Entrevista Bola Branca

Tomás Esteves, o lateral que recusa o rótulo de promessa falhada: "Acho que errei ao ir para o Reading"

23 mai, 2024 - 11:15 • Eduardo Soares da Silva

Foi um dos mais novos do plantel do FC Porto que venceu a Youth League. Cinco épocas depois, não alcançou os patamares que lhe eram apontados, mas não desiste: "Acho que vou chegar a um nível bastante alto, mais cedo ou mais tarde".

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Foi em abril de 2019 que a equipa de juniores do FC Porto despachou o Chelsea e conquistou a Youth League, a Liga dos Campeões do escalão. Tomás Esteves era dos mais novos no plantel e, por isso, apontado aos mais altos patamares. Cinco anos depois, o lateral ainda não atingiu tudo o que lhe era previsto, mas recusa o rótulo de promessa falhada.

A conversa com a Renascença acontece no regresso a Portugal, num momento em que recupera de uma lesão no joelho que espera tratar sem precisar de operar. Terminou a sua segunda época na segunda divisão em Itália, no Pisa. Não foi memorável para o clube, mas foi especial para o jogador de 22 anos.

Já não me lembrava o que era jogar fim de semana sim, fim de semana sim. Foi a época mais feliz a nível individual”, confessa. Desde a época em que venceu a Youth League que não somava tantos minutos.

Marcou um golo, fez duas assistências em 2237 minutos espalhados por 29 jogos. Na reta final, foi adaptado ao meio-campo e até se vê a fazer carreira nessa posição: “Pediam-me muito para ir para dentro, depois meteu-me no meio e correu bem. Acho que posso fazer carreira nas duas posições”.

Mas, para compreender que o trajeto de Tomás Esteves está longe do que lhe foi projetado, é preciso recuar até 2019.

Tomás tinha acabado de cumprir 17 anos naquela tarde em Nyon em que o Porto bateu o Chelsea, por 3-1. Era um juvenil a destacar-se num escalão acima, mas não surpreendido pelo sucesso.

Isto pode parecer um pouco arrogante, mas os jogos pareciam muito fáceis para nós. Alguns jogadores nessas equipas estão ao mais alto nível, mas foi sempre relativamente fácil. O Chelsea tinha o Lamptey, Gallagher, Maatsen e Billy Gilmour, mas mesmo assim, quem for ver o jogo, vê que não tivemos assim tantas dificuldades. A nossa equipa era muito mais forte do que as outras”, recorda, com um sorriso confiante na cara.

Tomás era um lateral vistoso, sem medo de partir no um para um e aventurar-se no corredor central. Alguns apontavam-no como o sucessor de Diogo Dalot, três anos mais velho e hoje jogador do Manchester United e da seleção nacional.

Vitinha, João Mário, Fábio Vieira Diogo Costa, Baró, Fábio Silva. Era um plantel recheado de talento e a maioria começou a ganhar espaço na equipa principal dos dragões na época seguinte, mas a oportunidade tardava para Esteves.

Somou alguns minutos em dezembro contra o Casa Pia, na Taça da Liga, e aproveitou suspensões e lesões para se estrear a titular no campeonato no primeiro jogo após a paragem devido à pandemia. Jogou de início contra o Desportivo das Aves. Repetiu titularidade contra o Boavista. Saiu aos 45 minutos e não voltou a jogar.

“Sabia que ia jogar. O Corona, o Manafá e o Saravia não podiam, só sobrava eu. Recordo-me da sensação. Estava feliz, era uma coisa que queria há tanto tempo. Lembro-me de querer aproveitar a oportunidade. Podia ter feito mais, mas é normal tendo em conta que era o meu primeiro jogo. Nunca seria perfeito, mas acho que estive bem”, lembra.

Não recebeu qualquer feedback do treinador Sérgio Conceição. Não estranha isso. “Não me foi dito nada, também acho que não tinha que ser dito nada. É a equipa principal do Porto, não posso esperar justificações por tudo”.

Acabada a época, Tomás tinha a natural expectativa de integrar a equipa principal do Porto em 2020/21, mas isso não aconteceu e rapidamente se apercebeu que não faria parte dos planos.

“Começando a pré-época, percebi que não ia contar. Treinei em todas as posições, menos na minha. Aí percebi que o plantel estava mais ou menos fechado e não era comigo dentro”, lamenta.

Assume tristeza, mas não ficou "a chorar sobre isso. “Procurei outra solução”, reforça.

Esteve associado ao Dortmund, Valencia e Wolverhampton, mas acabou emprestado ao Reading, da segunda divisão inglesa. Fez 30 jogos, apenas 12 como titular. Não foi a solução ideal.

Em retrospetiva, assume o erro na decisão: “Acho que errei um pouco a ir para o Reading, mas aprendi muito como jogador e pessoa. Era a altura da covid-19, estive a maior parte do tempo só com um amigo meu que veio para me ajudar, mas não vi a minha família durante muito tempo”.

Ficar na equipa B do Porto não era uma possibilidade. Não estimulava o lateral que já tinha experimentado os relvados da I Liga e vencido a Youth League.

“Não era um contexto em que me sentisse motivado. É uma expressão feia, mas não tinha motivação dentro de mim. Precipitei-me, havia indecisão em relação a para onde é que eu ia. Estava um bocado ansioso. O Reading apareceu e disse que sim sem pensar muito”.

Voltou a Portugal novamente sem perspetiva de oportunidades na equipa principal, mas com uma novo entrave. O irmão Gonçalo saiu da formação do Porto diretamente para a equipa principal do Sporting, a custo zero. Tomás assume que pode ter complicado a sua vida no Olival.

“Talvez sim [tenha afetado]. Se ele não tivesse saído, se calhar teriam deixado ir para alguns clubes que eu queria. Mas ele saiu e fiquei contente por ele. Era a melhor oportunidade para ele nessa altura”, lamenta.

O Porto queria colocá-lo num clube que Tomás prefere não revelar qual. Rejeitou: “Fiz a pré-época com a equipa B, tentei algumas soluções, mas não aconteceram. Tomei a decisão de ficar na equipa B e lesionei-me logo em setembro”.

Terá sido, provavelmente, a pior época da carreira profissional. Ficou fora dos relvados de setembro a janeiro, com uma nova recaída em março. Acabou a época com 17 jogos e pouco mais de mil minutos.

Saiu do Porto para rumar a Itália, ao Pisa, nos meses que se seguiram. Primeiro, por empréstimo e, no último verão, convenceu o clube italiano a investir um milhão de euros na sua contratação em definitivo. Nunca cumpriu os sonhos com a camisola azul e branca, apesar de ter em casa a medalha de campeão de 2020.

“Não guardo mágoa nenhuma, nem perco sono. Obviamente que gostaria de ter jogado mais, de ter tido mais oportunidades, mas não guardo mágoa nenhuma”, sublinha.

Mas porquê o Pisa? “Surgiu numa fase final do mercado. Havia o risco de ficar outra vez na equipa B e eu não quera isso. Informei-me o máximo sobre o clube, as ambições, e decidi ir porque não queria ficar na B do Porto. Desde o início que adorei estar lá, a cidade, as pessoas, os adeptos, a equipa. Agora sinto que Pisa é uma casa fora de Portugal”.

Tomás está confortável na Serie B. Encontrou o seu espaço. Joga, por fim, regularmente. Pode não ser no patamar que lhe era apontado, mas recusa totalmente que seja uma promessa falhada. Até porque, considera, ainda é jovem.

Claro que recuso [o rótulo]. Puseram-me a mim, como fizeram a outros do Benfica, Sporting e Porto. Já me colocaram esse rótulo no bom e mau sentido. Vão colocar a outros também, mas não me afeta e não me custa ouvir”, assume.

Olha para os erros, indecisões, lesões e hesitações como parte necessária do crescimento: “Era novo e tinha de aprender, uma pessoa não nasce ensinada. Tinha de passar por situações menos boas para entender melhor as coisas. Há cinco anos, imaginava que hoje estaria noutro patamar, mas não me arrependo”.

Este verão, exclui a possibilidade de voltar a Portugal. Quer retribuir ao Pisa e aos adeptos por ter encontrado ali, na cidade conhecida por uma torre inclinada, uma “casa fora de Portugal”.

Vai cumprir uma terceira época em Itália para depois, “aí sim, ver a minha vida”. A subida à Serie A não é um objetivo assumido, mas está na mente de Tomás. Afinal, formou-se num clube com a máxima ambição.

Acrescenta que pode nem chegar ao mais alto nível - “ao topo, como diziam na altura” -, mas vê em si “muita qualidade para chegar a níveis bastantes altos”.

“Acho que vou chegar, mais cedo ou mais tarde”, prevê.

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