10 out, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral
O Banco de Portugal (BP) assinala que no ano corrente o investimento deverá crescer apenas 0,8%. Entre as várias causas para a quase estagnação do investimento indica o BP a fraca concretização dos projetos dos fundos de Bruxelas que fazem parte do plano português de Recuperação e Resiliência.
Um muito baixo investimento em 2022 anuncia problemas para o crescimento da economia no próximo ano. Mas o primeiro-ministro afirmou na quinta-feira passada que não haverá recessão no país em 2023 (o Banco de Portugal disse o mesmo, mas quanto ao corrente ano).
António Costa baseava-se certamente nos dados do cenário macroeconómico que acompanham o projeto de Orçamento do Estado para 2023, dados que depois foram conhecidos. Aí se prevê que o PIB cresça apenas 1,3% em 2023, o que será insuficiente para um crescimento razoável da economia, mas não configura uma recessão. Soube-se, também, que o Governo estima que no próximo ano a inflação caia para 4%, cerca de metade da inflação atual.
As estimativas do Governo para 2023 são realistas? Digamos que são possíveis, mas não serão as mais prováveis.
O Governo terá sido sensível à conveniência de afastar a ideia de que iremos sofrer uma recessão. É que quanto mais vezes esta ameaça surgir mais provável se torna a recessão acontecer. Temendo essa situação, os consumidores adiam compras e os empresários adiam investimentos, com o resultado de a recessão passar de ameaça a realidade.
O mesmo se diga da inflação. Se o Governo – e o BCE – nos convencerem de que a alta dos preços irá baixar muito, aumentará a probabilidade de tal acontecer no próximo ano. Por outras palavras, evitemos os alarmismos, ainda que possamos ser acusados de demasiado otimistas.