O caso do Al-Qadisiyah é diferente. O trabalho de Luís Andrade começou com captações, para formar a base da equipa, e treino focado na aprendizagem de conceitos básicos.
O treinador português encara o recrutamento de jogadoras estrangeiras, num clube que ainda corre por fora, como uma forma de "ajudar o grupo, a jogadora local e o clube a valorizar-se no futebol feminino”.
“Temos de trabalhar primeiro a jogadora local, evoluí-la, principalmente em formação, e tem de haver mais mulheres a jogar à bola, para que haja mais equilíbrio entre as equipas e cada vez mais jogadoras a destacar-se. Atletas que vêm com nome para aqui para se destacar muito dificilmente, neste momento, se vão destacar”, diz.
Tal como no masculino, o número de vagas para jogadoras estrangeiras é limitado. Cada clube pode ter sete no plantel e só quatro podem jogar.
Andrade frisa, portanto, que as outras sete jogadoras sauditas que estarão em campo têm de ter qualidade. Isso obriga a “pensar o trabalho da formação, para poder dar mais suporte ao profissional”. E “não falta nada” às jogadoras para que possam evoluir, nem mesmo campo com relva natural, algo que, em vários campeonatos europeus – incluindo o português - ainda escasseia.
O Al-Qadisiyah até já tem um nome sonante no plantel: Rayanne Machado, antiga jogadora do Sporting de Braga, que o técnico português orientou no Flamengo. A defesa e média brasileira tem no palmarés uma Taça de Portugal e um Brasileirão.
Nos clubes mais fortes, que lutam para ser campeões, a jogadora estrangeira serve outro propósito. É Plumptre, estrela do futebol mundial, que encaixa no perfil de jogadora de seleção, de 24 a 28 anos, para cuja contratação não faltará dinheiro.
Consequências felizes de intenções duvidosas
Para Helena Costa, antiga selecionadora do Qatar, há males que vêm por bem.
“Na Arábia Saudita, estão, de facto, a trabalhar condições, também à imagem do que o Qatar fez, no desporto em geral, para proporcionar uma imagem diferente do país e levar [à vitória a candidatura] ao Mundial 2034, que é o grande objetivo deles. O futebol feminino, felizmente, está a ir por arrasto e ainda bem”, afirma.
No entanto, como é que se atrai jogadoras para um país onde as mulheres não podem tomar decisões sozinhas?
O dinheiro, num contexto, como o futebol feminino, em que muitas jogadoras não recebem o suficiente para viver exclusivamente da profissão que escolheram, é um fator importante.