12 dez, 2023 - 18:59 • Pedro Mesquita , com redação
Lacerda Sales, antigo secretário de Estado da Saúde, garante em declarações exclusivas à Renascença que não marcou a consulta no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para as gémeas luso-brasileiras, tratadas no Hospital de Santa Maria com um medicamento inovador, no valor de quatro milhões de euros.
O ex-governante diz ainda que nunca falou do assunto com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nem com o primeiro-ministro, António Costa.
Já sobre uma reunião com Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, Lacerda Sales diz que não se recorda e aguarda documentação para se pronunciar.
Sobre o inquérito aberto pela Ordem dos Médicos, o antigo secretário de Estado acusa o bastonário de querer "cinco minutos de fama" e fala numa "inqualificável intromissão na atividade do órgão de soberania".
Como reage a este inquérito da Ordem dos Médicos?
Relativamente ao processo de inquérito promovido pela Ordem dos Médicos, em que o bastonário Dr. Carlos Cortes pretende que seja apurada, entre outros, a minha atuação enquanto secretário de Estado, eu diria que mais me parece uma oportunidade para o Dr. Carlos Cortes usufruir dos seus cinco minutos de atenção e fama por parte da comunicação social
É um inquérito na sua condição de antigo secretário de Estado, mas também de médico…
Pois, mas além deste alcance dos cinco minutos de fama não se depreende qualquer outro alcance deste processo de inquérito, uma vez que à data qualquer que tenha sido a minha atuação não o foi enquanto médico, mas enquanto secretário de Estado. Por isso, eu diria que estamos perante uma sindicância da Ordem dos Médicos a um órgão de soberania do qual fiz parte, com muito orgulho, e que me parece uma inqualificável intromissão na atividade do órgão de soberania por parte da Ordem dos Médicos. Como sempre, cá estarei disponível para responder perante qualquer órgão, por isso, essa minha disponibilidade significa a minha tranquilidade de consciência.
Já tem uma memória daquilo que se passou? Marcou ou não a primeira consulta das gémeas?
Repito aquilo que já disse. Nenhum secretário de Estado nem ninguém tem o poder para marcar uma consulta no Serviço Nacional de Saúde, nem para poder influenciar ou violar a consciência ou a autonomia de um médico e, por isso, eu não marquei essa consulta no Serviço Nacional de Saúde.
Já se lembra se se reuniu com o Dr. Nuno Rebelo de Sousa, o filho do Presidente da República? Falou alguma vez do caso das gémeas com o Presidente da República e o primeiro-ministro, António Costa, estava a par?
Não, nunca falei com o senhor Presidente da República sobre este tema e o Dr. António Costa não estará, com certeza, a par de tudo isto.
Reuniu-se com o filho do Presidente da República?
Como sabe, eu neste momento para poder falar será em sede própria e em tempo próprio, e por uma razão muito simples: é que eu neste momento continuo sem acesso à documentação, que pedi no dia 6 e voltei a reiterar ontem ao Ministério da Saúde. Por isso, não posso ir mais além nas explicações, porque não tenho ainda essa documentação.
Mas sabe o que fez ou não fez…
Durante estes quatro anos, passei dois anos e meio de pandemia, com horas de trabalho infinitas, onde reuni com muitas pessoas, tomámos muitas decisões e, por isso, eu tenho mesmo de esperar por esta documentação para poder reconduzir a fita do tempo. Em relação à questão do processo no Ministério Público e da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) , decorre contra desconhecidos e, se eu for notificado, falarei em sede própria, DIAP e IGAS, assim como em qualquer outra sede relativamente ao inquérito da Ordem dos Médicos.
Apesar de ainda não ter a fita do tempo, sente-se de consciência tranquila?
Com a consciência muito tranquila, mas entendo que devo sempre falar com factos.