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100 anos

PCP "não é de aviário" e "vai viver o seu segundo centenário"

06 mar, 2021 - 00:20 • Susana Madureira Martins

Comunistas celebram este sábado cem anos de existência, com diversas iniciativas um pouco por todo o país, tendo como desafios imediatos as eleições autárquicas e o combate à pandemia e com a extrema-direita na mira.

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São 100 anos redondinhos que o PCP celebra este sábado e, entre risos, Domingos Abrantes, ex-dirigente do partido e conselheiro de Estado, diz à Renascença que "com grande probabilidade" não estará cá "de certeza para assistir ao segundo centenário do PCP", mas assume-se convicto que "viva o tempo que viver, o PCP vai viver o seu segundo centenário".

Aos 85 anos, Domingos Abrantes, que foi preso e torturado durante o Estado Novo, diz que a explicação para a longevidade do PCP é "muito simples" e que "qualquer democrata, qualquer antifascista se devia interrogar porque é que este partido tem cem anos e nenhum outro tem".

O ex-dirigente comunista explica que este foi um partido que "esteve muitas vezes quase a desaparecer por via da repressão, mas sempre se ergueu porque não é um partido de aviário”.

“É um partido que nasceu de uma necessidade do povo e dos trabalhadores e, enquanto houver exploração, é nossa convicção que os comunistas serão necessários e indispensáveis, sejam quais sejam os resultados eleitorais", acrescenta.

Ou seja, na clandestinidade ou com representação parlamentar, os comunistas dizem-se convictos que o partido está para durar, porque os problemas que estiveram na origem da sua fundação não estão resolvidos e, "portanto, nos próximos quatro, seis, 10 anos que aí vêm, sejam quaisquer que sejam as dificuldades, este partido irá responder e estará à altura das suas responsabilidades", garante Domingos Abrantes.

Com metade da idade, aos 41 anos, o líder parlamentar comunista João Oliveira também espera que o partido chegue ao segundo centenário e diz mesmo que "com a experiência" que o PCP leva os militantes estão "preparados para que os próximos 100 sejam ainda melhores do que estes".

Preparados não, "preparadíssimos", reforça o deputado em conversa com a Renascença, porque há esse lastro de "momentos decisivos como foram os momentos dos 48 anos de ditadura fascista em Portugal, também a experiência que temos após o 25 de abril".

Neste ‘pingue-pongue’ geracional entre Domingos Abrantes e João Oliveira, o conselheiro de Estado diz que o legado que deixa ao partido e aos jovens comunistas "e aos que vierem, é que não se pode ser comunista se se quer resultados imediatos, trata-se de uma luta prolongada, difícil".

Abrantes, numa visão algo azeda, refere que muitos dos comunistas, ele incluído, não verão "de certeza" o ideal pelo qual sempre lutou, mas garante que "no tempo que cá estiver e quando for" parte na convicção que deu a "contribuição para que essa sociedade exista".

Para se ser comunista "há condições fundamentais", avisa o ex-dirigente do partido. É preciso "firmeza de convicções, compreensão da justeza dos ideais que abraçou e, naturalmente, não estar à espera de um fruto que pode não vir a comer ou a viver".

A geração comunista mais jovem parece ter essa noção e João Oliveira assume que os primeiros cinquenta anos do partido são uma espécie de "base de aprendizagem e de enquadramento, às vezes até de relativização dos problemas".

O líder parlamentar reconhece que "às vezes, em função da vida e do andamento imediato dos problemas imediatos que vão surgindo", os comunistas tendem "a relativizar" e a "olhar para as coisas com mais confiança e solidez as respostas que é preciso encontrar pondo as coisas em perspetiva".

"O futuro tem partido"

É a frase que se pode ler nos milhares de cartazes que nos últimos meses o PCP espalhou pelo país. É "muito importante", afirma Armindo Miranda, membro da comissão política do comité central do partido, "porque significa que no futuro o Partido Comunista lá estará, e se possível com mais força e mais condições políticas para desempenhar o seu papel no futuro em Portugal, como desempenhou nos cem anos que se assinalam agora".

Na conversa que manteve com a Renascença, este peso pesado do PCP recorda esse partido que "nasceu das fábricas", numa altura em que "por toda a Europa, América Latina e não só" eram criados muitos Partidos Comunistas. “Eram os ventos da Revolução de Outubro, que ajudavam naturalmente a que isso acontecesse, mas quase todos os Partidos Comunistas que foram criados foram-no pela divisão dos Partidos Sociais Democratas", explica.

Este PC, o português que agora completa cem anos, "nasceu das fábricas, junto dos operários, junto dos trabalhadores, foi daí" e Armindo Miranda garante que o partido "mantém esse ADN", reforçando: “O que é novo são as causas pelas quais nós lutamos, o que é velho é aquilo que é dito e considerado como moderno".

Para o dirigente comunista o velho é "a exploração e a opressão" e o novo é o "fim da exploração do homem pelo homem e o fim da opressão. Isto sim, com todas liberdades fundamentais para o povo, liberdade religiosa, liberdade de informação, criação de partidos políticos, tudo, isto é o novo".

Como estes são, na verdade, problemas tão velhos como o mundo, a convicção dos comunistas é que enquanto existirem dramas sociais "este partido no futuro tem o futuro garantido, sim, porque estará na luta como sempre esteve profundamente ligado aos trabalhadores e ao povo", conclui este dirigente nacional.

Os comunistas ambicionam pelo "prestígio social" do seu partido, que Armindo Miranda acredita que que "vai manter-se e alargar-se e isso há de ter uma altura em que se traduz também numa influência eleitoral e política". E a este tema da influência eleitoral e política do PCP voltaremos neste texto.

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