimo cansaço”, fazendo referência a Álvaro de Campos. É professora há 36 anos. À Renascença conta que no início da carreira a escola ainda era “atrativa e os professores felizes”.

Depois de tantos anos a lecionar, lamenta que a escola pública esteja cada vez em condições piores. “Os professores estão sobrecarregados”, começa por dizer. “Eu sou de Português e estou sobrecarregada de apoios com Português Língua Não Materna, sem receber formação pra receber os alunos estrangeiros. Passamos muito tempo na escola, com poucos funcionários. E as turmas cada vez maiores, tenho duas turmas de 12.º ano onde não consigo sentar os alunos todos”, conta.

Com 36 anos de carreira está no oitavo escalão, abaixo do que seria expectável, ainda assim reconhece que apesar de a reforma que vai receber ser mais baixa do que o que seria normal, tem mais sorte que os muito professores que nem a metade da carreira vão conseguir chegar.

Vem de Chaves, vai fazer mais de 800 quilómetros num só dia. “Apesar de ter saído de casa às 6h00 da manhã e de logo chegar só às 3h30 da madrugada, não me importo, venho pelo ensino”, diz.

Bruno Silva, apesar de não ser o único, traz um cartão vermelho para o ministro da Educação e todo o Governo. Professor de Matemática, viu-se obrigado a refazer a vida no Alentejo, em São Teotónio, onde há três anos ficou efetivo.

Tem 42 anos e lamenta que muitos colegas seus com mais de 20 anos de carreira continuem em situações precárias. “Este ano letivo que iniciamos é pior que o passado”, começa por dizer. “Na escola sentimos falta de professores, técnicos e na carreira continua sempre tudo igual. Aquilo que queríamos ver verdadeiramente era uma escola pública com qualidade, precisamos que o senhor ministro e este Governo façam a valorização da carreira docente e respeitem todos os profissionais”, defende.

Apesar de ter agora uma vida mais estável, Bruno diz que nem sempre foi um mar de rosas. “Já dei aulas de Vila Nova de Cerveira a Albufeira”, afirma de forma a demonstrar que foram anos de mochila às costas. Acredita que a melhor solução é mudar de ministro. “Se ele não consegue resolver os problemas, talvez tenha de partir para outras paragens”, responde quando questionado sobre o ministro João Costa.

As vozes dos professores, a música e os tambores fazem-se ouvir do início ao fim do perímetro da manifestação. A fechar o desfile está a professora de Educação Física, Georgina Espírito Santo. Também com um cartaz em mãos, vem pela instabilidade do setor. Tem 39 anos e ainda carrega a mochila de todos os anos esperar pelo sorteio para saber onde vai trabalhar. Este ano efetivou em Lisboa, mas através do plano de mobilidade interna conseguiu fugir para o norte para perto dos pais.

“Tem sido a minha história estes anos todos, um ano em cada escola, colegas e alunos novos. Vou fazer 39 anos e não consigo sair da casa dos meus pais é a minha triste realidade.”

Apesar da instabilidade que tem na sua vida, Georgina Espírito Santo veio manifestar-se pela escola pública porque prevê um futuro negro. “Se não me preocupasse era mais fácil, ficava em casa ao invés de vir fazer uma viagem destas”, diz.

Em frente à residência oficial do primeiro-ministro todos os professores se ajoelharam, cantaram o Grândola Vila Morena.

Por estarem fartos e cansados do ministro da Educação querem agora chegar ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças.

André Pestana, dirigente do STOP - Sindicato de Todos os Profissionais de Educação, que termina uma semana de greves com a manifestação, diz que todos estão cansados do ministro “vamos começar a exigir sérias negociações enão simulacros como tem acontecido”, afirma.

Sem previsão de novos protestos para as próximas semanas, André Pestana diz que a luta vai continuar para pressionar todo o Governo.

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  • EU
    22 set, 2023 PORTUGAL 22:34
    Estou a ver o programa JOKER na RTP 1, são 23 horas do dia 22/9/2023. O concorrente é formado, com mestrado, em Engenharia Electrotécnica. A pergunta é: " qual destas palavras é sinonimA de INTENTONA? investigação, conspiração, contratação e redenção ". O concorrente deu como resposta INVESTIGAÇÃO. Perante este QUADRO, devem os SENHORES PROFESSORES regressarem às Escolas e MEDITAREM na maneira como ENSINAM e principalmente como FORMAM. Escusado será dizer que a resposta CERTA É conspiração. Mas mais grave é o CONCORRENTE não saber LOGO ( imediatamente) qual é a resposta a esta pergunta " o diâmetro de um circulo é defenido como o dobro de que outra medida? corda, raio, tangente e perímetro. Não tenho nada contra quem NÃO SABE, mas ver e OUVIR isto é no mínimo PREOCUPANTE como se FORMAM alunos nas ESCOLAS SUPERIORES deste País. Aconselho os Senhores SINDICALISTAS a verem este CONCORRENTE e tirarem as lições que são necessárias.

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