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Explicador. O que esperar da Cimeira do Clima?

22 abr, 2021 - 06:33 • Fábio Monteiro

Arranca esta quinta-feira a Cimeira de Líderes sobre o Clima promovida pelos Estados Unidos da América, encontro que reúne 17 países responsáveis por aproximadamente 80% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Joe Biden vai anunciar a meta de redução até 2030. Irá a China também assumir um compromisso? Que papel irá desempenhar a Lei Europeia do Clima aprovada pela União Europeia na discussão?

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Qual o objetivo da Cimeira de Líderes sobre o Clima?

A agenda de Joe Biden para o encontro é conhecida: pressionar os principais poluidores globais, pedindo-lhes para aumentarem as suas metas na luta contra o aquecimento do planeta.

A questão central, então, é como será exercida essa pressão. Isso já é público: os EUA vão anunciar “um ambicioso objetivo de redução de emissões até 2030 como a sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada, ao abrigo do Acordo de Paris”.

Biden pretende liderar por exemplo, dado que os EUA são o segundo maior emissor de gases de estufa do planeta, só sendo ultrapassados pela China. A Cimeira de Líderes sobre o Clima reúne 17 países responsáveis por aproximadamente 80% das emissões de gases com efeito de estufa ao nível mundial.

Há alguns dias, em comunicado, a Casa Branca revelou que a “cimeira também destacará exemplos de como a ambição climática aprimorada criará empregos bem remunerados, promoverá tecnologias inovadoras e ajudará os países vulneráveis a adaptarem-se aos impactos climáticos”.

O encontro servirá ainda de preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) prevista para acontecer de 1 a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia.

Que meta vão anunciar os EUA?

Usando uma formulação futebolística: se Biden anunciar uma meta inferior a uma redução de 50% até 2030, será uma derrota. Isto porque as expectativas dentro e fora dos Estados Unidos estão altas.

O objetivo que Biden escolher "estabelece o tom para o nível de ambição e o ritmo de redução de emissões ao longo da próxima década", disse Kate Larsen, antiga assessora de Barack Obama para questões ambientais, ainda esta semana. O número que Biden anuncie tem de ser realizável até 2030, mas agressivo o suficiente para satisfazer cientistas e ativistas que consideram que a próxima década é crucial, lembrou.

Ora, 50% é precisamente o número que muitos especialistas apontam como o mínimo possível. E que, ao mesmo tempo, parece ter eco a nível político internacional.

Há duas semanas, uma centena de políticos e empresários europeus escreveram ao presidente norte-americano e desafiaram-no a formar uma aliança com a União Europeia no combate às alterações climáticas, começando pela neutralidade das emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2030.

Os signatários da missiva exortaram Washington a “estar à altura das suas ambições, adotando uma meta climática de pelo menos 50% de redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030”, por comparação com 2005.

Além dos EUA, sobre quem caem as maiores expectativas? A China, sem dúvida

A China e os Estados Unidos são os dois maiores emissores mundiais de gases com efeito de estufa. Aliás, as duas nações são responsáveis por quase 50% das emissões ao nível global. Ou seja, um compromisso real da parte de Pequim é essencial para que o encontro promovido por Biden tenha sucesso.

A Cimeira arranca esta quinta-feira, mas, tudo indica, as conversações já começaram.

No último fim-de-semana, os EUA e a China comprometem-se a cooperar no combate às alterações climáticas após dois dias de negociações, em Xangai, entre John Kerry, ex-senador americano, e Xie Zhenhua, o enviado especial de Pequim.

“Não podemos resolver esta crise climática sem a China na mesa de negociações”, disse Kerry, durante a sua viagem a Xangai.

A China é, em termos absolutos, o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, mas também o país que mais investe em energias renováveis.

Pequim prometeu começar a reduzir as suas emissões de CO2 "antes de 2030" e alcançar a "neutralidade nas emissões de carbono" até 2060.

Lei Europeia do Clima. Qual a importância deste contributo?

Menos de 24 horas antes do início da Cimeira de Líderes do Clima, o Conselho e o Parlamento Europeu chegaram a acordo para a criação da Lei Europeia do Clima – um ás no baralho que a União Europeia vai levar para o encontro promovido por Biden. Ou dito de outra forma: trata-se da iniciativa legislativa que a UE encontrou para assumir um papel principal na discussão da redução de emissões.

“O nosso compromisso político de nos tornarmos o primeiro continente com neutralidade climática até 2050 é agora também um compromisso legal”, anunciou Ursula von der Leyen, na quarta-feira.

"Os negociadores do Conselho Europeu [ao qual Portugal preside] e do Parlamento Europeu chegaram a um acordo político provisório que legisla o objetivo da neutralidade climática da União Europeia em 2050 e a meta de redução coletiva líquida das emissões de gases com efeito de estufa (emissões após a dedução de remoções) em pelo menos 55% no ano de 2030, por comparação com 1990", segundo um comunicado sobre o acordo.

Lei Europeia do Clima. Metas definidas são suficientes?

Não, para a associação Quercus e outras organizações ambientais.

O acordo europeu para redução de gases com efeito de estufa em 55% até 2030 é, segundo a associação Quercus, "claramente insuficiente" para cumprir o objetivo definido no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5º graus.

"À luz do conhecimento científico atual, a União Europeia necessita aumentar o seu nível de redução de emissões, em termos absolutos, para pelo menos, 65% até 2030. Estamos em emergência climática a nível mundial e urge fazer mais e melhor pelo nosso planeta", defendeu a associação ambientalista, num comunicado divulgado na quarta-feira.

Em declarações ao Guardian, Wendel Trio, diretor da Climate Action Network (CAN) Europe, defendeu também uma posição idêntica: “A meta de redução de emissões de pelo menos 55% para 2030 não está de acordo com a ambição do acordo de Paris, de limitar o aumento da temperatura para 1,5º graus até ao final do século”.

Wendel Trio queixou-se ainda que o acordo terá sido “apressado pelos legisladores da UE, para trazer alguma coisa para a Cimeira dos Líderes organizada pelos EUA”. “Definitivamente, este não é o tipo de lei climática que ajudará a UE a liderar os esforços globais para combater as mudanças climáticas”, disse.

Quem vai participar na Cimeira do Clima?

A Cimeira do Clima irá ocorrer de forma digital e estará pejada de figuras de destaque da política internacional. Ao todo, participarão cerca de 40 chefes de Estado. Mas há outras figuras a destacar. O Papa Francisco também será um dos rostos a marcar presença.

Xi Jinping, Presidente da China, e Vladimir Putin, Presidente da Rússia, vão estar presentes, tal como o francês Emmanuel Macron, os primeiros-ministros britânicos, Boris Johnson, e italiano, Mario Draghi, e a chanceler alemã, Angela Merkel.

Participarão ainda os presidentes da Colômbia, Iván Duque, da Argentina, Alberto Fernández, do Brasil, Jair Bolsonaro, do Chile, Sebastián Piñera, e do México, Andrés Manuel López Obrador.

Outras presenças a salientar serão as dos presidentes turco, Recep Tayyip Erdogan, sul-africano, Cyril Ramaphosa, indiano, Narendra Modi, e sul-coreano, Moon Jae-in, bem como a dos chefes de Governo japonês, Yoshihide Suga, e do canadiano, Justin Trudeau.

Também estarão presentes o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o rei saudita, Salman bin Abdulaziz.

Outros participantes serão a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e o presidente do Banco Mundial, David Malpass.

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