07 out, 2015
Terminada a campanha eleitoral talvez seja importante pensarmos na forma como a generalidade dos média nacionais escolheu informar-nos. E fazer um apelo a um exercício de prestação de contas que tradicionalmente fica por fazer.
Porquê falar em prestação de contas? Porque tão importante como o que escolhemos destacar é aquilo que escolhemos deixar de lado; porque são decisivas as palavras que escolhemos para caracterizar alguém ou alguma situação e porque ajudamos a ‘normalizar’ imagens, ideias, comportamentos de forma ainda mais acutilante nestes momentos de redobrada atenção dos cidadãos.
O que tivemos, então? Tivemos uma agenda editorial deliberadamente dominada por sondagens de solidez metodológica frágil e apoiada, em grande medida, em comentário político... feito por políticos ou por ex-políticos.
Foram os responsáveis editoriais das várias empresas que temos - muitas delas em situação financeira delicada - que escolheram ter sondagens todos os dias (e seria tão interessante saber quanto custaram) e foram esses mesmos responsáveis que escolheram fazer delas o eixo da sua atividade diária. Foram os mesmos que escolheram, num momento em que faria sentido ouvir uma maior pluralidade de vozes, concentrar o comentário em ‘profissionais’, muito mais sintonizados com as estratégias das forças que apoiam do que com o esclarecimento das audiências.
Escolheram, assim, as empresas, inundar-nos de ruído em vez de cumprirem a tarefa que emerge do contrato implícito que com elas temos – a de seleccionar e interpretar o que é relevante num momento já de si tumultuoso; a de pausar o frenesim com silêncios que explicam e ajudam a esclarecer.
Haverá quem argumente que esta postura generalizada dos média - a de agentes tendencialmente passivos/colaboradores num ambiente de feroz competitividade entre estratégias de propaganda política - não é novidade em Portugal nem sequer é uma particularidade nossa. É, em qualquer caso, menos do que aquilo a que temos direito.
PS. O mal das generalidades é que são obrigatoriamente injustas. E seria injusto ter neste pacote sombrio o trabalho online da RR (‘O dia em 100 segundos’ e as reportagens no país que a campanha não visitou são trabalhos brilhantes) ou a ‘tenda de campanha’ da TSF.