25 jan, 2021 - 16:53 • Sofia Freitas Moreira
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Numa altura em que o país atravessa o período mais desafiante da pandemia de Covid-19 até à data, foi criada uma petição, que já conta com quase 3.500 assinaturas e que apela à “implementação de um sistema de testagem rápida com testes de antigénio a vigorar em concelhos acima de uma determinada prevalência de infetados”.
Em declarações à Renascença, Pedro Araújo, um empresário portuense e principal impulsionador da iniciativa, explica que a ideia passa pela execução de um teste semanal de antigénio por residente assintomático em estruturas existentes, como os laboratórios e os centros de testagem, “podendo ainda ser considerada a rede de farmácias para o efeito, oferecendo vantagens pela proximidade que oferecem à população”.
Ao invés de se confinar as pessoas, indica, “estas podem continuar a circular na posse de um teste negativo, não obstante a imperiosa manutenção de todos os cuidados sanitários, como o uso de máscara e o distanciamento social”.
A petição é apoiada por personalidades como o pneumologista Álvaro Moreira da Silva, o médico especialista de saúde pública Bernardo Gomes, o médico intensivista Gustavo Carona e o médico radiologista Ricardo Campos Costa.
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Para além da petição, a organização enviou uma carta aberta, no dia 13 de janeiro, ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e aos restantes membros do Governo. A organização obteve resposta no dia 20 de janeiro, a dizer que a carta foi reencaminhada para o gabinete da ministra da Saúde, não tendo obtido mais respostas até à data.
A carta foi recebida pela Convenção Nacional da Saúde, que se “mostrou muito interessada no plano apresentado”, tendo até enviado a mesma para os órgãos de comunicação social, através de um comunicado a apelar à assinatura da petição em causa.
Assim que a prevalência de infetados no concelho ficasse abaixo de um nível a definir, deixaria de ser pedido o relatório de teste para circular livremente, explica o grupo.
“O sistema deveria incluir crianças a partir dos oito anos e todas as restantes pessoas que circulassem na rua”, lê-se no texto que acompanha a petição online. “Relativamente às pessoas com sintomas, nada seria alterado com esta proposta e elas continuariam a ser encaminhadas para o rastreio epidemiológico existente”.
O recurso a laboratórios, centros de testagem e farmácias, segundo o grupo, tornaria possível fazer mais de um milhão de testes por semana, podendo chegar a dois milhões de testes.
“Trata-se de aumentar os 60 mil testes diários que temos hoje para 250 mil. Parece difícil, mas não nos podemos esquecer que estes testes são muito mais simples de executar e de processar. E, note-se, o entrave existente hoje não é a testagem, mas sim o serviço telefónico e o rastreio epidemiológico”, sublinha a organização.
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A crítica que se faz habitualmente a estes testes é a sua baixa sensibilidade para doentes com poucos sintomas ou assintomáticos, isto é, o facto de apresentarem um elevado número de falsos negativos.
No entanto, de acordo com a petição, o “risco é desde logo minimizado com a testagem semanal, pois essa frequência acaba por garantir que os infetados são detetados na semana seguinte, não esquecendo que, apesar de terem sintomas, muitas pessoas acabam por desvalorizá-los e não tomam normalmente a iniciativa de se testarem com a rapidez que se impõe. Esse deixaria de ser um problema.”
A iniciativa afirma que os testes de antigénio apresentam várias vantagens: “são mais fáceis de administrar, são rápidos (15 minutos para dar resultado) e são relativamente baratos”.
Estes testes começam a detetar a infeção três a cinco dias após o contágio, isto é, cerca de dois dias depois do método PCR. “Dando positivo, o teste pode ser imediatamente reconfirmado e depois o paciente encaminhado para o rastreio epidemiológico em vigor. Dando negativo, a pessoa mantém a sua vida normal, voltando a ser testada na semana seguinte, até à prevalência do concelho descer”.
Os testes que se encontram no mercado apresentam uma sensibilidade média de 97% para ciclos de PCR Ct[20;30] e especificidade de 99,9%. “Mesmo que a sensibilidade para assintomáticos e pauci-sintomáticos desça para 60%, mantemos uma enorme capacidade semanal de deteção”, lê-se na petição.
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Pedro Araújo relembra que “será certamente por ter chegado à mesma conclusão que o Governo decidiu iniciar a testagem em escolas, seguindo exemplos como a Inglaterra que, em poucas semanas, detetou e isolou 37 mil infetados assintomáticos, com um âmbito bem mais alargado”.
Num exemplo mais próximo, em Portugal, a vila de Sernancelhe “resolveu testar quase toda a população, tendo testado aproximadamente 3.350 dos seus 5.671 habitantes, detetando 156 infetados, ou seja, 4,7% dos testes”.
Quanto à capacidade financeira, os testes de antigénio comprados em massa pelo Estado rondarão os cinco e os sete euros por unidade. “Assumindo que são testadas um milhão de pessoas na primeira semana (140 mil por dia) e só 100 mil na décima semana (testes a decrescerem linearmente com a redução da prevalência média), o custo total, já contabilizando o serviço, andará entre os 50 e os 70 milhões de euros”, avança o grupo.
“É um valor elevado, mas incomparavelmente menor do que ter a economia emperrada durante meses devido a confinamentos e a medidas tão prejudicais como o fecho de escolas. Em combinação com outras medidas muito menos severas, este plano permitiria salvar milhares de vidas e evitar muitos mais doentes ainda com Covid-19 de longa duração. É assim um investimento com retorno garantido”.
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O grupo admite que a iniciativa requer “coragem política” e a criação de um plano robusto em torno dos testes. Apesar de saber que a ideia é ambiciosa, não a considera “de forma alguma impossível”.
“Temos esperança que Portugal, um país pequeno e com uma só fronteira, consiga dar um exemplo numa iniciativa que pode trazer grandes benefícios à custa de um risco muito baixo”, lê-se no texto. “O objetivo não é rastrear contactos secundários dos infetados assintomáticos que se encontre. O objetivo é sim o de esses infetados serem imediatamente isolados com um teste positivo”.
Pedro Araújo diz estar convicto do impacto substancial que a iniciativa pode ter. “Trata-se da sociedade civil a querer ter uma palavra, não reivindicações gratuitas e inconsequentes, mas realmente para ajudar”.
“O rastreio epidemiológico eficaz só é verdadeiramente possível quando baixarmos dos mil casos diários. Os testes rápidos têm de ser a vacina do povo até à primavera”, remata.
[notícia corrigida - Ricardo Campos Costa, um dos subscritores da petição, é médico radiologista e não o diretor clínico da Unilabs, com o mesmo nome]