António Saraiva. "Países de Leste sabem aproveitar os fundos europeus melhor do que Portugal"

25 nov, 2022 - 17:29 • Pedro Mesquita com Redação

Caso se confirmem as previsões de outono da Comissão Europeia, que indicam que a Roménia vai ultrapassar Portugal no PIB per capita já em 2024, o presidente da CIP diz que isso será a consequência de um melhor aproveitamento da oportunidade que os fundos europeus representam. António Saraiva vê no PRR uma "última oportunidade" e diz-se "preocupado", porque não pode haver mais atrasos na execução.

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Entrevista a António Saraiva D25novembro

O presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal admite estar preocupado com alguns sinais de atraso na execução do PRR.

Em entrevista à Renascença, comentando a leitura do jornal Expresso às mais recentes previsões económicas da Comissão Europeia - que indicam que, em 2024, a Roménia deverá ultrapassar Portugal no PIB per capita - António Saraiva lembra que no caso romeno, e na generalidade dos países do leste europeu, os países têm sabido aproveitar os apoios comunitários melhor do que Portugal.

Como vê esta possibilidade de a Roménia poder ultrapassar Portugal em PIB per capita em 2024?

Vejo com alguma preocupação, porque um dos problemas que a economia portuguesa tem é crescimento digno desse nome, não crescimento anémico como tem registado.

Nós temos vindo a alertar que os países do antigo bloco de Leste têm vindo, ano após ano, a ultrapassar Portugal.

Mas como se explica este salto da Roménia e esta estagnação de Portugal?

Na minha perspetiva, com duas ordens de razão: os fundos comunitários que estes países do antigo bloco de Leste têm estado a aproveitar bem, a proximidade que têm da Alemanha e do Norte da Europa, motores da economia europeia. Isso estará, na minha opinião, deste crescimento que se tem vindo a registar, ao contrário de Portugal, que não tem conseguido este crescimento e temos todas as condições se tivéssemos outra carga fiscal, outra burocracia, outra justiça mais rápida e mais célere.

Ou seja, a solução seria, por exemplo, baixar impostos.

Não é só uma questão de baixar impostos. Há um conjunto de medidas que interagem, não há uma bala de prata. Há um conjunto de apostas de investimentos públicos e privados, de aproveitamentos corretos de fundos comunitários.

Porquê que esses países aproveitam e Portugal não?

Porque, provavelmente, têm outras estratégias no desenvolvimento das suas atividades, da sua economia que Portugal, nas escolhas que foi fazendo, não teve e isto prova que convergir e ultrapassar médias da União Europeia é possível, até porque agora os países do Norte até estão com problemas. Por isso, o objetivo não é convergir, é ultrapassar e muito essa convergência.

Devíamos estar a crescer 4% e 5% e estamos, às vezes, a crescer a 0,5% e 1% nos últimos 20 anos.

Acredita que, desta vez, com o PRR, é que Portugal vai aproveitar esta enorme quantidade de dinheiro que vai chegar e vai poder crescer mais do que outros?

É uma última oportunidade nesse sentido.

Mas há esses sinais de que irá ser bem aproveitado desta vez?

É prematuro dizer que não há.

Está preocupado?

Estou preocupado, porque estamos com alguns atrasos. Obviamente, a guerra justifica algum atraso de investimentos e esta interrupção de cadeias de abastecimento e atrasos nos materiais. Mas a janela temporal é muito curta, não nos podemos atrasar e a minha apreensão vem da constatação que a execução em relação ao que estava orçamentada é baixa. Temos de recuperar rapidamente.

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  • Integridade
    26 nov, 2022 Portugal Educado 10:00
    Porque Portugal é cada vez mais um país de superficialidade, de fachada, de fogos de artifício. Porque somos pouco educados/formados e estruturados. Pouco cultos (diferente de "sofisticados"). Porque somos uma sociedade muito desigual, cada vez mais sem classe média. Porque não protegemos ou promovemos as famílias, factores estruturantes da sociedade e das pessoas. Porque as nossas prioridades são futebóis. Porque só pensamos a curto-prazo. Porque nos falta rigor e bom senso. E valorizar o nosso povo. E não vender o país.

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