Legislativas 2024

E agora? O calendário de Marcelo e cinco cenários pós-eleitorais

11 mar, 2024 - 02:27 • Fábio Monteiro

Novo Governo deve tomar posse no início de abril. Se alguma coisa correr mal ao executivo de maioria relativa, Marcelo Rebelo de Sousa só pode dissolver Parlamento depois de 10 de setembro.

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Contados (quase todos) os votos das eleições legislativas deste domingo, o futuro do país está ainda no limbo. E nas mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

O xadrez político é complicado, apesar da vitória da Aliança Democrática (AD).

O resultado dos círculos da emigração – Europa e Fora da Europa – só serão conhecidos a 20 de março, data-limite para a contagem dos votos remetidos por correio até à véspera das eleições. Em causa estão quatro assentos parlamentares. (Em 2022, três ficaram para o PS, um para o PSD.)

Antes disso, em todo o caso, o Presidente da República pode já começar a mexer peças.

Marcelo Rebelo de Sousa tem até 15 de março – próxima sexta-feira – para ouvir todos os partidos. De seguida, o Presidente da República deverá anunciar quem irá indigitar como primeiro-ministro. Neste caso, o líder do PSD e coligação AD, Luís Montenegro.

Se tudo correr conforme o previsto, o novo Governo da AD (com ou sem apoio da IL, é uma incógnita) deverá tomar posse já em abril.

Na quarta-feira, 13 de março, reúne-se a Comissão Permanente da Assembleia da República, com o propósito de marcar a primeira Sessão Plenária da próxima legislatura. Esta responsabilidade está nas mãos do ainda presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, vice-presidentes e um deputado de cada partido com assento parlamentar.

A publicação dos resultados oficiais das eleições, em Diário da República, deverá ocorrer depois de 28 de março. Mal sejam oficializados, começa o prazo de três dias para que a Assembleia da República reúna.

Dado que dia 29 é feriado (sexta-feira antes da Páscoa), o primeiro plenário da XVI legislatura poderá realizar-se apenas na primeira semana de abril.

Se alguma coisa correr mal, se Luís Montenegro não conseguir fazer passar o Orçamento do Estado para 2025 ou se for aprovada uma moção de rejeição, por exemplo, pode voltar à estaca zero.

O Presidente da República não pode dissolver o Governo e convocar novas eleições legislativas até 10 de setembro. Se tal acontecesse, as novas eleições ocorreriam em meados de novembro. (As regras ditam: devem passar pelo menos 55 dias entre o anúncio de eleições e a sua realização.)

Cinco cenários (mais ou menos prováveis)

Com o crescimento do Chega, os cenários de governação são complicados e instáveis – tanto à esquerda como à direita -, salvo uma exceção.

  • Partido mais votado, Governo indigitado

Sem olhar a possíveis coligações, Marcelo dá posse à AD. Este é o cenário mais provável. O Presidente da República irá indigitar o vencedor, “independentemente das maiorias que se puderem formar”, disse fonte de Belém ao Expresso, ainda este fim de semana.

A AD, contudo, não tem maioria. Elegeu 79 deputados apenas (faltam os assentos dos emigrantes), muito abaixo dos 116 necessários.

  • Entendimento à direita (com a IL)

O entendimento da AD com a Iniciativa Liberal (IL) foi um dos cenários admitidos por Luís Montenegro, nos últimos meses. Rui Rocha também falou abertamente sobre essa possibilidade e na noite eleitoral reafirmou disponibilidade para uma "governação estável".

Ainda assim, mesmo juntos, AD e IL não têm maioria parlamentar.

  • Governo AD com o Chega (inclusive)

Luís Montenegro fez campanha a dizer “não é não” quanto a entendimentos com o Chega. Mas sem o partido de André Ventura será impossível à direita formar uma maioria parlamentar.

Este cenário – na teoria – não é do agrado do Presidente da República. Fonte de Belém disse ao Expresso que Marcelo “tudo fará para evitar o Chega no Governo”.

  • Nova geringonça?

O líder socialista, Pedro Nuno Santos, pode chegar a um entendimento – no papel – com os antigos parceiros de esquerda, Bloco de Esquerda e CDU, assim como com o Livre e o PAN. Foi um dos cenários mais debatidos durante o período pré-eleições.

Mesmo assim, não existirá uma maioria parlamentar. O líder do PS já disse que será oposição, mas PS e partidos à esquerda (CDU, BE, PAN, e Livre) têm mais deputados que AD e IL juntas.

  • Moção de rejeição? Repetição de 2015

Marcelo Rebelo de Sousa pode indigitar Luís Montenegro como primeiro-ministro, convidá-lo a formar Governo. No Parlamento, contudo, o PS pode depois avançar com uma moção de rejeição (assim como António Costa fez com Pedro Passos Coelho), e, com o apoio dos partidos da esquerda, fazê-lo cair.

Há, em todo o caso, um elemento a ter em conta: o Chega. Apenas se o partido de André Ventura votar ao lado dos partidos da esquerda ou, pelo menos, abstenha-se é que este cenário pode acontecer.

No rescaldo da noite eleitoral, o líder do PSD aflorou esse cenário e disse esperar que PS e Chega não façam uma "coligação negativa" para dinamitar o seu Governo.

Comentários
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  • José J C Cruz Pinto
    16 mar, 2024 Ílhavo 10:45
    Mais uma vez: que é dos meus (salvo erro) três comentários a esta notícia? Ou terei que erguer uma cerca sanitária à Rádio Renascença por manifesta censura anti-democrática, para além da que ergui e manterei ao "Dito- Cujo Partido da Sem-Vergonha Transbordante"?
  • Sara
    11 mar, 2024 Lisboa 19:58
    Pois é , a partida todos nós já sabemos que isto não vai dar em nada, a ad.diz que não precisa do chega, e o ps não aprova orçamentos, então vão prolongar isto até quando, parece que agora os partidos vão receber um dinheiro, aguentarem se uns meses e quando for a altura para aprovar o orçamento, marca se as eleições?mais do mesmo, será?por que não marcar já eleições, saber de fato as intenções, parece mais do mesmo, tudo a esfregar a mãos, sr presidente, faço o favor de fazer alguma coisa
  • Anastácio José Marti
    11 mar, 2024 Lisboa 09:15
    O calendário de Marcelo no curto prazo será aquele que ele deu provas de nunca saber preparar e por isso tem o que merece, mal dos portugueses que continuarão sem saber se o país continuará ou não a fingir ter um Governo, que nos prove querer e saber tirar da pobreza e da miséria a enorme percentagem que foi ano após ano empurrada para esta triste mas real situação económica por quem nos fingiu governar e por isso teve igualmente a derrota que teve nas urnas após terem esbanjado uma maioria absoluta que pediram aos portugueses mas que nunca a souberam usar em desenvolvimento do país e de uma população que aguarda há meio século, melhores condições de vida, de habitabilidade e de dignidade humana, não só nos hospitais para quem tem necessidade de a eles recorrerem, como para com os sem abrigo que desde sempre merecem deixar de ser uma das imagens pobres deste triste e subdesenvolvido país de uma União Europeia onde vergonhosamente continuam a existir países ricos e pobres como se não se tratasse da uma única União.

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