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Nasceram na era das tecnologias de informação, são mais práticos e mobilizam-se por causas. Até dispensam o carro e a casa, também porque não têm grandes salários para pagá-los, mas arriscam ter o seu próprio negócio. Como podemos ajudá-los? Quais os medos que enfrentam? Que tal começarmos por ouvi-los? "Geração Z" é um podcast quinzenal, publicado à quarta-feira, às 18h, da autoria do jornalista Alexandre Abrantes Neves. Esta é uma parceria Renascença/Euranet Plus.
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A Europa é para todos? "É preciso mais investimento para as migrações"
Ouça aqui o episódio desta semana. Foto: Ciro Fusco/EPA

Geração Z

A Europa é para todos? "É preciso mais investimento para as migrações"

24 abr, 2024 • Alexandre Abrantes Neves


A União Europeia não está a olhar para o problema da imigração da melhor forma, mas também "há muito a fazer ainda" pelos jovens mais desfavorecidos e pela transparência. Neste episódio, juntamos dois europeístas e lançamos a pergunta: a Europa estará a trabalhar para todos?

Bruxelas só vai conseguir resolver a crise migratória se alocar investimento para reduzir as desigualdades nos países periféricos à União Europeia. O apelo é feito em conjunto pelos dois convidados do episódio desta semana do Geração Z da Renascença e da EuranetPlus.

David Ferreira da Silva, antigo assessor no Parlamento Europeu, duvida que o Pacto das Migrações – aprovado no hemiciclo este mês – resolva de vez o problema dos fluxos migratórios, até porque “daqui a uns tempos as zonas mais críticas podem ser outras”.

O criador do projeto Praça do Luxemburgo sugere uma visão mais abrangente do problema e que inclua os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente.

“Este problema só se vai resolver quando houver uma maior capacidade de investir na democratização, capacidade económica e diminuição das desigualdades nos países periféricos da União Europeia. E também quando se puder acabar com o flagelo que está a ser a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente”, defende.

Maria Luísa Moreira, consultora em assuntos europeus e cooperação internacional, alinha-se nesta posição, mas deixa um aviso à União Europeia: a ajuda humanitária não pode mudar consoante o conflito.

Temos de acabar com os dois pesos e duas medidas. Fomos muito rápidos a acolher refugiados ucranianos, mas o mesmo não se passa com outras pessoas

“Temos de acabar com os dois pesos e duas medidas da nossa política externa. Nós fomos muito rápidos - e muito bem - a acolher refugiados ucranianos, mas o mesmo não se verifica com outro tipo de refugiados, [no Médio Oriente] e (...) mesmo com a vergonha que é a quantidade de gente que morre a tentar chegar à Grécia e Itália e por aí”, detalha.

Em Bruxelas, Operação Influencer seria "soft"

Neste episódio do Geração Z, os convidados falam ainda do que falta fazer para aumentar a confiança dos cidadãos nas instituições europeias, nomeadamente em matéria de transparência.

Atualmente, os eurodeputados não são obrigados, como nos outros órgãos europeus, a inserir no Registo de Transparência todas as informações relacionadas com as reuniões de “lobbying” onde participem.

Maria Luísa Moreira recorda que o “lobbying é uma atividade saudável em democracia”, mas pede regras mais rigorosas e iguais para todos, até para afastar “a desconfiança nas instituições europeias”

David Ferreira da Silva concorda que é “normal” que certos grupos tentem “influenciar positivamente” os decisores políticos e, olhando para o contexto nacional, até vê semelhanças na Operação Influencer.

É ter maior sensibilidade em relação às necessidades sociais no programa Erasmus – por exemplo, [criar] uma tarifa solidária

Este especialista em comunicação política considera que, em Bruxelas, o envolvimento do ex-ministro João Galamba seria “bastante soft e completamente normal” e que toda a polémica “só revela as percepções das pessoas em relação a estas situações”.

Erasmus pode perder com "economia de guerra"

À mesa do Geração Z, os dois convidados mostraram-se ainda preocupados com o facto de as iniciativas europeias para a juventude não chegarem a todo o tipo de jovens.

David Ferreira da Silva critica a União Europeia por ter “estagnado” o programa Erasmus e pede mais investimento até para introduzir uma vertente solidária e social no programa à qual as bolsas de financiamento para os alunos ainda não respondem.

“O antigo programa Juventude em Ação, para associações e debate cultural, está agora dentro do programa Erasmus. Por isso, é preciso injetar mais dinheiro, mas também ter maior sensibilidade em relação às necessidades sociais – por exemplo, [criar] uma tarifa solidária”, defende.

Maria Luísa Moreira afirma que esta revisão do financiamento já devia ter sido feita, até porque nos próximos tempos as prioridades financeiras de Bruxelas podem mudar.

“Eu acho que nos aproximamos de uma economia de guerra a nível da União Europeia e, portanto, isso há-de afetar tudo o que está disponível e o que deixa de estar disponível para programas mais ‘fofinhos’ e académicos”, remata.

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