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França despede selecionadora a quatro meses do Mundial

09 mar, 2023 - 14:25 • Inês Braga Sampaio

Conflito com várias jogadoras importantes e "discrepância com os requisitos do mais alto nível" ditam saída de Corinne Diacre.

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A Federação Francesa de Futebol (FFF) anunciou, esta quinta-feira, o despedimento da selecionadora, a quatro meses do Mundial feminino.

Em comunicado, a FFF explica que a decisão foi tomada após investigação de uma comissão e justifica-a com o conflito público entre Corinne Diacre e várias "jogadoras fundamentais" da seleção, assim como "uma discrepância com os requisitos do mais alto nível".

"A fratura atingiu um ponto de não-retorno que prejudica os interesses da seleção", explica a FFF, que reconhece, ainda, que "as disfunções observadas parecem ser, neste contexto, irreversíveis".

O conflito entre Corinne Diacre e o plantel é antigo. Uma vez, a treinadora disse, em tom de brincadeira, que as jogadoras eram "muito infelizes" na seleção. Afinal, seria verdade e o copo transbordou em fevereiro.

Quatro desistências e muitos conflitos

Quatro internacionais abdicaram da seleção francesa de uma assentada, em protesto contra a liderança da selecionadora. A primeira foi a capitã, uma das jogadoras mais tituladas de sempre, Wendie Renard, que se queixou do "sistema longe do requerido ao mais alto nível".

Juntaram-se à central do Lyon a defesa Perle Morroni, da mesma equipa, e as avançadas Marie-Antoinette e Kadidiatou Diani, do PSG.

Diacre também tinha desentendimentos com Amandine Henry. Numa ocasião, a selecionadora deixou-a de fora de uma convocatória com a justificação de que estava de forma. A média respondeu-lhe com um golo, no jogo seguinte do Lyon, e uma celebração a tapar os ouvidos.

Diacre incompatibilizou-se com mais jogadoras, como: a média Gaetane Thiney, do Paris FC; a guarda-redes Sarah Bouhaddi, do PSG (então no Lyon), que em 2020 anunciou que ia fazer uma pausa do futebol internacional e, desde então, não voltou a jogar - meses depois, a avançada Eugénie Le Sommer, também do Lyon, revelou que Bouhaddi não jogaria mais com Diacre; ou a a própria Le Sommer.

O antigo treinador do Lyon Gérard Prêcheur também já se manifestou publicamente com Diacre. Numa autobiografia, Wendie Renard dedicou um capítulo inteiro à má relação com a agora ex-selecionadora.

Ainda em 2020, a agente de Diacre saiu em sua defesa: "Se ela tiver de se preocupar com os caprichos e egos de cada jogadora, nunca chegará a lado nenhum. Para quem segue as orientações de Diacre, tudo corre bem. As que não quiserem podem simplesmente abandonar o barco."

Diacre ficou sem apoio na Federação


Até agora, Corinne Diacre tinha o favor da Federação, após, segundo a imprensa francesa, ter conseguido adiantar-se a um "golpe de estado" das jogadoras e de ter intervindo junto do então presidente, Noel Le Graet. Contudo, com a queda de Le Graet, devido a várias polémicas, como declarações controversas sobre o histórico Zinédine Zidane e acusações de assédio sexual, Diacre deixou de ter a proteção da FFF.

Já em março, Corinne Diacre prometeu continuar à frente da seleção, para "trazer honra a França" no Mundial, apesar das "demonstrações de difamação, inverdades e ambições de alguns e de outros".

"Fui alvo de uma campanha difamatória que considero chocante pela sua violência e desonestidade. Os meus detratores não hesitaram em atacar a minha integridade pessoal e profissional sem se importarem com a verdade. Não me deixarei afetar por esta operação de desestabilização, que não leva em conta o meu historial desportivo e cujo objetivo é somente um ajuste de contas pessoal", afirmou, num comunicado enviado pelos seus advogados à agência Associated Press.

Não obstante as intenções de Diacre, a Federação decidiu que o melhor seria mesmo o divórcio. No comunicado publicado no site oficial, o organismo agradece à técnica pelo "envolvimento e seriedade".

Porém, e apesar de ter ouvido as queixas, sublinha que "a forma utilizada pelas jogadoras para expressar as suas críticas não será aceitável no futuro", pelo que pretende criar novos canais de comunicação.

Sucessor procura-se (com urgência)


A comissão está, agora, incumbida de entrevistar os candidatos ao cargo de selecionador feminino e de formular as suas recomendações.

Terá de ser o quanto antes, dado que o Mundial 2023 arranca no dia 20 de julho (dura até 20 de agosto), na Austrália e na Nova Zelândia. A França está no grupo F, juntamente com Jamaica, Brasil e Panamá.

Também em Espanha, várias jogadoras abdicaram da seleção, em protesto contra o selecionador, Jorge Vilda. No Canadá, o diferendo é com a Federação e já motivou uma tentativa de greve de toda a seleção feminina; não se concretizou por ameaças de ação legal.

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