13 mar, 2023 - 21:40 • Pedro Castro Alves , Inês Braga Sampaio
O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) pretende moderar uma conversa entre Nelson Évora e Pedro Pablo Pichardo, para que os dois saltadores resolvam o litígio público entre eles.
Em entrevista a Bola Branca, em reação à troca azeda de palavras entre os dois campeões olímpicos do triplo salto, Jorge Vieira admite esperar "que tudo isto fique esclarecido a muito breve prazo". O presidente da FPA vai tentar "colaborar" para que Évora e Pichardo façam as pazes.
"Tentarei o mais possível moderar estes ímpetos destes atletas. Neste momento, não fiz qualquer tentativa, porque os ânimos estão exaltados. Mas espero que todos caiam em si e que percebam que há um caminho a percorrer aqui, que todos vão ser úteis, com certeza, e que não perderão aquilo que é fundamental manter: o prestígio deles, a notoriedade, a imagem pública que eles têm. Nós temos tão poucos campeões olímpicos, os cinco são do atletismo, eles são dois dos cinco e, obviamente, não se podem perder nestes conflitos pessoais", sublinha o dirigente.
Em entrevista à rádio "Observador", Nélson Évora declarou que a Federação de Atletismo "comprou" Pedro Pichardo para ter resultados no curto prazo. Algo que considerou injusto, dado que ele próprio esteve 11 anos para conseguir a nacionalidade portuguesa, ao passo que Pichardo precisou de muito menos tempo.
"Não temos um atleta júnior que salte 16 metros. Que possamos dizer que saltará 17 metros em sénior, que possa ganhar uma medalha. Fico contente que ele [Pichardo] traga uma medalha. Mas isto espelha o quê? Interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal! Claro, é bom, no curto prazo. Foi um investimento feito no curto prazo. Foi comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo”, referiu.
Jorge Vieira fala de uma "dupla lesão" por parte de Nélson Évora e não esconde que ficou "muito desgostoso" com as palavras do campeão olímpico de 2008:
"Para mim, foi uma novidade ouvir o Nélson Évora dizer que a Federação compra atletas, que a Federação mete cunhas, que há atletas que têm facilidades e que outros não têm, quando este problema decorre da lei."
Atletismo
Pichado foi comprado, diz Évora. O luso-cubano diz(...)
O presidente da FPA explica que a naturalização de Pichardo, como a de Auriol Dongmo, por exemplo, foi rápida porque o Artigo 24.º da lei da nacionalidade portuguesa permite "situações extraordinárias" para cidadãos estrangeiros que pretendam a naturalização e que "tenham prestado ou possam vir a prestar serviços de alto nível ao país".
"Não há aqui qualquer tipo de facilidade comprada, qualquer facilidade atribuída por cunhas. Nós apenas nos limitamos a confirmar os argumentos técnicos do currículo desportivo destes atletas e, depois, são os serviços do Ministério da Justiça que, de acordo com a lei, procedem à naturalização. Como é óbvio, a Federação não naturaliza atletas", vinca.
Jorge Vieira reforça que a Federação Portuguesa de Atletismo não tem "qualquer intervenção" a não ser o que está previsto na lei: "Este estatuto especial destes cidadãos deve ser confirmado por departamentos especializados. No caso do Pedro Pichardo, foram a Federação Portuguesa de Atletismo e o Comité Olímpico de Portugal que atestaram os méritos desportivos, que eram absolutamente indiscutíveis."
O presidente da Federação considera, portanto, que Nélson Évora "foi muito injusto" e espera que o atleta "caia na sua consciência e perceba que não foi certo".
Pichardo, que se sentiu ofendido com as palavras de Évora, foi duro na resposta, no Instagram.
"Quando dizes que fui comprado estás a faltar-me ao respeito. Não sou uma prostituta nem sou como tu, que saíste mal do clube porque te ofereceram mais", escreveu o campeão olímpico, da Europa e do mundo.