10 mai, 2024 - 07:30 • Sandra Afonso , Arsénio Reis
O presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), Rogério Carapuça, garante que, apesar das críticas dos clientes, não falta concorrência no mercado das telecomunicações, antes pelo contrário: o mercado nacional não tem espaço para a entrada de mais um grande operador.
"Em termos de dimensão, não", defende Rogério Carapuça, em declarações ao programa da Renascença Dúvidas Públicas, numa altura em que uma nova operadora, a Digi, se prepara para entrar no mercado português.
Rogério Carapuça defende que as empresas a operar em Portugal não têm escala. As congéneres norte-americanas têm 100 milhões de clientes, na Europa têm em média 5 milhões, enquanto em Portugal ficam pelos 3,5 milhões de clientes. A entrada de um novo grande concorrente significa dividir ainda mais o bolo. "Mas isso está feito, está feito", diz.
Aos clientes interessa saber se vão ficar a pagar menos pelos serviços de telecomunicações. Carapuça ite que a entrada de um novo operador vai mexer com os preços praticados, "quando entra alguém num sítio provoca alterações, isso já aconteceu no passado".
Dúvidas Públicas
Na primeira entrevista desde que tomou posse como (...)
No entanto, também sublinha que "o mercado tem limitações". "Há um compromisso entre a rentabilidade que um operador tem que ter para continuar a fazer inovação e a existir e aquilo que os clientes pretendem: ter o máximo de serviços possível pelo preço mais baixo possível". O problema em Portugal é que as empresas não têm dimensão: "sem resolver o problema da escala não resolvemos o problema dos preços", avisa.
O presidente da APDC não traça cenários sobre a evolução da Digi em Portugal, mas recupera o exemplo da Optimus, que "quando entrou no mercado também propôs preços mais baixos". Contudo, lembra que se as empresas "não conseguem ganhar dinheiro, não conseguem operar no mercado".
Ao regulador, a ANACOM, Rogério Carapuça deixa um aviso: "O papel da regulação é garantir que existem regras, que toda a gente cumpre e que são justas para todas as partes. Ou seja, a regulação não se confunde com a defesa do consumidor, que também existe. A regulação deve ponderar aquilo que são os interesses do consumidor com os interesses dos players do mercado, que se não tiverem condições de rentabilidade para operar em determinada região, acabam por desistir". Este é um desfecho que "também não interessa ao cliente", conclui.
A Digi, empresa romena de telecomunicações, entrou no mercado espanhol com preços claramente abaixo do que estava a ser oferecido pelos concorrentes. Este ano vai começar a operar na Bulgária e em Portugal.
Ainda não há data para o arranque da operação no mercado nacional. Segundo declarações da presidente da Anacom à Renascença, a empresa quer entrar logo em todo o país, o que deverá acontecer ainda este semestre. Neste momento está em fase de testes.
São excertos da entrevista do presidente da APDC ao programa Dúvidas Públicas, onde falou também de reclamações, 5G, emprego, formação, impacto da IA no setor, o financiamento dos media ou as restrições impostas a marcas e redes sociais.
Estes são também alguns dos temas que vão estar em discussão no próximo Congresso da APDC, que se realiza nos dias 14 e 15 de maio, no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, que este ano tem a particularidade de assinalar os 40 anos da Associação.
Oiça a entrevista este sábado, a partir do meio-dia, ou depois a qualquer momento, no site da Renascença ou em podcast.