11 mar, 2019
Na quinta-feira passada, o Banco Central Europeu (BCE) surpreendeu. Algo nada habitual no BCE, que cultiva normalmente a política de anunciar com larga antecipação as suas decisões.
Draghi deixará em Outubro de liderar o BCE, o que talvez tenha influenciado as novidades. Mas é de sublinhar que estas foram aprovadas pelos membros geralmente menos favoráveis a estímulos do banco central à economia, como o governador do Bundesbank, Jens Weidmann, e o governador do banco central holandês, Klas Knot. O que torna provável que as medidas agora tomadas não sejam revertidas depois da saída de Draghi.
Basicamente, são duas as medidas anunciadas. A primeira é manter as taxas de juro do BCE ao nível atual (baixíssimo) pelo menos até ao final do corrente ano, quando antes se previa mantê-las só até ao verão. A outra decisão foi lançar um novo programa de financiamento barato do BCE aos bancos da zona euro, até março de 2021, de maneira a que esses bancos possam aumentar o seu crédito à economia. Não confundir com o programa de compra de títulos da dívida, que tão importante foi para Portugal; esse programa vai mesmo acabar, como estava previsto.
Os anúncios de Draghi reverteram o pessimismo sobre o crescimento económico europeu a curto e médio prazo? A julgar pelo que se passou nas bolsas, que caíram, foi o contrário que se viu. O inesperado lançamento destas medidas foi encarado como um sinal de que o BCE está seriamente preocupado com o abrandamento económico na zona euro. E, de facto, o BCE reviu em baixa – para apenas 1,1% - a estimativa da taxa de crescimento do PIB na zona euro em 2019.
Mas são medidas positivas, que ajudarão a moderar a travagem no crescimento da economia da zona euro. E Portugal depende muito desse crescimento – seja nas exportações, que já sentem os efeitos negativos desse abrandamento, seja também no cumprimento das metas orçamentais da moeda única com um PIB em desaceleração.
Mais uma vez – agora, certamente a última – Mario Draghi, considerado um “falcão” antes de presidir ao BCE (2012), mostrou ser quem salva o euro. Os governos, nomeadamente o alemão e o holandês, continuam a ignorar a necessidade que sente a economia da zona euro de políticas orçamentais menos restritivas, da parte de quem tem condições para o fazer.
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