08 out, 2023 - 14:23 • Inês Braga Sampaio
Há quem conheça Luís Andrade e há quem conheça "o Andrade". O segundo foi jogador de Sporting, Braga, Estoril ou Benfica e internacional português de sub-21. O primeiro é treinador da equipa feminina do Al-Qadisiyah, da Arábia Saudita, e é pioneiro no futebol feminino português, brasileiro e saudita.
O técnico, de 50 anos, assumiu o "ano zero" do Al-Qadisiyah na vertente das mulheres, depois de já ter sido coordenador técnico da estreia do Benfica no futebol feminino, e depois ter assumido o comando da equipa - foi o primeiro a orientar as encarnadas na Liga dos Campeões -, e de ter sido o primeiro treinador português no Brasil.
Com o Benfica, conquistou uma Taça da Liga e uma Supertaça e ia na frente do campeonato quando todas as competições foram interrompidas, devido à Covid-19. No Flamengo, venceu a Copa Rio. Ainda assim, sente que o seu trabalho no estrangeiro não é devidamente valorizado em Portugal:
"No estrangeiro, sou valorizado. Em Portugal, penso que não. Infelizmente. Custa-me dizer isto, mas eu acho que em Portugal não somos valorizados. Estamos no estrangeiro a fazer o nosso melhor, a dignificar a nossa bandeira, e por vezes parece que se esquecem de nós."
Agora, leva a experiência acumulada para a Arábia Saudita, que aposta forte no futebol feminino e tenta recrutar estrelas portuguesas e mundiais.
"Temos de trabalhar as jogadoras locais, para cada vez serem mais fortes, cada vez haver mais jogadoras locais, para poder haver mais competitividade no próprio campeonato. Primeiro, trabalhar a atleta local, porque o que é que adianta trazer duas ou três jogadoras [estrangeiras]? Não vão jogar sozinhas. Só podem jogar quatro, portanto temos de trabalhar as sete locais", sublinha.
Tem contrato de um ano com o Al-Qadisiyah, que tem direito de opção de renovação. Em entrevista à Renascença, Luís Andrade recorda o percurso por Benfica e Flamengo, prevê que Portugal possa fazer algo muito giro no próximo Europeu, em 2025, e fala dos objetivos na Arábia Saudita.
O contrassenso não é inédito. Aconteceu no Qatar, (...)
Terminou a carreira e virou-se para o futebol feminino. Foi treinador do Benfica, foi para o Flamengo, o primeiro treinador português no futebol feminino do Brasil, e agora é o primeiro treinador português no futebol feminino da Arábia Saudita. Como é que encara este percurso, entre vários países, do masculino para o feminino e com vários "primeiros"?
O Andrade acaba a fase de jogador e faz a transição para treinador, começa a treinar no masculino, inicia também um projeto de formação, a que esteve ligado bastantes anos, e depois há um convite do vice-presidente do Benfica para ser um coordenador, para fazer a transição da formação para o futebol profissional. Foi o ano zero do Benfica, em que o Benfica iniciou o futebol feminino. Portanto, eu estou no projeto zero. Foi um ano bom, de segunda divisão, mas em que foi ganho praticamente tudo aquilo que era necessário ganhar.
No segundo ano, com o Benfica na primeira divisão, houve um convite para assumir a função de treinador do SL Benfica. Com certeza que aceitei de imediato. A transição de treinador de masculino para treinador de feminino, sinceramente, pouco ou nada, porque estamos a falar de futebol. Há algumas diferenças, mas estamos a falar de futebol. Assim aceitei [o convite], estive dois anos no SL Benfica, tudo correu às mil maravilhas e consegui bastantes títulos. Também representei o Benfica na Liga dos Campeões no futebol feminino, fui o primeiro treinador. Infelizmente, nesse ano, houve Covid e estivemos todos parados. Foi prejudicial, porque estávamos na frente em todas as competições e estivemos parados.
Saí pela porta grande, estive parado algum tempo. No ano seguinte, surgiu o convite para ir para o Brasil, trabalhar para o Flamengo. Assim o fiz, graças a Deus as coisas correram bem. Ganhei títulos. Fui o primeiro treinador português a trabalhar no futebol feminino no Brasil. Nada é fácil na vida, quando chegamos a outro país, temos de mostrar por que estamos ali para representar um grande clube. O Flamengo é um dos grandes clubes do Brasil, mas não podemos comparar o futebol masculino do Flamengo com o futebol feminino, que estava em transição da Marinha para o Flamengo. Estive dois anos e meio, na minha opinião as coisas correram muito bem. Consegui fazer algo histórico, que foi ganhar nove jogos seguidos sem sofrer golos. Para alguns não foi suficiente, para os "media" brasileiros o ganhar por 1-0 ou por 2-0 era muito pouco. Algo inaceitável para mim, porque ganhar por 1-0 e 10-0 são três pontos.
Saí do Flamengo, estive sensivelmente um mês. Já no Brasil tinha havido contactos sobre a possibilidade de ir para a Arábia, mas não surtiu efeito. Estive em Portugal um mês a rever a família e surgiu uma nova oportunidade para vir para a Arábia, para vir representar este belíssimo clube.
O que é que o fez aceitar ir para a Arábia Saudita?
Gosto de grandes desafios, gosto de projetos. Quando aceitei o Benfica, era um novo projeto. Quando aceitei o Flamengo, sabia que já estava em andamento, mas era um novo projeto, porque foi na altura em que o Flamengo pegou no futebol feminino, fez a transição da Marinha para o Flamengo. Sou uma pessoa de desafios, de projetos novos.
Qual sente que é a grande diferença entre o trabalho que fez em Portugal, com o Benfica, depois a transição para o Brasil e, agora, o trabalho na Arábia Saudita?
Em Portugal, quando o Benfica apareceu no futebol feminino, houve mais evolução. Não só pelos "media", mas também pelos "sponsors". O futebol feminino evoluiu na qualidade, na competitividade e na própria formação, com a entrada do Benfica, o que fornece cada vez mais qualidade aos clubes profissionais.
Sobre a transição do Benfica para um Brasil, sabemos que no Brasil temos jogadoras com muita qualidade técnica, mas isso não é tudo. Temos de ser equipas organizadas e, do meu ponto de vista, do que vi e trabalhei, havia alguma falta de orientação tática. Porque na técnica elas são muito valorizadas, mas a nível tático tinham alguma dificuldade. A organização dentro de campo, como jogar sem bola. O trabalho baseou-se muito nisso, focarmo-nos em trabalhar mais em equipa e não no individual. As coisas correram muito bem, ganhei troféus, ganhei títulos. Foi muito bom para toda a gente. Saí satisfeito do Flamengo, como saí satisfeito do Benfica.
Que desafios encontra, agora, na Arábia Saudita, principalmente num país onde o futebol feminino é tão recente?
Este é o segundo ano do futebol feminino da Arábia Saudita. O Al-Qadisiyah já foi campeão árabe duas vezes [no masculino], tem o seu nome. O futebol feminino é o primeiro ano, foi um projeto do zero, mesmo.
Houve um trabalho de captações, em que se conseguiu formar um bom conjunto de atletas locais. Como no masculino, podemos jogar com quatro estrangeiras. Podemos contratar sete e quatro podem jogar. Foi isso que eu fiz: ter as melhores opções estrangeiras para poderem ajudar o grupo, a jogadora e o clube a valorizar-se no futebol feminino. Fizemos um bom estudo de mercado. O campeonato inicia no dia 13 de outubro. As estrangeiras poderão ajudar e valorizar as atletas locais. Eu sei que elas vão ajudar e serão uma mais-valia para a nossa equipa.
Tem este ano zero no Al-Qadisiyah, um dos desafios no clube. Que outros objetivos lhe propuseram, não só para esta época mas também para o futuro?
Os desafios com certeza que têm de ser sempre os mesmos, fazer o nosso melhor trabalho, e isso significa fazer a nossa melhor classificação possível. Primeiro, termos um bom ambiente dentro do grupo, para conseguirmos os nossos objetivos, porque só tendo um bom ambiente conseguiremos os nossos objetivos. É isso que estamos a fazer: trabalhar dia após dia tudo aquilo que é necessário, organização defensiva, organização ofensiva, tudo aquilo que elas nunca trabalharam. No jogo-treino que fizemos, elas cumpriram aquilo que nós trabalhámos, o que é ótimo. É sinal da concentração delas, de que querem aprender e evoluir como jogadoras na Arábia. Porque sabemos perfeitamente que há muitas regras aqui para a mulher e o desenvolvimento do futebol feminino vai favorecer não só quem quer jogar futebol, mas também, se calhar, outros desportos femininos.
Ou seja, considera que o crescimento do futebol feminino na Arábia Saudita pode também ser um desbravar de caminho para outras mulheres no desporto e noutros desportos?
Sem dúvida. Acho que isto leva a que a mulher seja mais livre na Arábia. Agora, sabemos perfeitamente que isto tem os seus percursos e as suas fases. Não pode ser de um dia para o outro, mas estou muito satisfeito. Para quem pergunta pelo Andrade, porque é que o Andrade quis optar pela Arábia, estou satisfeito. Condições fantásticas, excelentes, para um projeto zero. Tem um campo relvado natural fantástico, tenho sempre "staff" pronto para ajudar, no final do treino sempre frutas, sumos, água, não falta nada. Transporte… Ou seja, é novo, mas eles querem adaptar-se cada vez mais à realidade de ser um clube cada vez mais profissional e ser tão bom como os outros.
Aqui, há clubes que estão mais à frente, principalmente quatro a cinco: o Al-Nassr, o Al-Hilal, o Al-Ittihad, o Al-Shabbah. Estes quatro clubes reforçaram-se e têm as melhores jogadoras locais. Depois, temos outras três equipas idênticas a nós, que passam a mesma dificuldade nesta primeira fase. Mas por vezes há surpresas. Queremos fazer um bom trabalho e por que não surpreender os mais fortes? É isso que vamos tentar fazer, com a nossa humildade e o nosso trabalho. Quem me conhece sabe perfeitamente sabe que sou uma pessoa de trabalho e de nunca desistir. Sabendo que não se ganha sempre. Mas o trabalho é a melhor maneira de conquistarmos as nossas atletas e o nosso dia a dia.
Sente que o estatuto social das mulheres na Arábia Saudita poderá interferir na contratação de jogadoras estrangeiras?
Não, a própria jogadora estrangeira tem de se adaptar às regras da Arábia. É isso que temos de fazer. Tal como eu tenho de me adaptar. Dentro das leis deste país, temos de nos adaptar. A mulher tem as suas regras e com certeza que vai cumprir. Toda a gente sabe que à hora da reza, toda a gente vai rezar. Não é por causa disso que as estrangeiras vão deixar de treinar.
Sendo um bocadinho mais direta, sente que o facto de haver algumas regras sobre a mulher na Arábia Saudita pode ser um obstáculo a contratar jogadoras estrangeiras?
Não. Nada. Não leva a isso. Acho que a jogadora estrangeira que queira vir jogar e mostrar o seu talento na Arábia tem de saber que é um país que tem as suas regras e que chega aqui e tem de cumprir. Sabe perfeitamente que tem de cumprir.
Toda a gente sabe perfeitamente que a mulher sai à rua e tem de andar de calças, não pode andar de "short" nem de saia. É uma das situações que eu sei e há mais. Tem de cumprir e qual é o problema? A estrangeira vem para aqui com o objetivo de jogar futebol, trabalhar. Esse é o objetivo. A jogadora vem para aqui para trabalhar, para ser uma mais-valia. Não vem para aqui de férias. Se vier para aqui de férias que fique em casa, queremos jogadoras é que venham para aqui ajudar. Porque nós temos os nossos objetivos. Falo como treinador. Uma jogadora que eu contrate que pense que vem para mudar as regras que estão aqui definidas eu mando-a logo embora, nem tem lógica nenhuma. Está a perceber?
A estrangeira tem de vir para aqui definida que tem regras a cumprir, mas que vem dar o seu melhor. O seu melhor é ajudar o clube a ser valorizado, é ajudar as jogadoras locais, porque precisam delas, porque já vêm com outra ideia de jogo, outro pensamento, e com certeza que vêm para aqui para ajudar. Eu penso assim.
A jogadora estrangeira não vem para aqui de férias, tal como eu não venho para aqui de férias, venho para aqui para ter sucesso. E vou ter sucesso. Mas o sucesso dá trabalho e a gente nunca consegue ter sucesso sozinha, só com as jogadoras, a equipa técnica e com toda a gente no clube, para sermos melhores dia após dia.
Vimos no futebol masculino grandes nomes a ir para a Arábia Saudita. Considera que estão a tentar fazer o mesmo no feminino e que poderemos ver grandes nomes a ir para aí?
Fui entrevistado pela televisão da Arábia Saudita e fizeram-me tal e qual essa pergunta. A resposta vai ser a mesma: este é apenas o segundo ano do futebol feminino na Arábia Saudita, portanto isto ainda vai levar o seu tempo.
Temos de trabalhar as jogadoras locais, para cada vez serem mais fortes, cada vez haver mais jogadoras locais, para poder haver mais competitividade no próprio campeonato. Primeiro, trabalhar a atleta local, porque o que é que adianta trazer duas ou três jogadoras [estrangeiras]? Não vão jogar sozinhas. Só podem jogar quatro, portanto temos de trabalhar as sete locais.
Temos de trabalhar primeiro a jogadora local, evoluir a jogadora local, principalmente em formação e haver mais mulheres a jogar à bola, para haver mais possibilidade de haver mais equilíbrio entre as equipas e haver cada vez mais jogadoras a destacar-se. Isto vai promover uma seleção da Arábia Saudita mais forte, porque as próprias jogadoras que vêm para aqui vêm para ajudar. Atletas que vêm com nome para aqui para se destacar muito dificilmente, neste momento, se vão destacar.
Diz que este trabalho vai, também, ajudar a tornar a seleção da Arábia Saudita mais forte. Estamos no segundo ano do futebol feminino da Arábia Saudita. O próximo Mundial é em 2027. Considera que de agora a 2027 poderemos ver o evolução tal que, quiçá, veremos a Arábia Saudita no Mundial ou muito perto disso?
Porque não? A gente nunca sabe. Às vezes, há surpresas, como já houve no masculino. Ainda é cedo para a Arábia Saudita, acho que ainda é cedo e que outros países estão mais evoluídos a nível de pensamento tático. Com certeza que vai levar o seu tempo. Ano após ano, cada vez trabalhar mais, mais jogadoras, tem de se pensar o trabalho da formação, para poder dar mais suporte ao profissional.
É aquilo que eu disse, têm de jogar sete jogadoras locais e elas têm de ter qualidade para poder haver mais competitividade no campeonato. O que posso dizer é que, neste momento, há quatro equipas aqui que estão muito fortes não só pelas estrangeiras, mas também pelas jogadoras que são as mais fortes e que, neste momento, estão ligadas aos quatro clubes com nome. São essas quatro equipas que estão com as jogadoras locais com mais nome e experiência no futebol.
Um puco o que aconteceu no primeiro ano no Benfica, em que quis entrar numa segunda liga e procurou jogadoras locais, portuguesas, e as melhores estavam todas no Sporting, no Braga, no 1.º Dezembro, no Belenenses… As melhores estavam nos melhores clubes, não se podia ir buscar, portanto o Benfica foi reforçar-se com estrangeiras. Na altura, era possível jogar com bastantes jogadoras que não eram formadas localmente. Aqui a regra é diferente, temos de jogar com sete jogadoras locais. É giro.
O Benfica até chegou a ter a Darlene, com quem trabalhou no Flamengo. A Geyse, agora no Manchester United...
A Cloé Lacasse. Fui buscar essa jogadora à Islândia e graças a Deus conseguiu valorizar-se e fazer uma excelente transferência para o Arsenal. É isso que nos dá orgulho, trabalhar essas jogadoras, para que elas depois saiam valorizadas. Claro que não fui o único treinador que valorizou essa jogadora, mas fui um dos responsáveis pela valorização dessas atletas e do qual me orgulho muito. Trabalhamos também para ficarmos orgulhosos do trabalho que fazemos com as nossas atletas.
Nesse sentido, também do orgulho que sente em desenvolver a atleta e de criar estes projetos do zero ou de quase zero, sente que este projeto no Al-Qadisiyah é o mais aliciante, se não o mais aliciante, da carreira, pela forma como está a desenvolver todo um clube, mas também todo o futebol feminino em si na Arábia Saudita?
Cada projeto é um projeto. É mais um projeto aliciante, como foi o Benfica, como foi o Flamengo. É mais um projeto para a minha carreira e para eu fazer o meu melhor, conseguir aquilo que todos os treinadores querem – títulos, conquistas – e, acima de tudo, formar jogadoras. Saber que a jogadora A, B ou C conseguiu evoluir e conseguiu ter a oportunidade de representar uma outra equipa com mais nome. Esse é que é o nosso grande desafio como treinador: fazer o nosso melhor clube, valorizar as atletas e com certeza ganhar títulos. O treinador que não ganha títulos não aguenta muito tempo, com certeza. É normal.
O projeto passa muito por fazer um bom trabalho e valorizar as atletas aqui de Khobar, uma cidade linda, adoro. É fantástico, isto é lindo. É para isso que aqui estou.
Tem agora este projeto na Arábia Saudita. Olhando para o futuro, o que é que ambiciona para agora e para depois do Al-Qadisiyah?
O futuro a Deus pertence. Neste momento, estou muito satisfeito neste clube e quero fazer o meu melhor: valorizar as atletas locais e as atletas estrangeiras que vêm para aqui para ajudar e para se valorizarem, conquistar títulos. Quero e vou conquistar títulos, sabendo que é uma tarefa difícil, um projeto começado do zero, mas todos juntos acho que conseguimos.
O futuro a Deus pertence. Se estou satisfeito, porquê sair? Se estiver satisfeito, quero continuar aqui mais um, mais dois, mais três, o que tiver de ser. Não penso no futuro, penso no dia de amanhã.
Regressemos ao Brasil. Falou da falta de cultura tática da jogadora brasileira, algo que se viu que Pia Sundhage, ex-selecionadora, tentou resolver. Pegando nos dois países por onde já passou, como é que viu Portugal e Brasil no Mundial?
Já tinha dado os parabéns à seleção portuguesa, foi fantástico.
Vi a Copa no Brasil e foi fantástico ver as nossas atletas portuguesas, o que evoluíram, não só individualmente, mas também coletivamente. Uma seleção muito ativa, que jogou sempre com o foco de ganhar, o que é importantíssimo. Infelizmente, depois, não conseguiu o objetivo, o que, na minha opinião, foi muito injusto. Parabenizar todes aqueles que estiveram na Copa do mundo, parabenizar o selecionador nacional, que foi fantástico na maneira como escalou a equipa portuguesa, sempre com o foco de ganhar, sem receio algum das principais seleções.
Em relação ao Brasil, foi um dissabor muito grande, principalmente no país, onde estavam à espera de mais e melhor. Na minha opinião, a nível individual, fantásticas. São jogadoras que a qualquer momento podem destacar-se pela positiva, fintar um para um ou um para dois e fazer golo. Agora, coletivamente, foi uma equipa muito incapaz de superar o adversário, principalmente em situações de organização defensiva. Principalmente sem bola, teve muita dificuldade.
Sobre o futuro da seleção, onde é que vê Portugal chegar num curto, médio prazo?
O campeonato português está cada vez mais competitivo, o que vai valorizar mais a jogadora portuguesa. A formação está mais competitiva, o que vai abastecer cada vez mais as equipas profissionais. Não esquecendo de dar o mérito à Federação Portuguesa de Futebol, que está de parabéns, por tudo aquilo que tem investido no futebol feminino, e acho que cada vez deve investir mais. Mas por tudo aquilo que os clubes têm feito, estou convencido e com a esperança de que a gente possa fazer algo muito giro no próximo Europeu. Porque qualidade nós temos. Temos qualidade individual e coletiva. Por aquilo que vi nos jogos [do Mundial], temos qualidade coletiva e individual e jogadoras que podem jogar no estrangeiro, sem dúvida. Agora, é tudo oportunidades. E temos [jogadoras no estrangeiro].
Considera que falta haver mais treinadores portugueses no estrangeiro?
Olhe… Deixe-me falar por mim. Eu tento fazer o melhor. Fazer o melhor é dignificar todo o trabalho que todos os treinadores portugueses fazem em Portugal. Estou no feminino e quero fazer como no masculino: queremos fazer o nosso melhor, para valorizar cada vez mais o treinador português. E eu consegui isso. E sabe porquê? Porque tive vários clubes a perguntar por treinadores portugueses que poderiam encaixar nos clubes no Brasil. E isso é bom. É a valorização do trabalho que eu fiz no Flamengo e outros treinadores poderão ingressar com certeza no Brasil. E isso é ótimo, é de valorizar.
É um orgulho enorme saber que fui o primeiro treinador português a trabalhar no Brasil no futebol feminino, o primeiro treinador português a trabalhar no futebol feminino da Arábia Saudita. Temos de ficar orgulhosos do nosso trajeto. Temos de ficar orgulhosos do nosso trajeto, não só fiquei muito orgulho do meu trajeto como jogador, mas também como treinador. Agora, com certeza que isto tem o seu tempo, o seu "timing", para conseguirmos fazer um bom trabalho.
Sente-se valorizado, em Portugal, pelo trabalho que tem feito no estrangeiro?
No estrangeiro, sou valorizado. Em Portugal, penso que não. Infelizmente… Custa-me dizer isto, mas eu acho que em Portugal nós não somos valorizados. Estamos no estrangeiro a fazer o nosso melhor, a dignificar a nossa bandeira, e por vezes parece que se esquecem de nós. Valorizam tanto, tanto o futebol feminino, mas esquecem-se dos que estão fora a valorizar o futebol feminino de Portugal e os treinadores portugueses. É isso que por vezes me magoa. Mas a vida continua, temos de olhar para a frente e não para trás.
Estou no estrangeiro, mas sempre a pensar em elevar a nossa bandeira. Sempre a elevar a nossa bandeira e a dignificar o treinador português, não no futebol masculino, mas no futebol feminino. Porque nós temos treinadores de futebol feminino com muita qualidade. Não é só o Andrade, nem quem está no Sporting, no Benfica ou no Braga. Temos treinadores que, hoje em dia, já têm uma metodologia muito avançada no futebol e isso é importante, para depois continuarem a sua carreira em Portugal e no estrangeiro.