25 nov, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral
O Plano Ferroviário Nacional, apresentado na semana passada, entrou em fase de discussão pública. Uma discussão que se prevê acalorada, já que o tema do caminho de ferro envolve, nas palavras do primeiro-ministro, “uma estranhíssima paixão”. O problema é que, continuando a citar A. Costa, essa paixão é “tão platónica que se aguardam décadas para a consumação”.
Este Plano pretende ser, para os caminhos de ferro, o equivalente ao que foi o Plano Rodoviário Nacional de 1985, para as estradas e autoestradas. É um documento para ser realizado nas próximas décadas, pelos governos que se seguirem. Mas também pelo atual governo, ao qual cabe a responsabilidade de desmentir aquilo que parece ser uma notória incapacidade para concretizar as promessas sobre melhorias do nosso caminho de ferro.
Foi há dias notícia que a modernização da Linha da Beira Alta (onde por causa das obras não passam comboios) irá demorar mais do que a sua construção. Também se disse que a Ferrovia 2020 está atrasada e talvez só se conclua depois de 2023. Acontece que o ministro que tutela os caminhos de ferro, Pedro Nuno Santos, gosta de se mostrar como alguém que faz obra. Mas nesta área da ferrovia não tem sido feliz.
No passado recente os socialistas criticaram, com alguma razão, o excesso de investimento nas autoestradas e a falta dele no caminho de ferro. De facto, enquanto a maioria dos países europeus investiram fortemente no caminho de ferro nas últimas décadas, Portugal deixou degradar boa parte da via férrea e do material circulante.
Ora o PS está há sete anos no Governo e ainda não se viu que concretizasse os seus intentos reformadores no transporte ferroviário. Se esta incapacidade prosseguir, agora com maioria absoluta, o Plano Ferroviário Nacional arrisca-se a ser mais um pretexto para adiar a modernização dos comboios.