07 mai, 2019
Uma vítima da crise política aberta em Portugal na sexta-feira passada e ainda não totalmente encerrada é a campanha para as próximas eleições para o Parlamento Europeu (PE), a 26 deste mês. Vai falar-se muito mais de política interna do que de questões europeias. Isto acontece apesar da importância política excecional destas eleições, uma vez que os partidos eurocéticos, anti-imigrantes e adeptos de “democracias iliberais” as encaram como um primeiro passo para destruírem a integração europeia por dentro.
Por isso, volto à Carta Pastoral que os bispos portugueses publicaram na semana passada e que não é apenas sobre Portugal – também aborda, com preocupação, a crise da integração europeia.
A Europa comunitária, lembram os bispos, “funcionou durante décadas como âncora segura de paz, respeito pelos direitos humanos, defesa da democracia, construção de bem-estar, livre circulação de cidadãos, a par de abertura, hospitalidade e acolhimento de cidadãos de países terceiros”.
E acrescentam: “a Europa comunitária foi, ainda, desde a sua fundação, um espaço de construção de uma cidadania comum e de criação de uma consciência ecológica global”.
Referindo-se à adesão de Portugal à então CEE (Comunidade Económica Europeia) em 1986, afirmam os bispos que “foi, simultaneamente, a concretização de um sonho de progresso e desenvolvimento continuado e uma vacina contra regressos indesejáveis a regimes de cariz autoritário”.
Mas, alerta a Carta Pastoral, “neste momento, assistimos a movimentos de desagregação da União Europeia, como o Brexit e o crescente nacionalismo autoritário ou populista, acompanhados da generalização do discurso xenófobo. Assistimos mesmo ao regresso de ideologias neonazis e anti-semitas. O islamofobismo é simultaneamente origem e consequência de novos movimentos de cariz terrorista. A intolerância alimenta-se do ódio, e o ódio alimenta-se do medo, num ciclo vicioso difícil de romper. As próprias comunidades cristãs e os seus templos têm sido vítimas de atentados.”
Por isso, cabe aos católicos “promover soluções que combatam um ambiente de generalizada violência física, verbal e psicológica, que polui o ambiente e tolda de inútil crispação a relação entre as pessoas. Cabe-nos a nós contribuir para a justiça e a participação cidadã, que deve ser vista como positiva, mesmo quando é protagonizada por jovens e assume cariz inorgânico”.
Palavras claras e oportunas, numa altura em que alguns europeus parecem querer brincar com o fogo.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus