Eleições Legislativas 2024

A ilusão das sondagens? “PS poderá estar subestimado em 3 ou 4 pontos percentuais”

07 mar, 2024 - 23:14 • Diogo Camilo

Estimativas de Pedro Silva Martins, ex-secretário de Estado do Emprego de Pedro Passos Coelho e militante da Iniciativa Liberal, lançam PS e AD para um autêntico empate nas intenções de voto. Sondagens utilizam números da população de 2021 e 2022 e esquecem o efeito da migração dos jovens e o envelhecimento da população, beneficiando partidos como o Chega e a IL.

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“As pessoas não estão a prestar atenção a isto.” O aviso é deixado por Pedro Silva Martins, ex-secretário de Estado do Emprego no Governo de Pedro Passos Coelho entre 2011 e 2013 e agora militante da Iniciativa Liberal, que tem estimativas de que os resultados do PS poderão estar três a quatro pontos percentuais acima do que mostram as sondagens, devido a diferenças entre as amostras que os inquéritos de opinião usam e aquilo que é a realidade da população portuguesa.

Há sondagens a realizarem estudos tendo por base a população do Censos de 2021, que “esconde” 275 mil idosos, enquanto outros usam os cadernos de recenseamento de há dois anos. O envelhecimento da população e a emigração de jovens fazem com que todas as casas de sondagens subvalorizem o PS e beneficiem partidos com mais eleitorado jovem, como o Chega e a Iniciativa Liberal.

O professor catedrático na Nova School of Business and Economics (Nova SBE) garante à Renascença que as intenções de voto para o Partido Socialista “são mais baixas do que aquelas que viremos a encontrar nas eleições no próximo domingo”.

“O Partido Socialista é um partido que recebe grande parte do seu apoio dos eleitores mais velhos e na ponderação que é feita dos resultados dos inquéritos pelas empresas de sondagem, esse grupo etário estará subvalorizado”, avisa o economista.

Isso acontece porque as casas de sondagens utilizam números da população relativos a 2021 e 2022 para definir as amostras de pessoas que vão responder aos inquéritos, não tendo em conta o “efeito da emigração” no número de jovens e de faixas etárias intermédias dos últimos anos, nem o crescimento da população mais idosa em quase 300 mil nos últimos três anos.

Segundo os números de Pedro Silva Martins, os resultados do PS poderão estar subestimados “entre um a dois pontos percentuais”, a nível das intenções diretas, que se podem transformar em “três a quatro pontos percentuais a mais após a distribuição dos indecisos”.

Na Sondagem das Sondagens da Renascença, que agrega todos os inquéritos de opinião, a AD surge à frente, com 31,6% e fora da zona de empate técnico, com o PS a registar menos quatro pontos - 27,6%. Com a soma de quatro pontos percentuais às intenções de voto atuais, o PS empataria com a AD.

O alerta já tinha sido deixado esta manhã por Pedro Nuno Santos, que desvalorizou os resultados das sondagens que dão vitória à AD e alegou que há uma maioria sub-representada que não aparece nas televisões nem está nas redes sociais.

"Essa maioria, que não está nas televisões, nem nas redes sociais, já estava em 2022 sub-representada nas sondagens. Temos de garantir que vão votar no domingo", declarou numa intervenção durante um almoço-comício em Marco de Canaveses.

Numa primeira análise à sondagem divulgada na RTP e no Público, Pedro Silva Martins tinha estimado que, só nesse inquérito, o PS estaria subestimado em 0,8 pontos em intenções diretas de voto e a AD em 0,5 pontos, enquanto o Chega e a IL estariam sobrestimados, por terem mais apoio relativo dos mais jovens.

Duas casas “escondem” 275 mil idosos, outra diz que metade dos portugueses são licenciados

Para a realização dos inquéritos de opinião, as casas de sondagem usam amostras com valores definidos de idade, sexo, região. No entanto, as referências que usam variam, e não há regra eleitoral para definir por onde se devem guiar.

O caso mais bizarro é o das sondagens para a TVI/CNN Portugal, da Duplimétrica e IPESPE, onde o PS poderá estar subestimado em mais de cinco pontos percentuais em relação a sondagens divulgadas no mesmo espaço temporal, enquanto a AD, ao contrário, parece estar sobrevalorizada em três pontos percentuais - um desvio de oito pontos entre os dois.

A razão é simples, depois de analisado quem foi inquirido: a amostra da tracking poll apresenta mais de 50% de pessoas com Ensino Superior, quando na realidade Portugal tem cerca de 23%; a percentagem de pessoas até ao 3.º ciclo do Ensino Básico está abaixo dos 20%, quando em 2023 era de 50,5%.

Nas últimas legislativas, segundo o estudo pós-eleitoral do ICS-ISCTE, o PSD teve mais cinco pontos percentuais que o PS entre pessoas com algum tipo de grau de ensino superior, enquanto o PS teve mais 32 pontos percentuais que PSD entre pessoas com menos do que o ensino secundário.

A Duplimétrica e o IPESPE não esclarecem na metodologia como é definida a amostra para as suas sondagens, ou que números de população portuguesa são utilizados. A Renascença questionou a empresa e o instituto sobre que referência usa para caracterizar a sua amostra, mas não recebeu resposta.

As sondagens para RTP e Público, realizadas pela Universidade Católica - CESOP, usam os dados do Censos de 2021, tal como as da Consulmark2 para a Euronews e o jornal Nascer do Sol. No estudo realizado há três anos, o número de idosos em Portugal era de 2,4 milhões, enquanto a atualização de fevereiro deste ano dos cadernos eleitorais conta com quase 2,7 milhões de pessoas maiores de 65 anos que podem votar a 10 de março.

São mais de 275 mil idosos que estas duas casas de sondagem não ponderam na hora de realizar a sondagem, não representando de maneira exata a realidade da população em Portugal.

Nas últimas eleições, os maiores de 54 anos representaram quase metade do eleitorado do PS, enquanto 39% dos eleitores do PSD estavam nesta faixa etária.

Segundo as estimativas de Pedro Silva Martins, que usou os dados na página da Sondagem das Sondagens de todas as sondagens publicadas em meios de comunicação entre 2022 e 2024, a Consulmark2 subestima o PS em mais de 5 pontos percentuais e coloca a AD 1,2 pontos acima, enquanto o CESOP subvaloriza os socialistas em 2,4 pontos e sobrestima a AD em 2,8 pontos percentuais.

O economista explica que há um “desvio sistemático” entre diferentes empresas em relação à previsão que fazem sobre um partido em concreto.

Para a análise estatística, foram analisados os coeficientes de regressão dos partidos para cada casa de sondagem, tendo em conta sondagens divulgadas no mesmo período temporal. Ou seja, quanto maior o coeficiente de regressão, maior é o desvio para as sondagens que são publicadas na mesma altura.

Madeira e Açores não contam para duas casas de sondagens

As sondagens para o Correio da Manhã e o Jornal de Negócios, realizadas pela Intercampus, e as da SIC e Expresso, realizadas pelo ICS-ISCTE, têm outra particularidade: apenas realizam os estudos em Portugal Continental, excluindo Madeira e Açores e, assim, esquecendo, mais de 5% dos eleitores, que elegem 11 deputados na Assembleia da República.

A juntar a isso, a Intercampus tem como referência os cadernos eleitorais de 2022. Em relação a esse ano, existem mais 70 mil pessoas maiores de 65 anos nos cadernos para estas eleições e menos 110 mil pessoas na faixa etária dos 25 aos 64 anos.

Pedro Silva Martins estima que a Intercampus subestima o PS em 4,3 pontos percentuais, enquanto a AD é também subvalorizada em 1,6 pontos percentuais. Isto acontece devido ao carácter eleitoral de Madeira e Açores, onde os dois grandes partidos têm altos resultados, o que faz com que a Intercampus inflacione os resultados dos pequenos partidos.

Nas sondagens da empresa, a IL é sobrevalorizada em dois pontos percentuais, o Bloco de Esquerda em três pontos percentuais e o PAN em 1,6 pontos.

Nos inquéritos para a SIC e Expresso do ICS-ISCTE, em que é utilizado um método de simulação de urna e quotas dentro das localidades selecionadas para a sondagem, é onde o PS é menos subvalorizado. A estimativa de Pedro Silva Martins, cedida à Renascença, mostra um desvio negativo de 0,8 pontos, enquanto a AD ganhou 0,7 pontos. O grande desvio nesta casa de sondagens é da Iniciativa Liberal, que perde dois pontos percentuais.

As sondagens para JN/DN/TSF da Aximage usam dados do INE, complementado por listas da PT e Anacom, com o inquérito a ser feito através de questionário online e telefone. O PS é subvalorizado em mais de dois pontos, enquanto a AD não sofre alterações.

O economista admite que esta análise possa ter “algumas limitações”. “Pode haver aqui uma coincidência de algumas empresas terem mais sondagens em determinadas alturas, a metodologia pode não ser capaz de ter isso completamente em conta”, refere, indicando que seria positivo ter “mais informação” para os partidos mais pequenos.

PS "subvalorizado", AD "sobrestimada"

Analisando partido a partido, segundo a análise de Pedro Silva Martins, podemos ver que o PS poderá estar subestimado por todas as casas de sondagens, especialmente IPESPE, Intercampus e Consulmark2, enquanto a AD poderá ser sobrevalorizada por quase todas, à exceção da Intercampus, devido à exclusão de Madeira e Açores nas suas sondagens.

O Chega, seguindo a mesma lógica, é favorecido ligeiramente por quase todas as casas de sondagens. A exceção é o CESOP, que poderá estar a subvalorizar o partido em cerca de um ponto percentual.

Na IL, a casa de sondagens que poderá estar a subvalorizar os liberais é o ICS-ISCTE, em mais de dois pontos percentuais, enquanto a Intercampus tem um desvio positivo de dois pontos.

Seguindo a mesma lógica, o Bloco de Esquerda é sobrestimado por todas as casas de sondagens, com a Aximage a ter um desvio de dois pontos percentuais e a Intercampus de três pontos percentuais.

A CDU não sofre grandes desvios nas sondagens, à exceção do ICS-ISCTE, que poderá estar a sobrevalorizar a coligação em um ponto percentual, enquanto o PAN é sobrestimado em mais de um ponto pela Intercampus e a Aximage, na opinião do investigador. O Livre, da mesma forma, tem os seus resultados inflacionados pelo IPESPE, que apresenta um desvio acima de um ponto percentual.

Menos idosos, mais mulheres, menos pessoas do Norte e Ilhas

As diferenças entre a população que vai ser chamada a votar a 10 de março e a que surge em sondagens é visível a nível de faixa etária, mas também a nível de região e sexo.

Uma análise da Renascença a todas as sondagens divulgadas desde o início de 2024 têm uma percentagem de pessoas mais velhas abaixo da percentagem de idosos que estava nos cadernos de recenseamento no final de 2023 (29,1% de pessoas com mais de 65 anos).

Do lado contrário, todas tinham percentagem acima dos cadernos eleitorais nas faixas etárias dos 25 aos 34 anos e dos 35 aos 64 anos.

Em termos de regiões, todas as sondagens têm percentagens de população do Norte (36,2%) e da Área Metropolitana do Porto (16,7%) abaixo das que estavam nos cadernos eleitorais no final de 2023, à exceção da última da Aximage, que dá vitória ao PS.

As regiões de Madeira e Açores também foram sub-representadas nas sondagens divulgadas nos últimos dois meses, enquanto a região da Área Metropolitana de Lisboa e Centro surgem em maior número do que devia nas amostras da maioria das sondagens.

Entre homens e mulheres, em 17 amostras de diferentes sondagens divulgadas, o sexo feminino foi sobrerepresentado em 10 delas, enquanto os homens surgiram em maior percentagem que a realidade do eleitorado em sete.

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