09 mai, 2019
Hoje é Dia da Europa, comemorando a proposta feita em 9 de maio de 1950 pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Schuman, de criar a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Esta Comunidade iria integrar, entre outros, dois países inimigos, a Alemanha e a França, que se tinham guerreado três vezes nos anteriores 80 anos, nas duas últimas provocando guerras mundiais. O essencial, para Schuman, era consolidar a paz na Europa, apenas cinco anos após o fim da II guerra mundial.
Esse grande objetivo foi alcançado pela integração europeia, algo que por vezes se esquece. Entretanto a Europa comunitária foi avançando e alargou-se a muitos outros países. Nos últimos anos, porém, a UE entrou numa crise em várias frentes, desde a imigração ao Brexit.
Uma das raízes dessa crise foi o colapso do comunismo. Com o fim da guerra fria desapareceu na Europa ocidental o receio de uma invasão soviética; até aí e desde o fim da II guerra mundial a URSS controlava vários países da Europa de Leste. O receio de invasão funcionava como um fator de unidade dos Estados membros da CEE, depois UE. A UE alargou-se, com a adesão de muitos daqueles países de Leste. Naturalmente, numa União com tantos Estados membros e sem “inimigo”, os desacordos internos aumentaram.
O mais grave desses desacordos domina as eleições para o Parlamento Europeu (PE). Em jogo estão valores de civilização até há pouco considerados comuns e fundamentais na UE, mas que vários Estados membros deixaram de respeitar: fecham as portas à imigração, o poder político interfere na justiça e certas liberdades, como a de expressão, estão ameaçadas.
O primeiro-ministro da Hungria, V. Orbán, que se orgulha de ter uma “democracia iliberal”, acaba de anunciar que não votará em Manfred Weber, candidato do Partido Popular Europeu, de centro-direita, a presidente da Comissão Europeia (apesar de Weber ter tratado a “iliberal” Hungria com benevolência escusada). A Hungria vai, assim, juntar-se ao grupo de partidos eurocéticos que se candidatam ao PE, liderados pelo pseudonacionalista Salvini, o mais poderoso ministro do governo italiano. “Se na Áustria os partidos de centro-direita cooperam com os da direita patriótica, porque é que isso não pode acontecerão nível europeu?”, perguntou Orbán.
Espero que a direita democrática não acolha a direita dita “patriótica”, uma designação para disfarçar que se trata de extrema-direita populista, xenófoba, autoritária. E abençoada por Trump, cujo ex-conselheiro e ideólogo Steve Bannon está dedicado a tempo inteiro a destruir a UE por dentro, agrupando os partidos eurocéticos.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus