16 out, 2018 • André Rodrigues , Paulo Teixeira (sonorização)
Se os números contam histórias, estes números contam a história de uma comunidade piscatória. Não há acidente com embarcações de pesca que não tenha gente das Caxinas ou da Póvoa de Varzim. Haverá, porventura, poucas famílias nestas comunidades piscatórias que não tenham pelo menos uma história de alguém que morreu no mar.
Esta segunda-feira voltou a ser um daqueles dias. O ‘Mestre Silva’, um pesqueiro da Póvoa de Varzim, naufragou ao largo de Espinho com cinco tripulantes a bordo.
Vale a pena ter uma ideia da dimensão deste fenómeno recorrente. Em janeiro de 2007, o jornal "Público" fixava em 76 o números de pescadores das Caxinas que morreram nos 30 anos anteriores. Nos 11 anos praticamente completos desde essa altura não houve um único sem pelo menos uma má notícia.
Mas o que fazer quando sair para o mar é a única maneira de garantir o sustento? Para um pescador, é praticamente imperceptível a linha que o separa entre a necessidade de sobreviver e a morte. Entre ambas, a diferença tem um nome. Chama-se coragem.
Os dados mais recentes disponibilizados pelo Gabinete de Investigação de Acidentes Marítimos (GAMA) revelam que no ano passado morreram 13 pessoas em acidentes com embarcações, cinco delas eram embarcações de pesca.
Foram registadas 240 ocorrências de incidentes. Das 30 classificadas como muito graves, três em cada cinco referem-se à atividade da pesca. E das 29 embarcações perdidas em 2017, 20 operavam no setor das pescas.
Se estes números o deixam impressionado, é bem possível que a 31 de dezembro deste ano a estatística seja ainda mais dramática. Concluída a 41.ª semana do ano no passado domingo, o GAMA já registou um total de 200 notificações de incidentes com embarcações, de que resultaram 19 vítimas mortais e 89 feridos. E ainda faltam 11 semanas para o ano terminar.